Cultura

RPM faz turnê sem Paulo Ricardo e cantor dispara: 'Eles não podem usar esse nome'

Banda que estourou nos anos 1980 com milhões de cópias vendidas e muitas idas e vindas está de volta, pela primeira vez sem o vocalista e baixista, em meio a uma disputa judicial
O grupo RPM Foto: Divulgação / Divulgação
O grupo RPM Foto: Divulgação / Divulgação

RIO — Banda de muitas idas e vindas — e milhões de discos vendidos — em seus 35 anos de história, o RPM chega ao Rio este mês, no dia 20, para um show na comemoração de 15 anos da Festa Ploc, no Circo Voador. E vem, pela primeira vez, sem o vocalista e baixista Paulo Ricardo. Em seu lugar, está agora o novato Dioy Pallone, escolhido pelos ex-companheiros no RPM — o tecladista Luiz Schiavon, o guitarrista Fernando Deluqui e o baterista Paulo P.A. Pagni — para continuar com a banda depois de uma briga judicial que deixou os músicos em lados opostos. Com apresentação do show solo “Sex on the beach” remarcada o dia 7 de maio no Teatro Riachuelo (ela iria acontecer esta terça, mas foi cancelada por causa das fortes chuvas que atingem o Rio), Paulo Ricardo lamenta:

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— Eu não chamaria o RPM de RPM. Eles não podem usar esse nome, mas enquanto não há uma decisão judicial final, estão usando. Quando vai ver um show dos ( Rolling ) Stones, você espera ver o ( Mick ) Jagger. Você não tem um Dire Straits sem o Mark Knopfler. Se você fizer um show dizendo que é o Police e não tiver o Sting, vão quebrar tudo. Um RPM sem mim é como um Secos & Molhados sem o Ney Matogrosso.

Do outro lado, Luiz Schiavon — que junto com Deluqui e P.A. luta na Justiça para ter direito ao nome RPM, em meio a acusações de que, por contrato assinado entre os quatro em 2007, esse nome deveria ser de todos eles, e não só do cantor — alega que Paulo abandonou a banda, depois de um último show em 2017, ainda com um contrato em vigência (o que o cantor e baixista nega).

— Tentamos contornar a situação, não teve jeito, e aí fomos obrigados a procurar a via judicial — argumenta o tecladista, que de comum acordo com os companheiros, decidiu seguir adiante com o RPM. — A gente está preparando essa volta há mais de um ano, demorou para selecionar o cara. O Dioy não é um substituto do Paulo, apesar de tocar baixo e cantar. Ele está dividindo a parte vocal com o Nando, que está se revelando como cantor. O Dioy é um excepcional baixista, a banda ganhou muito em performance musical.

O cantor Paulo Ricardo Foto: Isabella Pinheiro / Divulgação/Isabella Pinheiro
O cantor Paulo Ricardo Foto: Isabella Pinheiro / Divulgação/Isabella Pinheiro

Banda que estourou em 1986 com o disco “Rádio Pirata ao vivo” (mais de três milhões de cópias vendidas, um recorde ainda não batido pelo rock no país), o RPM no auge foi a beatlemania em versão brasileira — e, por isso, virou até tema de um programa “Globo Repórter”. Em 1989, o grupo se separou pela primeira vez, após lançar seu segundo álbum de estúdio, “RPM” (também conhecido como “Quatro Coiotes”). Em 1993, o vocalista e o guitarrista gravaram “Paulo Ricardo & RPM” (“Era meio RPM, o Deluqui estava comigo, mas não era o RPM”, justifica-se Paulo). Duas voltas oficiais da banda ocorreram entre 2002 e 2004 (originando o CD e DVD ao vivo “MTV RPM 2002”) e entre 2011 e 2017 (que rendeu o disco de inéditas “Elektra”, de 2011).

“Olhar 43”, “Louras geladas”, “Alvorada voraz”, “Revoluções por minuto”, “London London” (de Caetano Veloso) são hits do grupo, de seu período áureo, que nem Paulo Ricardo e nem o novo RPM deixam de executar em seus shows. Dioy, Schiavon, Deluqui e P.A., por sinal, já testaram seu espetáculo diante de públicos de duas mil a três pessoas, nas cidades de Ilhabela, São Carlos e Bragança. E incluíram duas canções inéditas, “Escravo da estrada” e “Ah! Onde está você?”, já lançadas no site oficial da banda e no streaming.

— Se fosse para ficar fazendo recital de música antiga, eu preferia voltar para o estúdio e ficar trabalhando de session man ( músico de aluguel ), como sempre fiz — assegura o tecladista. — E quando a gente produziu as duas primeiras faixas, nós mesmos, no nosso estúdio, deu certo pra caramba. Quando tivermos seis canções inéditas prontas, vamos lançar um vinil. As músicas novas têm o DNA da banda , com sequenciadores e teclados, mas a guitarra está mais presente, a banda está soando mais rock. Por outro lado, nossas habilidades como instrumentistas nos permitiram agora fazer um show acústico, que estreia dia 27, em São Bernardo do Campo.

Vida pós-RPM que segue , Paulo Ricardo diz que “Sex on the beach” (já registrado em DVD, durante show no Imperator) fecha um ciclo na sua carreira.

— Eu procuro não me acomodar, estou sempre buscando coisas novas, trabalhar com produtores jovens, num esforço para me reinventar com uma dose de certa de coerência e de ousadia.

Na sexta-feira, ele lançou no streaming a sua versão de “Pro dia nascer feliz” com o duo de música eletrônica Selva. Junto com “Exagerado”, “Ideologia” e “O tempo não para”, ela fará parte de um EP, que sai no dia 20, só de músicas feitas por Cazuza.

— “Exagerado” é um eufemismo para descrever a personalidade do Cazuza, ele não dá a dimensão da intensidade que ele projetava 24 horas por dia. Cazuza são dezenas de histórias impagáveis, mas pouquíssimas publicáveis — conta Paulo, que conheceu o amigo no começo dos anos 1980, antes de fundar o RPM. — Eu fiquei amigo de dormir no colchonete do lado da caminha de solteiro. Uma noite, depois de uma noitada daquelas, a gente estava indo dormir, ele pegou na minha mão e disse: “Ai, Paul , pena que você não é gay!”

O grupo RPM, em 2019, com o novo vocalista, Dioy Pallone Foto: Divulgação / Divulgação
O grupo RPM, em 2019, com o novo vocalista, Dioy Pallone Foto: Divulgação / Divulgação

RPM

Onde: Circo Voador — Rua dos Arcos, s/ n°, Centro (2533-0354).

Quando: Dia 20, às 23h.

Quanto: De R$ 50 a R$ 140.

Classificação: 18 anos.

Paulo Ricardo

Onde: Teatro Riachuelo Rio — Rua do Passeio, 40, Cinelândia (3554-2934)

Quando: Dia 7/5, às 20h.

Quanto: De R$ 50 a R$ 110.

Classificação: Livre.