Ruth de Aquino
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Ruth de Aquino

Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília

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Ruth de Aquino

Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília. Cidadania, família, educação, amor, sexo, drogas, religião, envelhecimento, saúde, arte e viagens.

Por Ruth de Aquino

Madonna é uma paixão planetária, mesmo sem banda no palco, e com tudo gravado previamente. Inclusive a voz de base. Gravações são originais, dos hits em todas as décadas. O show está pronto, viaja com ela. Mas, sem o carisma ao vivo da maior performer da história, esse show não existiria. A Celebration Tour exibe a vitalidade de Madonna aos 65 anos – e 40 anos de carreira. Uma mulher que sempre pregou a transgressão, a liberdade e o amor em todas as formas.

Tenho uma relação antiga com Madonna. Em 1990, quando eu era correspondente de F-1 em Londres, fui ao estádio de Wembley cobrir sua Blond Ambition Tour. Madonna tinha 31 anos. E o que eu vi não foi uma cantora. Foi um furacão sensual, com danças acrobáticas e figurinos eróticos e sadomasôs. O sutiã em cone era um design de Jean Paul Gaultier, que também fez seu terninho listrado. Os homens dançarinos eram seus escravos, deslizando no chão com caudas de sereia, com tops e shortinhos reveladores.

Simulando masturbação em Londres, na Blond Ambition Tour — Foto: Reprodução
Simulando masturbação em Londres, na Blond Ambition Tour — Foto: Reprodução

No palco de Wembley, Madonna fingiu se masturbar em cima de uma cama de veludo vermelho. E disse Fuck catorze vezes em um minuto. “Fuck is not a bad word, it is a good word!” A BBC transmitia o show ao vivo (por rádio) e tinha pedido que ela não falasse palavrões. A BBC se desculpou com seus ouvintes! O mundo de 1990 não estava preparado para ela. Ainda se escrevia “f**k”. O papa João Paulo II queria o boicote a “um dos mais satânicos shows na história da humanidade”. Não colou. A Igreja Católica a excomungou três vezes. Mas o mercado da música a absolveu - são mais de 400 milhões de discos vendidos.

Diante de seu balé hipnótico e suas mensagens emocionantes sobre Aids, acabei comprando, numa banca de jornais em Barcelona, um livro imenso, Sex, com capa prateada metálica, e fotos fetichistas em preto e branco. Um livro de arte. Muito ousado. Sumiu, emprestei para alguém. Se ler esta coluna, por favor devolva.

Sex foi lançado em 1992, baseado nas fantasias do alter ego de Madonna, Dita, inspirada na atriz dos anos 30 Dita Parlo. As fotos simulam sexo grupal, anal, oral, gay, lésbico. Madonna finge gozar em cima de Naomi Campbell, com um tubo de protetor solar. Morde a bunda de um homem. E faz muito mais. A primeira tiragem de Sex vendeu 1,5 milhão de cópias em três dias.

Vou usar uma palavra que detesto, por ter sido banalizada. Madonna é um ícone. Um ícone com seis filhos. Dois biológicos. Lourdes Maria, cantora. E Rocco Ritchie, artista plástico. E quatro adotados em orfanatos no Malauí, na África. David Banda toca com ela “Like a Prayer” nesta turnê. Mercy toca piano de cauda em “Bad Girl”. As gêmeas Stella e Estere, hoje adolescentes, acompanham a mãe em “Vogue”.

Na vida amorosa, invejável versatilidade. Já namorou um brasileiro, todos lembram, o modelo Jesus Luz. Foi casada com Sean Penn e com Guy Ritchie. Namorou Basquiat quando eram ambos desconhecidos. O ator Warren Beatty, o cantor Lenny Kravitz. Entre outros. Hoje namora um professor de boxe, Josh Popper, 35 anos mais novo.

O show de agora está sob crítica cerrada de quem não admite sair de casa para assistir a uma dublagem – o tal do lip synch – e sem banda ao vivo. Como se isso fosse novidade.

Caiu nas redes um vídeo que mostra a queda de Madonna num canto do palco, enquanto sua voz continua a emergir da caixa. Mas baixinho. Ela corre para pegar o microfone e juntar seu vocal ao vivo à sua voz de antigamente. O resultado é potente. Um recurso já usado faz tempo por performers que são dançarinos. É a tecnologia a serviço do artista e da perfeição do espetáculo.

Madonna perdeu a mãe aos seis anos. Aos 20, abandonou a escola de dança e foi para Nova York com 35 dólares no bolso. Foi o ato mais corajoso de sua vida, diz ela. Outro ato de coragem foi um artigo assinado por ela na revista Harper's Bazaar. “Fui estuprada no telhado de um prédio para o qual fui arrastada com uma faca em minhas costas. Não é uma experiência que gostaria de tornar glamourosa. Mesmo que tenha sido devastador para mim, eu sei que aquilo me tornou uma pessoa muito mais forte em retrospecto. Isso me fez ser uma sobrevivente.”

Uma sobrevivente mesmo. No ano passado, uma infecção bacteriana grave a jogou num coma. E agora, fará um show gratuito e histórico para 1,5 milhão de pessoas nas areias de Copacabana. Quem viver, verá. Mesmo se for pela TV.

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