Cultura Coronavírus

Saraiva demite cerca de 500 funcionários enquanto mercado editorial enfrenta crise do coronavírus

A rede de livrarias dispensou 300 trabalhadores do centro de distribuição e outros 200 em lojas paulistas; CEO renunciou no começo do mês
Em recuperação judicial desde novembro de 2018, Saraiva tem 73 lojas pelo Brasil Foto: Leonardo Soares / Agência O GLOBO
Em recuperação judicial desde novembro de 2018, Saraiva tem 73 lojas pelo Brasil Foto: Leonardo Soares / Agência O GLOBO

SÃO PAULO – A rede de livrarias Saraiva demitiu cerca de 500 funcionários nesta segunda-feira (13). As demissões foram confirmadas ao GLOBO pelo presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Fatah . Das 500 demissões, 300 aconteceram no centro de distribuição da varejista, que fica em Cajamar, município da Região Metropolitana de São Paulo. As outras 200 foram espalhadas por várias livrarias no Estado. A Saraiva tem 73 lojas em todo o Brasil e contava, em fevereiro, com 1.758 funcionários.

Segundo o sindicato, a causa das demissões foi a profunda crise atravessada há anos pelo mercado de livros no Brasil e da qual a Saraiva é uma das protagonistas – a varejista está em recuperação judicial desde novembro de 2018, quando informou uma dívida de R$ 675 milhões com 1.100 credores e começou um processo de reestruturação que levou ao fechamento de lojas.

As demissões desta segunda foram negociadas com o sindicato e as conversas começaram ainda em fevereiro, antes da confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil.

– Quando eles vieram aqui, nós nos cumprimentamos com os cotovelos – diz Fatah.

A crise: Mercado editorial brasileiro já sofre impacto do coronavírus

O sindicato concordou em ajudar nas negociações após a Saraiva garantir que as demissões eram fundamentais para manter a empresa funcionando, preservar os postos de trabalho remanescentes e evitar o fechamento de mais lojas. A varejista informou que, apesar das demissões, o centro de distribuição continua aberto e cuidando das entregas do e-commerce.

Segundo o acordo firmado pela rede, as rescisões dos demitidos serão pagas em até 20 parcelas cujo valor será no mínimo igual ao último salário recebido pelo trabalhador. A multa sobre o FGTS também será parcelada.

– O combinado é que, em média, as rescisões sejam pagas em quatro ou cinco parcelas. Mas vai demorar mais se a rescisão for maior, como no caso de quem tinha muito tempo de casa – explica Fatah. – Lembrando que cada trabalhador tem que concordar com o parcelamento.

Procurada pela reportagem, a Saraiva não quis comentar as demissões. No dia 3 de abril, o CEO da rede de livrarias, Luis Mario Bilenky, que havia assumido em 13 de janeiro, pediu demissão . Em um comunicado aos investidores, foi anunciado que Deric Degasperi Guilhen, diretor comercial da rede, assumiria interinamente o comando da empresa.

As demissões na Saraiva e a renúncia de Bilenky ocorrem num momento de extrema incerteza para o mercado editorial brasileiro, que se prepara para uma severa crise provocada pela epidemia de Covid-19. Nas últimas semanas, editoras voltaram a reclamar de atrasos de pagamento por parte de livrarias, entre elas, a Saraiva, que pediu renegociação de prazos.

A epidemia de Covid-19 já derrubou venda de livros no país , segundo a pesquisa Painel do Varejo de Livros no Brasil, apurada pela Nielsen Bookscan e divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) em 6 de abril. O mercado editorial vinha apresentando sinais de recuperação após encolher 25% entre 2006 e 2018, ano em que as duas principais redes de livrarias do país, a Saraiva e a Cultura, entraram em recuperação judicial. Março começou bem, com aumento de 29% nas vendas em comparação com 2019, mas a queda foi de 40% após o fechamento do comércio.