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Por Ana Maria Bahiana; Especial Para O GLOBO


O autor Neil Gaiman em Los Angeles, em 2019 — Foto: Rozette Rago/The New York Times
O autor Neil Gaiman em Los Angeles, em 2019 — Foto: Rozette Rago/The New York Times

Já faz algum tempo que Neil Gaiman, de 61 anos, não é um estranho no universo do cinema e adjacências. Em 1996, ele escreveu seu primeiro trabalho audiovisual em colaboração com outros autores — a série “Neverwhere” da BBC. Não gostou nem um pouco. Tanto que pediu para que nunca mais lhe oferecessem projetos do mesmo tipo.

—Para um autor, é muito complicado e doloroso ter interferências profundas com algo que se inventou — diz o cultuado autor da igualmente cultuada (e premiada) HQ “Sandman”, que já foi ilustrada por vários artistas e agora virou série de sucesso na Netflix, mantendo-se no Top 10 de 45 países desde a estreia, em agosto.

Apesar da impressão na primeira aventura no mundo cruel do audiovisual, Gaiman colaborou com diversas outras obras, como os filmes “Beowulf”, “Hellboy II”, “Coraline”, “Stardust” e, mais recentemente, as séries “American gods” e “Good Omens”, ambas adaptadas de suas obras.

Nos anos 1990, a Warner Bros., a nave-mãe da DC Comics que publicava os volumes de “Sandman”, flertou com a ideia de produzir um filme baseado na HQ. Roger Avary, roteirista de “Pulp fiction”, seria o diretor, e Ted Elliott e Terry Rossio, estrelas da criação de “Piratas do Caribe”, seriam os roteiristas de um filme baseado em dois volumes de “Sandman”, “Prelúdios e noturnos” e “A casa de bonecas”.

Década após década, o projeto se arrastou. Dúzias de roteiros, roteiristas e diretores atacaram e desistiram de “Sandman”.

Chegou o momento em que a ideia parecia impossível — em grande parte porque Gaiman não conseguia tolerar um projeto que claramente seria refeito e recortado de todos os modos possíveis. Numa coletiva na Comic Con de 2013, perguntado sobre a possibilidade de um bom filme baseado em “Sandman”, Gaiman respondeu: “Prefiro que ele jamais seja um filme a ser um filme ruim.”

“A minha felicidade é que tudo muda, não é mesmo?”, Gaiman comenta em 2022. “Sandman não mudou, mas os estúdios mudaram. Existem novas plataformas. As pessoas que tentaram fazer ‘Sandman’ viam os projetos de outro modo e queriam interferir em tudo. Essas pessoas não estão mais nos estúdios. E a DC Comics compreende melhor quem, hoje, consome e entende minha obra.” A seguir, confira o que mais Gaiman pensa sobre a adaptação de sua obra.

Tantos anos desde o lançamento de 'Sandman' em 1989, como você se sente?

Eu me sinto com muita sorte, mas muita sorte mesmo, porque ninguém resolveu mudar o que eu criei. Não agora. Sandman me deu sorte, com certeza. Acho que a história continua assim porque o garoto Neil Gaiman sabia de algum modo que estava fazendo a coisa certa. Eu estava desesperado para contar uma história que durasse um longo tempo e, ao mesmo tempo, atraísse a atenção tanto de leitores quanto de editores. E que isso fosse possível no formato quadrinhos.

Você tem uma longa relação com adaptações em filmes e séries. 'Sandman' é uma exceção?

Sandman tem muita sorte, eu repito. Quando a DC Comics se interessou por “Sandman”, fiquei muito feliz, porque na verdade eles não tinham a menor ideia do que eu estava fazendo e como eu estava fazendo. Eles me deixaram em paz. Depois foi para (a plataforma) Audible numa adaptação para audiobooks, de Dirk Maggs e James McAvoy. Foi lindo, porque foi uma adaptação fiel de uma série de quadrinhos originais. Isso me deu a vontade de ousar um passo adiante quando houve uma abertura. O.k., vamos pôr na televisão, vamos pôr nas telas. Mas como eu faço isso? Quando eu fazia os quadrinhos havia 24 páginas por volume, com seis ou sete painéis por página. Como se transforma isso em uma narrativa audiovisual? Como se manter fiel ao material original? Como ser fiel ao Sandman? Como vamos fazer as pessoas chorarem e riem e, ao mesmo tempo, ser verdadeiro?

Tom Sturridge como Sonho, na adptação de 'Sandman' — Foto: Reprodução
Tom Sturridge como Sonho, na adptação de 'Sandman' — Foto: Reprodução

Em algum momento você teve receio de que haveria mudanças grandes do material original para a série?

Tive receio, sim. Sempre temos. Mas logo nos primeiros passos eu vi que estava cercado de pessoas dedicadas à minha visão. A questão do elenco, por exemplo. Isso me preocupava. Mas Lucinda Syson, diretora de elenco, foi extraordinária. Trabalhamos muitos anos atrás em “Stardust”, e trabalhar com ela é um prazer. O processo de escolha de atores foi diferente para cada pessoa. E nunca houve uma intromissão sequer.

Como você escolheu o seu Morfeus, o Sonho, o Sandman?

Por incrível que pareça, o primeiro vídeo que chegou a Lucinda e a mim foi o de Tom (Sturridge). Logo depois tínhamos mais alguns, quatro candidatos, mas Tom era, para mim, o melhor. Rapidamente, tínhamos 50, 60, mil candidatos, mas eu só via o Tom. Tinha que ser o Tom. E foi.

Foi essa a sua única dúvida?

Não. Por um momento eu quis que (Christie) Gwendoline fosse Sandman. Liguei para ela e perguntei: “Gwen, você quer ser Sandman?” Ela respondeu imediatamente: “Eu quero é ser Lúcifer.” E foi assim que nossas escolhas foram feitas. Tivemos só duas exceções, Desejo e Morte. Mason Alexander Park e Kirby Howell-Baptiste. Foram os únicos com que tivemos que fazer testes, pois tínhamos 1.500 candidatos e a maioria não conseguia dizer os textos desses personagens. E eu ficava pensando: “Sou uma desgraça nessa hora de achar uma personificação antropomórfica dos meus personagens, em qualquer plano, na Terra e no além.” Mas quando vi Kirby e Mason, não hesitei. Kirby era a Morte, e Mason era Desejo.

Como você vê a repercussão de 'Sandman' como série?

Tenho certeza de que foi direto para os fãs de “Sandman” como quadrinhos. O público que vi na Comic Con era como fermento no iogurte. Mas o mais importante para mim é que este projeto de 30 anos de vida está aí, exatamente como eu o vi. Estou feliz, estou orgulhoso e estou incrivelmente empolgado. Sou um fã, eu amo o que nós fizemos.

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