Cultura Rock in Rio

Rock in Rio: artistas portugueses fazem dobradinhas com brasileiros em shows especiais

Lisboa e Rio verão shows de Capitão Fausto com O Terno, Blaya com Lellezinha, Agir com Rael e Carolina Deslandes com Melim
O grupo português de indie rock Capitão Fausto Foto: Divulgação
O grupo português de indie rock Capitão Fausto Foto: Divulgação

RIO - Para além do novo fado, as interações entre a música de Portugal e a do Brasil seguem a toda este ano pelas mãos do Rock in Rio. Nos 15 anos da primeira edição portuguesa do festival, o idealizador dos palcos Sunset (Rio) e Music Valley (Lisboa), Zé Ricardo, anuncia uma série de shows com parcerias entre artistas brasileiros e lusitanos.

A festa começa com uma série de eventos para convidados em Lisboa. Dia 11 de abril, os ídolos do indie português Capitão Fausto recebem os paulistanos d’O Terno. Depois, no dia 30, a estrela do funk lusitano Blaya apresenta-se com Lellezinha, do Dream Team do Passinho. Em 23 de maio, o rapper Agir recebe o mano Rael para uma dobradinha hip hop. E no dia 28, é a vez de Carolina Deslandes, destaque do pop-folk de Portugal, juntar forças à banda niteroiense Melim.

— Desde 2011 que venho fazendo essa conexão, tentando acabar com os estereótipos que existem no Brasil sobre a música portuguesa — conta Zé Ricardo. — Este ano, queria o Rock in Rio de Lisboa e do Rio fossem o espelho um do outro.

Daí que os encontros se repetirão na edição carioca do festival, no palco Sunset: Blaya e Lellezinha no dia 27 de setembro, Agir e Rael (mais Rincon Sapiência) em 3 de outubro e Capitão Fausto/Terno e Carolina Deslandes/Melim no dia 6.

Das parcerias, a mais bem encaminhada até agora é a dos dois grupos de rock. Eles se encontraram pessoalmente em São Paulo, no fim de 2017, quando o Capitão Fausto foi gravar o seu quarto álbum, “A invenção do dia claro”, lançado há pouco menos de duas semanas.

— Nós conhecíamos O Terno pela internet e agora, sempre que eles vêm cá, nós nos encontramos e tocamos juntos no nosso estúdio. Nos pareceu uma ideia interessante aproveitar essa nossa amizade para fazer música juntos — diz Tomás Wallenstein, guitarrista e vocalista do Capitão Fausto.

Localizado dentro dos limites do indie rock dos anos 2000, mas com influências de “um bocadinho de tudo” (“Quanto mais, melhor. O truque é fazer uma filtragem certa”, ensina Tomás), o Capitão Fausto aproveitou para incluir até um grupo de choro no novo disco.

— A partir do momento em que resolvemos que ele ia ser gravado em São Paulo, começamos a imaginá-lo com a inclusão de elementos mais tradicionais da música brasileira — explica o cantor. — Não queríamos fazer uma apropriação cultural e nem descaracterizar a nossa música, mas enriquecê-la histórica e musicalmente.

Nascida no Brasil, em Fortaleza, e batizada de Karla Rodrigues , Blaya foi ainda bem pequena para Portugal, onde o pai foi jogar futebol. Ex-dançarina do grupo lisboeta de kuduro Buraka Som Sistema (com o qual se apresentou no Sunset do Rock in Rio em 2011), ela agora volta com o status de estrela portuguesa do funk carioca: ano passado, em consagradora apresentação no Rock in Rio Lisboa, Anitta cantou o seu maior hit, “Faz gostoso”.

— Quando faço minhas músicas, penso muito no meu público daqui, mas se elas chegam ao Brasil é uma mais-valia para mim — diz Blaya, que se viu recentemente no noticiário quando surgiram rumores de que Madonna, residente em Lisboa, iria gravar seu “Faz gostoso” com Anitta. — Eram tantos os rumores que isso acabou por quase virar verdade. Não conheço Madonna, apenas dancei uma vez para ela, quando estávamos no mesmo pub em Lisboa.

A cantora americana, por sinal, é tema de um sucesso do rapper Agir, “Vai Madonna!!!”, lançado ano passado.

— Ela não é uma crítica a Madonna, mas para os portugueses que abraçam muito mais o que vem de fora do que aquilo que têm aqui — ataca o músico, que já gravou com a brasileira Manu Gavassi e tem conexões com ninguém menos que Ivan Lins. — Ivan só não é meu tio de sangue porque não calhou de ser. Ele é amigo da minha família e já entrou até em um disco meu.

Aos 27 anos de idade, Carolina Deslandes é a grande novidade da escalação. A ex-skatista, cujo primeiro festival de rock da vida foi o Rock in Rio Lisboa de 2004, apresenta o delicado e acústico pop do álbum “Casa” (2018).

— Esse disco traz reflexos do que eu vivia à altura em que o gravei ( ela se preparava para ser mãe ) — conta Carolina, que é casada com Diogo Clemente, violonista e diretor musical da fadista Carminho. — Viemos de backgrounds diferentes mas somos muito fãs um do outro.