RIO — Palco tradicional de encontros e apresentações memoráveis do Rock in Rio em edições recentes, o Sunset anunciou nesta segunda-feira a programação completa de sua configuração mais “sunset” até hoje — em 2019, os shows serão às 15h30m, 17h, 19h e 21h, adentrando ainda mais a noite antes dominada pelo grandioso Palco Mundo.
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Com personalidade própria, moldada pelo diretor artístico Zé Ricardo desde 2008, quando estreou em Lisboa, o Sunset reforça em 2019 sua responsabilidade de trazer frescor ao line-up do Rock in Rio, dialogando diretamente com a produção musical contemporânea nacional e internacional. E, num momento especial em que a música negra — com o hip-hop na linha de frente — encanta críticos e domina paradas, é natural que a programação reflita esse protagonismo.
— Gosto de provocar discussões a partir da curadoria, mas sem levantar bandeiras. Não coloco uma artista no palco só porque é trans, por exemplo, mas porque tem talento pra caralho. Se não achar artista trans bom, não vou botar. A prioridade sempre será a música, mas, quando eu consigo construir um recorte musical poderoso com artistas que representam pautas além da música, é fantástico — afirma Zé, que exalta o momento do rap nacional por “se comunicar muito bem com os jovens ao juntar conteúdo e entretenimento”.
Pela primeira vez na história do festival, o Sunset ganha um dia — 27 de setembro, o de abertura — em que 100% das atrações são negras, começando com o encontro entre a carioca Lellêzinha e a portuguesa Blaya, passando pelo espetáculo de representatividade comandado pela rapper Karol Conka com a cantora trans Linn da Quebrada e a drag queen Gloria Groove, pelo bailão black “Boogie naipe” de Mano Brown, e encerrando com a dobradinha Seal e Xenia França.
Mano Brown, que fará sua estreia no festival recebendo Bootsy Collins, lenda do funk americano, ecoa o discurso de Zé:
— Os caras entenderam que o Brasil é um país muito grande, com muito potencial musical. Na real, demorou um pouco para esses grandes festivais entrarem no circuito. É uma honra fazer parte de um dia só com artistas negros no palco. Essa rapaziada está trabalhando forte, não estão lá por serem negros.
Depois de roubar (e empoderar) a cena em 2017, quando participou do show do grupo colombiano Bomba Estéreo no próprio Sunset, Karol Conká fez por merecer o upgrade e comandará o baile desta vez.
— A diversidade brasileira está aí para ser escancarada para todo mundo. É extremamente importante um festival do tamanho do Rock in Rio ajudar a mostrar isso — comemorou a curitibana, que levará ao Sunset o repertório do disco “Ambulante” (2018), além de atuar como mestre de cerimônia para as estreantes Linn e Gloria. — Além de talentosíssimas, elas têm mensagens para passar, têm consistência e argumentos para ajudarem na reeducação cultural da nossa sociedade.
Mas o hip-hop não ficará restrito ao primeiro dia de Rock in Rio. Em 3 de outubro, Emicida receberá no Sunset as gêmeas franco-cubanas Ibeyi às 19h, antes da apresentação batizada de “Hip Hop Hurricane” fechar o dia com nomes como Rincon Sapiência, Baco Exu do Blues, Rael e Agir ao som sinfônico da Nova Orquestra.
— A música que a gente faz tem essa linguagem digital, que produzimos nos estúdios, mas também muita musicalidade. A orquestra vai ajudar a colocar isso em evidência — comemora Rincon. — Um evento do tamanho do Rock in Rio te dá a oportunidade de trocar ideia com pessoas que talvez nunca tenham refletido sobre o que você fala, por não ter contato com o rap.
IZA & Alcione
Emicida, que dividiu o Sunset em 2017 com o americano Miguel, aproveitou para exaltar os encontros:
— Tem muita coisa pra gente aplaudir no nosso país, por isso o Sunset vem ganhando mais visibilidade e tem até roubado o protagonismo do Palco Mundo. Tem alguns encontros que só teve lá, como o Rael e Elza Soares. O show com as meninas do Ibeyi também é tipo raro.
Incansável, a rainha Elza também volta para o festival, lançando um disco no Palco Sunset e convidando As Bahias e a Cozinha Mineira, a cantora pop Kell Smith e a atriz e cantora Jéssica Ellen no dia 29 de setembro. Na mesma data, a carioca Iza, sensação na última edição ao dividir o microfone com CeeLo Green, receberá a diva Alcione.
— O encontro não tem que ser forçado só para manter o conceito do palco, ele tem que existir. A gente ficou meses falando do convidado ideal para a Iza, pensamos em Sean Paul, Damian Marley… Aí, quando mencionamos a Alcione, os dois se arrepiaram na hora. Iza é um poço de talento, e Alcione é uma das maiores cantoras do Brasil — comemora o diretor artístico. Veja abaixo a programação completa: