RIO — Neste ano, vai ser possível ir ao
Rock in Rio
para se isolar nos sons e imagens da natureza. Oi? É isso mesmo. Num festival que tem a tradição de reunir milhares de pessoas ávidas por ouvir música (alta), uma das grandes novidades desta edição, que começa no dia 27, é o espaço
Nave
, dedicado a fazer o público parar, ouvir o mundo ao redor e sentir a suspensão do tempo.
A megainstalação audiovisual e sensorial fica localizada na entrada do evento, e recria o que o planeta tem a oferecer de mais bonito e assustador: da diversidade das florestas à destruição causada por terremotos e vulcões em erupção. A experiência (ironicamente recriada por meio de tecnologia de ponta) impressiona.
Idealizada pelo curador
Marcello Dantas
(responsável por diversas exposições grandiosas,
como a de Ai Weiwei, atualmente no CCBB e no Paço Imperial
) a Nave tem 5 mil metros quadrados de projeções mapeadas que simulam diversos fenômenos naturais, remetendo a mutações pelas quais a Terra passou ao longo dos milênios.
Ao todo, 168 caixas de som espalhadas pelo Velódromo, que abriga o projeto, ajudam a construir a viagem sensorial e temporal.
— O espaço surgiu com a intenção de tocar as pessoas sobre a necessidade de construir um mundo melhor por meio de um recurso não necessariamente racional — explica
Roberta Medina
, vice-presidente do Rock in Rio.
A experiência na Nave demora quase 20 minutos e comporta 3 mil pessoas por vez — 500 no chão e 2.500 nas arquibancadas ao redor. São 14 sessões diárias, das 14h15 às 21h50.
Quem optar pelo chão vai encontrar um enorme terreno macio e pontuado por camas elásticas de quatro metros de diâmetro e nove pequenos morros, que ajudam o participante a ter uma visão melhor do lugar. Cinco pedras gigantes rodeiam o local.
Começa, então, o espetáculo, em que a narrativa desenha um mundo norteado por cinco movimentos — equilíbrio, aceleração, suspensão, reflexão e sincronização.
Sob os pés, a lava de vulcões, recriada por 31 projetores de alta definição, passa a ideia de um planeta em criação. Logo, o vermelho do fogo dá lugar a plantas e flores, enquanto sombras de pássaros azuis atravessam a tela na qual o público pisa.
Um terremoto estrondoso leva uma enxurrada de água a substituir o verde da floresta. Em seguida, somos levados ao espaço, com estrelas que brilham num momento e, no outro, movem-se na velocidade da luz.
— Hoje, existe um sentimento de assincronia: estamos sempre num outro lugar e tempo, seja por causa dos celulares, seja pela falta de pertencimento mesmo — diz Marcello Dantas, explicando como teve a ideia da instalação. — Talvez a melhor forma de ressincronizar com o mundo seja ouvindo as vozes matriciais daquilo que nos rodeia. E também suspendendo a gravidade.
Para fazer a tal suspensão de gravidade, as cinco pedras gigantes da Nave começam a flutuar, sem a ajuda aparente de cabos. Perguntado pelo mecanismo por trás do truque, Dantas fala em gás hélio liberado em quantidades precisas dentro das rochas, mas não entra em mais detalhes para “não estragar a mágica”.
A experiência culmina num show de luzes e batidas sonoras, como se o ambiente se transformasse numa enorme boate, ao mesmo tempo em que imagens de atrações do festival cantam uma composição de Zé Ricardo, curador do Palco Sunset. “O melhor vai começar”, diz a letra. Surge, por fim, a voz de
Fernanda Montenegro
pedindo aos participantes que dancem, sintam e sigam para um futuro melhor.