Ruth de Aquino
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Ruth de Aquino

Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília

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Ruth de Aquino

Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília. Cidadania, família, educação, amor, sexo, drogas, religião, envelhecimento, saúde, arte e viagens.

Por Ruth de Aquino

No Mês da Mulher, Andréia Sadi dá um furambaço na inacreditável novela das joias sauditas presenteadas ao pior casal que já ocupou o Palácio da Alvorada. Mãe de gêmeos, ela não renuncia ao papel de repórter, mesmo sendo âncora do Estudio I. E isso é admirável no jornalismo. Estamos em março e prefiro falar dela e da força da imagem. Em vez de focar numa ex-primeira-dama que envergonha a condição feminina.

É hipnotizante o vídeo que mostra o sargento Jairo, enviado de Bolsonaro, em dezembro, véspera da troca de governo, dando uma carteirada inútil para tentar retirar ilegalmente de um cofre no Aeroporto de Guarulhos joias de R$ 16,5 milhões para uso pessoal de Michelle. Apreendidas pela Receita em 2021. É batom na cueca. Pornopolítica em estado puro. A denúncia original foi do jornal O Estado de SP (Adriana Fernandes e André Borges, gratidão!). Depois, a imprensa e a TV nos atualizaram sobre valores, colares, relógios de luxo, brincos de diamante, marcas que eu e 99% dos brasileiros jamais ouviram falar, tudo destinado ao bolso, pulso, pescoço, orelha de comitivas bolsonaristas.

Os vídeos obtidos por Sadi e Arthur Guimarães – de 2021 e 2022 – são insuperáveis como provas documentais definitivas de um governo amoral, indecoroso e antiético, com a cumplicidade de integrantes das Forças Armadas que se gabavam de lisura militar. O poder dessas imagens galvanizou o Brasil. E, mais uma vez, mostrou por que o jornalismo é missão. Nosso pulso acelera diante de uma exclusiva. Os vídeos, fundamentais na investigação dos ilícitos do casal Bolsonaro, foram solicitados pela Polícia Federal, Ministério Público e Controladoria-Geral da União.

“Sou uma repórter disfarçada de apresentadora. Sempre. Minha alma é de repórter, e acho que essa é também a alma do negócio”, Sadi me disse pegando um avião para o Rio. No Dia da Repórter (desculpem, guys, agora pretendo usar o feminino como artigo comum de dois), em fevereiro, ela postou em seu perfil no Instagram umas fotos suas. “Um cantinho no Palácio do Planalto ou no Congresso, uma caneta e um bloquinho e o celular para ouvir, anotar, perguntar, apurar, informar e contar (emoji de coraçãozinho)”.

Andréia Sadi é linda. É constatação, não elogio. Muito séria, tem feito esforço para embarcar nas gracinhas vespertinas, e quem trabalha com o Guedinho (nosso Octavio Guedes, com quem cruzei em várias redações) se solta mesmo. Quando ela cruza as pernas, às vezes retorce e tensiona um pé, preocupada com a notícia e não com a câmera. Sadi tem aquela ansiedade de repórter que a faz tropeçar numa palavra, por pensar rápido demais, por querer transmitir a mensagem mais fiel, consistente e completa. É mãe coruja de Pedro e João e mulher apaixonada de André Rizek, não disfarça nem um pouco, mudou-se para o Rio por causa dele, “vou para onde ele estiver”, disse num podcast, “mas por isso mando em tudo, só não mando na televisão, que ele monopoliza com o futebol”.

Ela me contou os bastidores de sua apuração dos vídeos, que começou sexta-feira, varou o fim de semana e terminou ontem: “A (Renata) Loprete, que foi minha chefe e hoje é amiga irmã, tem uma definição que adoro: ‘Jornalismo é movimento. Quem se desloca tem preferência da bola’. Nem precisa ser furo, mas contar com detalhes uma história já aberta. Tabelas e números me dão vontade de dormir. Gosto de história concreta, de fácil compreensão. Você mostra um colar, um brinco, um minicavalo, uma cena. Vejo o jornalismo como uma série. Cada dia você conta um episódio".

Sadi sabia que precisava se deslocar com o Arthur Guimarães, repórter especial. São Paulo, Brasília, contatava as fontes, soltava um detalhe por dia, um ofício, uma entrevista. “Falei com o assessor do Bolsonaro, o (Mauro) Cid, ouvi o lado da Receita e 13 pessoas de diferentes órgãos. Estar posicionada é também contar todas as versões. Rolou a possibilidade dos vídeos do aeroporto. Quando a gente conseguiu as imagens, vimos que havia áudios. Lembrei o Millôr, que dizia ‘uma imagem diz mais que mil palavras; vai dizer isso com uma imagem’. Mas havia palavras, havia som!”

Neste Março da Mulher, olho com carinho e admiração Andréia Sadi e todas as mulheres que abraçam com paixão a reportagem e seus outros amores. Viva nós.

Mãe coruja de gêmeos, mulher apaixonada de André Rizek, Andréia Sadi conseguiu vídeos fundamentais para a investigação da entrada irregular, no país, de joias sauditas para Michelle Bolsonaro  — Foto: Reprodução de perfil no Instagram
Mãe coruja de gêmeos, mulher apaixonada de André Rizek, Andréia Sadi conseguiu vídeos fundamentais para a investigação da entrada irregular, no país, de joias sauditas para Michelle Bolsonaro — Foto: Reprodução de perfil no Instagram
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