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Por Talita Duvanel — Rio de Janeiro

No dia 19 de outubro de 2022, quando estreia “Todas as flores” no Globoplay, fará exatos dez anos que o último capítulo de “Avenida Brasil” foi ao ar na Globo. A vingança final de Nina sobre Carminha reuniu multidões em volta da TV, teve pico de quase 54 pontos no Ibope e alçou João Emanuel Carneiro ao posto de grande entre os grandes.

Duas novelas depois (“A regra do jogo” e “Segundo sol”, com desempenhos muito distantes de seu grande sucesso, João volta ao tabuleiro, agora escrevendo para o streaming. Promete usar em dose dupla sua consagrada fórmula de vilania. Zoé (Regina Casé) e Vanessa (Letíca Colin) vão disputar o ódio do público e, quem sabe, um pouco de comiseração.

— Muitos espectadores ficam meio perplexos de terem que se questionar em relação aos meus personagens. Geralmente, um folhetim é doutrinário: uma é boa, outra é má. Nós teremos a Vanessa, uma vilã com câncer. Quem tem câncer geralmente é a mocinha — diz o autor.

Flora, de “A favorita”, por quem já recebeu até ameaça de morte quando revelou que ela era assassina (“Você acabou com a minha cabeça. Vou te matar”, ouviu), é sua criação predileta. As falas das vilãs, ele confessou, são terapêuticas.

—Posso exercitar na ficção o que não exerço na vida — diz o novelista, casado com o ator Carmo Dalla Vecchia, com quem tem um filho de 5 anos, Pedro.

Maíra (Sophie Charlotte) e Zoé (Regina Casé) em 'Todas as flores' — Foto: Fabio Rocha
Maíra (Sophie Charlotte) e Zoé (Regina Casé) em 'Todas as flores' — Foto: Fabio Rocha

Como é escrever uma novela para o streaming, apesar de esta sinopse estar pronta já há algum tempo?

Minhas tramas são muito concentradas, com poucos personagens. Neste sentido, acho que tenho a ver com este tipo de produto. Agora tem que ser uma coisa um pouco mais compacta, com muito gancho. Alguns autores até gostam de fazer novelas que são feiras de amostras de núcleos e personagens diferentes. Até sentir o que dá mais certo e, a partir daí, eleger uma coisa e encolher as outras. No meu caso, não dá para encolher. É aquilo mesmo.

Essa novela ia para o horário das 21h, na TV aberta. O que aconteceu?

Tenho a impressão de que a direção da Globo quis dar dois tiros ao mesmo tempo. Um na TV aberta e outro no streaming. Tanto que estão lançando quase concomitantemente os maiores investimentos (“Travessia” estreou na última segunda-feira às 21h). Mas não achei ruim sair do horário nobre. (Teve gente dizendo que) eu não estava contente. Acho pioneiro. Uma experiência nova.

Então está sendo bom trabalhar deste jeito?

Estou adorando porque dá para fazer uma coisa mais concisa. Tenho a impressão de que isso é uma tendência muito forte no futuro do Brasil. Pego como exemplo a Coreia do Sul, uma grande produtora de audiovisual. Eles fizeram uma plataforma só disso e deu muito certo. E tenho uma teoria: o seriado, para um consumidor ávido de novelas, acaba rápido. Uma novela de 85 capítulos vai poder suprir esta demanda.

Judite (Mariana Nunes) e Zoé (Regina Casé) nos bastidores de 'Todas as flores' — Foto: Reprodução
Judite (Mariana Nunes) e Zoé (Regina Casé) nos bastidores de 'Todas as flores' — Foto: Reprodução

Regina Casé tem dito que a personagem dela, a Zoé, faz da Carminha uma mulher fofa. Quem é essa vilã de agora?

Já cruzei com algumas por aí. É uma pessoa que veio de baixo, conseguiu sobreviver dando golpes, roubar o marido, melhorar de vida aos poucos. Mora na Barra, é loira e cafona. É inspirada em várias pessoas que vi. Mas ela é, como minhas personagens geralmente são, ambivalente. Pode cativar e fazer a gente odiá-la ao mesmo tempo.

A filha da Zoé, Maíra, é cega, mas é interpretada por Sophie Charlotte, que não tem deficiência. Acha que isso vai gerar alguma discussão?

Decisão de elenco não é só minha. Mas vamos abordar a questão da pessoa com deficiência também em outros personagens. Vai ser a primeira novela a ter audiodescrição.

Você participa da escolha dos dos atores?

Sou comunicado e, às vezes, posso dar uma opinião ou outra, mas não escolho mais como antigamente.

Por quê? O que mudou?

A televisão mudou. Produtores de elenco, diretores da Globo, eles escolhem. Posso propor uma coisa ou outra, participar, mas é outra coisa.

Está mais fácil ou mais difícil fazer TV?

Em certo sentido é uma responsabilidade mais compartilhada do que dá certo ou errado. Antes era só minha. Dividiu bastante. O importante é que, quando dá errado, não é só eu (risos).

Como você encarou a prisão de José Dumont, ator acusado de pedofilia que estava escalado para a novela? (Ele foi solto quarta-feira, mas segue investigado e monitorado por tornozeleira eletrônica. Dumont foi demitido e substituído na trama por Jackson Antunes)

Não vi cena nenhuma gravada com ele, não o conhecia. E quer saber a verdade? Até eu assistir às cenas, os personagens não tem a cara de atores. Eles são o que eu imagino na minha cabeça. Quando começo a assistir, aí realmente ganham o rosto do ator. Para mim, esse cara nunca esteve ali. Nunca escrevi papéis para atores. Eles têm que se adaptar aos meus personagens. E acho que o timing (da prisão) desse José Dumont foi até uma certa sorte. Podia ter sido com o negócio no ar.

Há dez anos, “Avenida Brasil” tinha um alcance semelhante em termos de mobilização que “Pantanal”. Por que houve esse hiato tão grande, do qual você participou também, com “A regra do jogo” e “Segundo sol”?

Acho que o importante é falar com o coração das pessoas. Tem um lado da novela que você não tem como saber. O novelista precisa ter uma intuição, uma antena para acessar aquele momento da sociedade. Em “Avenida Brasil”, acho que acertei na questão da ascensão da classe C, da euforia econômica no país na época. Talvez “Pantanal” tenha acertado no fato de que as pessoas queriam escapar da realidade dura da pandemia, da política, da economia. Acredito que, nesses dez anos, algumas novelas não falaram tanto com o coração das pessoas. Espectador é igual criança. Você tem que se ligar nele, senão o perde.

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