Ruth de Aquino
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Ruth de Aquino

Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília

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Ruth de Aquino

Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília. Cidadania, família, educação, amor, sexo, drogas, religião, envelhecimento, saúde, arte e viagens.

Por Ruth de Aquino

Estreou na Netflix a série estrelada por Harry e Meghan. É claro que a Coroa e os tabloides sobreviverão às revelações dos dois. Sempre resistiram a todos os escândalos. Mas o que ali está por trás, o ressentimento, sela o divórcio entre o duque de Sussex e sua família. Especialistas dizem que Harry pisou fundo em sua “trajetória de autodestruição”. Será?

Nos três primeiros episódios, no ar, são dois os focos. A implacável perseguição da mídia, que paga fortunas por furos, planta fofocas falsas, suborna parentes, ameaça. E o racismo, latente ou explícito, da monarquia e do povo britânicos. Harry promete contar “toda a verdade”. A realeza é chamada de “A Instituição”. Mas o que mais atrairá o público será a história de amor entre um príncipe inglês ruivo e uma atriz americana mestiça. Mestiça, palavra politicamente incorreta. Mas usada o tempo todo porque assim Meghan se descreve. Também é chamada de “birracial” e “de cor”. Pai branco, mãe negra.

O primeiro episódio é adorável. Como são todas as histórias de amor no início. O encantamento. O namoro em segredo. Entre H e M, assim se tratavam. Entre o filho que mais lembra Diana, na rebeldia, e uma atriz de TV separada, feminista. Eles se conheceram no Instagram. Ela, numa foto com orelhas de cachorro. Trocavam mensagens, se falavam por facetime. Foram juntos para Botswana, pegaram um jipe, acamparam. Ficaram numa barraca por cinco dias, sem banheiro. Não havia paparazzi. Se apaixonaram.

“Minha mãe tomou a maioria das decisões com o coração, e eu puxei isso dela (I am my mother’s son)”. Se Diana conhecesse Meghan, “ficaria pulando de alegria, porque são parecidas”. Ele recorda a risada da mãe. Suas lágrimas. E seu envolvimento em causas humanitárias, o preconceito ao HIV, a fome, as crianças com câncer. Harry culpa claramente a Família Real e os jornais pela morte da mãe. “Quis proteger minha família. Não queria que a história se repetisse com Meghan”. Harry lamenta “a dor e o sofrimento das mulheres que se casam nesta Instituição”, a realeza.

“Na época de minha mãe, o assédio era físico. Enfiavam câmeras na sua cara. Agora, o assédio é maior em redes sociais. Não consegui ver a mulher que amo passar por todo esse furor”, diz Harry. Contratou motoristas treinados em direção evasiva para escapar de paparazzi, sabendo que sua mãe morreu assim, perseguida por jornalistas num túnel em Paris, aos 36 anos, com o namorado Dodi Al-Fayed, também morto no desastre. Harry não suportava ver sua mulher chamada de “bitch” nas redes. “Odiamos você, sua imoral, sua vadia”.

Assistindo hoje aos primeiros episódios, a impressão foi que Meghan precisava desse documentário. Assim como Diana precisou daquela entrevista polêmica sobre Charles (“Havia três pessoas no casamento”). Um exercício de afirmação. Aos 11 anos, Meghan conseguiu, com uma cartinha, mudar um comercial de sabão machista na TV. Em vez de “mulheres” que desengorduravam a louça, por que não “pessoas”? “Para meus colegas, o comercial mostrava que lugar da mulher era na cozinha”. O anúncio foi modificado. Vitória da menina que se considerava “uma pequena ativista”. Ela não era a bonitinha. Era a nerd.

Já casada, Meghan elogiou o MeToo e condenou o assassinato de George Floyd por policiais brancos: “Para a América negra, aqueles nove minutos e 29 segundos transcenderam o tempo, invocando séculos de nossas feridas não curadas”. Harry, consciente de ter nascido “numa bolha dentro de uma bolha”, diz: “Meus filhos são mestiços e tenho orgulho disso”.

Meghan diz que nunca foi “branca ou negra o suficiente”. Criança, viu a mãe, Doria, buzinar e ser xingada por outra mulher aos gritos: “Nigger”. “Minha mãe ficou em silêncio e nunca falamos sobre isso. As pessoas achavam que minha mãe era babá”. Hoje, a mãe, Doria, justifica os dissabores de sua filha na Inglaterra com uma frase: “É sobre raça”.

O documentário é sobre isso. Amor e racismo.

Harry e Meghan, no documentário da Netflix, quando eram só H e M, e achavam que o amor venceria todas as barreiras — Foto: Reprodução de TV
Harry e Meghan, no documentário da Netflix, quando eram só H e M, e achavam que o amor venceria todas as barreiras — Foto: Reprodução de TV
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