Ruth de Aquino
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Ruth de Aquino

Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília

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Ruth de Aquino

Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília. Cidadania, família, educação, amor, sexo, drogas, religião, envelhecimento, saúde, arte e viagens.

Por Ruth de Aquino

Os ídolos de futebol Robinho, Daniel Alves e o empresário Israel Leal Bandeira Neto têm algo em comum. O desprezo pelas mulheres. Não só as anônimas, que cruzam seu caminho. Também desprezam as próprias mulheres. As mães de seus filhos e filhas. Os três são casados, são pais, são ricos.

Não acontecerá nada com os três no fim das contas, além do cancelamento e da vergonha. Robinho foi condenado na Itália a nove anos de prisão por estupro coletivo, e a Justiça brasileira ordenou que a sentença seja cumprida imediatamente aqui mesmo. Alguém acredita ver Robinho, esse ex-prodígio comparado a Pelé, atrás das grades por anos?

Robinho disse em gravação: “Por isso que eu estou rindo, eu não estou nem aí. A mina estava extremamente embriagada, não sabe nem quem eu sou”. Quanto desprezo pelo corpo da “mina”. Ele dará um jeito, a defesa já prepara habeas corpus, não nos enganemos. Robinho continuará em sua cobertura em Santos e em sua mansão cinematográfica no Guarujá. Ele diz ser “vítima de racismo”.

Daniel Alves, condenado na Espanha por estuprar uma jovem numa discoteca, admitiu a relação, mas alegou ter sido consensual. Provas contrárias o mantiveram em prisão preventiva 14 meses. Pagou uma fiança de um milhão de euros (ou R$ 5,5 milhões) para responder em liberdade.

Daniel Alves é casado com uma linda modelo, Joana Sanz. O que faz um homem bem casado investir sexualmente contra uma moça que diz “não” na night de Barcelona? Ou que diz “não mais” na vida? Autoafirmação? Tara? Homens são condenados biologicamente a não respeitar o corpo feminino? Não precisa ser jogador de futebol, nem rico, nem famoso.

O empresário Israel Leal Bandeira Neto ficou famoso esta semana. Apalpou uma nutricionista quando ela saía de um elevador em Fortaleza. Para Larissa, foi humilhante, ela se sentiu impotente. O sujeito correu na garagem para fugir ao perceber que ela gritava. Ele é bem casado, tem uma filhinha e se diz religioso. Não vai acontecer nada com o empresário.

Fama e dinheiro, sozinhos, não explicam abusos assim. E eles são muitos. Em ônibus, metrô, trens, homens tiram proveito da proximidade de mulheres e meninas para fazer coisas inenarráveis. Chegam a ejacular. Antigamente, elas tinham vergonha de gritar. Hoje, gritam e filmam. Os caras são levados à delegacia. E nada acontece com eles. São liberados. Isso precisa ser freado no transporte público. Não é só “uma importunação”.

“Se você é um homem e está sozinho na rua, você tem medo de ser assaltado. Se você é mulher, você tem medo de ser estuprada. Essa vigilância, somada à sensação de impunidade, leva mulheres ao esgotamento mental”. Quem diz isso é Maíra Liguori, presidente da Think Olga, premiada pela ONU.

Na minha adolescência, era assediada na rua. Quando via adiante um grupo de homens na calçada, atravessava a rua para o outro lado. Para evitar comentários obscenos, convites indecorosos. Passavam a mão nos meus cabelos e se encostavam. Eu reagia agressivamente para expor o indivíduo. Cansativo. Muito cansativo.

A tecnologia ajuda a denunciar. Há mais vídeos e informação, nas escolas, em família, no trabalho. Mas o desvio original permanece ali. E precisa ser combatido a cada atitude estranha, em qualquer idade. Claro que não se pode generalizar, esta não deveria ser uma guerra entre gêneros. Mas...

Tenho dois filhos homens. Tenho uma neta entrando na puberdade. E percebo que minha preocupação com ela vai além. Muito além. Só por ser menina. É injusto. O mundo precisa mudar.

Homens que se comportam assim não amam as mulheres. Só amam a si mesmos.

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