Streaming
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Por Talita Duvanel — Rio de Janeiro

No início da década de 2010, um grande atrativo do streaming era a possibilidade de maratonar uma série sem precisar recorrer a fitas VHS, DVDs ou programação de fim de ano de um canal a cabo. Mais de uma década depois, este modelo não é mais uma unanimidade. Nem para as plataformas — em que sucessos como “The boys”, do Prime Video, e “Sob pressão”, do Globoplay, têm episódios lançados semanalmente —, e muito menos para a audiência, que agora chega ao ponto de se queixar de tanto conteúdo despejado de uma só vez em sua TV.

— Há muitos streamings lançando novidades toda semana. Se você for tentar maratonar tudo, não consegue — diz Melina Meimaridis, especialista em ficção seriada televisiva pela UFF e que tem deixado muita série pelo caminho por causa dos excessos. — Os espectadores começam a se sentir frustrados. Fica a coisa de “depois eu assisto”, aí passam os meses e aquilo morreu. E maratonar diz respeito não apenas a assistir, mas também conversar sobre o que se viu.

Conta-gotas

Eleven (Millie Bobby Brown) na quarta temporada de Stranger things — Foto: Netflix
Eleven (Millie Bobby Brown) na quarta temporada de Stranger things — Foto: Netflix

Mesmo saudosos, muitos fãs de “Stranger things” levaram o questionamento para as redes: não teria sido melhor lançar semanalmente os sete episódios do volume 1 da temporada 4? Não daria tempo de teorizar mais sobre cada um deles? Érico Borgo, comentarista de cultura pop e autor do livro “Nerd” (Ed. Sextante), levou essa discussão para o seu canal no YouTube, o Huuro. Ele foi um dos que preferiram ver a conta-gotas a série da Netflix de terror e ficção científica, ambientada nos anos 1980, mesmo correndo o risco de “tomar spoiler”. Muita gente no Twitter também diz ter feito o mesmo.

— Minha opção foi não entrar no frenesi do consumo desenfreado, não gastar tudo num fim de semana — diz Érico. — Séries como “Stranger things” são muito bem construídas. Cada episódio dá pistas, traz coisas que merecem discussão. Mas parte dessa conversa não acontece porque as pessoas focam nos momentos “uau”, geralmente mais no final, quando o início também foi incrível.

Degustação

Teresa Penna, head do Globoplay, Globo Filmes e Giga Gloob, diz perceber que parte da audiência tem desacelerado, o que não quer dizer que pretenda abandonar o hábito de assistir ao formato.

— As pessoas estão optando por consumir de forma mais flexível, como uma degustação. A espera gera curiosidade e expectativa sobre a trama, além de reduzir os spoilers e fazer com que o conteúdo esteja em evidência por mais tempo não só nas redes sociais, mas também na mídia e até nas rodas de conversa — diz Teresa, citando “Sob pressão”, com dois episódios às quintas-feiras, como exemplo de sucesso do modelo semanal.

Ser assunto real e, sobretudo, virtual por mais tempo possível é um marcador de sucesso importante hoje de um produto audiovisual. E o lançamento intervalado aumenta as chances de isso acontecer, diz Lucas Martins Néia, doutor em Comunicação pela USP e especialista em ficção televisiva. Tanto que “Euphoria”, estrelada por Zendaya na HBO Max, com episódios semanais, detém o recorde de produção seriada mais comentada do Twitter nesta década.

— As plataformas começam a perceber que não é tão interessante jogar toda a vida útil de um produto no instante em que é lançado. Com essa estratégia semanal, gera-se mais repercussão nas redes — diz Lucas, antes de descrever uma espécie de déjà-vu. — Discutia-se tanto o fim da televisão, e agora retornamos à lógica da grade.

Este retorno é comprovado por números. Em 2021, segundo a Parrot Analytics, empresa americana de análises de dados de entretenimento, entre as 50 séries com mais demanda (ou seja, assistidas, buscadas em sites como Wikipedia e IMDB, e geradoras de burburinho em redes sociais) nos EUA, 62% foram lançadas de forma híbrida (tipo “Stranger things 4”, dividida em dois volumes) ou semanal.

Para todos os gostos

Certo é que nem estudiosos nem executivos de TV acham, no entanto, que uma estratégia esteja substituindo a outra. É fácil começar uma série e esquecer do episódio na semana seguinte, se o conteúdo não for de qualidade. Afinal, outras dezenas de streamings estão testando o mesmo sistema.

Jensen Ackles em 'The boys' — Foto: Amazon Studios/Divulgação
Jensen Ackles em 'The boys' — Foto: Amazon Studios/Divulgação

Combinar modelos, por ora, tem sido o ideal, diz João Mesquita, diretor-geral do Prime Video no Brasil. Neste ano, além de “The boys”, a plataforma da Amazon tem outro lançamento com condições de deixar a audiência grudada no calendário: “O senhor dos anéis: Os anéis de poder”, no dia 2 de setembro. Em casos como este, não há dúvidas: é semanal e pronto.

— Mas, realmente, até aqui, é muito clara a necessidade de seguir esse modelo com formatos para todos os gostos. Mas o binge (watching) está vivo e segue de boa saúde. Só não é mais o modelo de lançamento exclusivo — diz João.

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