RIO - Se é para ser revival, que seja completo: dia 4 de outubro, quando se apresenta no Palco Mundo do Rock in Rio , o guitarrista Matthias Jabs , da banda alemã de hard rock Scorpions , reencontrará uma velha conhecida: a guitarra Gibson que mandou fazer especialmente para a primeira edição do festival , em 1985, quando ele e seus colegas tocaram no Brasil pela primeira vez, em duas noites, para um público estimado em mais de 250 mil pessoas cada.
Por telefone, de Berna, na Suíça, o músico de 63 anos conta ter tido a ideia meses antes dos shows de 85, logo que soube que a banda ia debutar no Brasil. Ele pediu aos fabricantes em Nashville, sede da Gibson nos Estados Unidos, que fizessem uma guitarra como o do logotipo do festival (no formato de um mapa da América do Sul) e que, ao longo do corpo, pintassem bandeiras do Brasil.
— Mas naqueles dias não havia e-mail, era difícil manter um contato mais próximo com a Gibson. Eles não sabiam como era a bandeira brasileira. Hoje, eu mandaria eles darem uma olhada no Google, mas naquela época eu tive que enviar uma foto para aqueles ignorantes! — conta ele, aos risos, revelando que, é claro, a encomenda demorou a ficar pronta. — Nosso empresário teve que ir de Nova York a Nashville e daí direto para o Rio, senão a guitarra não chegaria a tempo.
Presente para Medina
Depois dos dois shows dos Scorpions (nos dias 15 e 19 de janeiro), nos quais ele lembra de ter tocado com a guitarra “The zoo” e “umas duas músicas mais”, Matthias deu o instrumento de presente ao empresário Roberto Medina , idealizador do Rock in Rio, “em nome dos fãs da banda no Brasil e dos brasileiros em geral”. Medina guardou o instrumento e, com a iminente volta dos Scorpions ao festival no Rio (pela primeira vez desde 85), teve a ideia de pedir ao alemão que usasse a guitarra no show. Antes, porém, ele mandou a Gibson para o luthier português António Pinto Carvalho, que iniciou um trabalho de restauração finalizado cerca de uma semana atrás.
— É uma guitarra que não tem preço, nunca foi feita outra igual — avalia Carvalho, por telefone, de Portugal. — Via-se que era um instrumento antigo, mas estava muito bem conservado, parecia mesmo novo.
Matthias, que ainda não reencontrou a guitarra, amparou-se nas memórias:
— Ela soava muito bem e era boa de tocar, apesar de o corpo ser muito grande. O visual dela chamava muito a atenção, não vejo a hora de tocá-la de novo. Certamente vou usá-la em “The zoo” e em mais duas ou três músicas.
No auge do sucesso em 1985, com músicas como “Rock you like a hurricane” e “Still loving you” (ambas do LP “Love at first sting”, de 1984), os Scorpions agora voltam ao Rock in Rio sem muita coisa nova ( seu último álbum, “Return to forever”, saiu em 2015, no aniversário de 50 anos da banda ).
— Nosso repertório atual é baseado nos hits das últimas quatro décadas, trazendo muitas coisas dos LPs “Lovedrive” ( 1979 ), “Love at first sting”, “Blackout” ( 1982 ) e “Crazy world” ( 1990, do sucesso “Wind of change” ). Tem um medley dos anos 1970, e adicionamos recentemente um outro dos anos 80 para que os fãs ouçam mais canções em menos tempo — diz Matthias Jabs. — Dez anos atrás, anunciamos aquela que seria a nossa última turnê , mas os fãs, os empresários e as gravadoras não nos deixaram parar.
E agora os Scorpions cuidam do futuro: no ano que vem eles lançam um álbum de inéditas, para o qual já têm algumas músicas gravadas nas versões demo. A ideia é excursionar pelo mundo até o final de novembro e entrar estúdio para compor mais.
— Estamos conversando com produtores e gravadoras. Queremos gravar no primeiro semestre do ano que vem, a tempo de lançar o disco no outono. Teremos uma residência em Las Vegas em julho, então já queremos tocar algum material novo — conta. — Nosso último disco foi lançado simultaneamente em 82 países, somos uma banda que dá muito trabalho às gravadoras.
Será o primeiro álbum dos Scorpions com o novo baterista, o ex-Motörhead Mikkey Dee.
— Estamos nos concentrando no material mais pesado, queremos fazer uma ou duas baladas, apenas. Vai ser algo na linha do “Blackout”, simples e duro — adianta Matthias. — Mas tudo vai depender do caminhar do processo criativo e de quem será o produtor.