Streaming
PUBLICIDADE

Por John Koblin, The New York Times — Nova York

Craig Mazin estava pronto para uma mudança. Há cerca de uma década, ele havia construído uma carreira sólida como roteirista de comédia. Embora seus créditos dificilmente agradassem os críticos — estamos falando de filmes como "Todo mundo em pânico" 3 e 4, e "Se beber, não case" partes 2 e 3 —, as ligações dos executivos de Hollywood continuavam chegando. Era um trabalho estável e lucrativo. Ainda assim, algo estava faltando.

— Me ofereciam muitos trabalhos com a ideia de "quem pode consertar isso?' — contra o cineasta. — Ou alguém que pudesse passar de um C+ para um B-.

Por fim, ele decidiu que quer ser "melhor do que trabalho" que lhe ofereciam. Esse foi crucial o primeiro passo de uma notável ascensão no meio da carreira. Nos últimos quatro anos, Mazin, de 51 anos, produziu duas séries de sucesso na HBO e se transformou de roteirista de comédia em um dos autores mais quentes da televisão.

Seu trabalho mais recente, “The Last of Us” foi um sucesso imediato. Segundo a emissora, a audiência da primeira temporada do programa gira em torno de 30 milhões de espectadores. O número se compara à "Casa do dragão", série derivada de "Game of Thrones", e supera amplamente as segundas temporadas de outros programas populares como “Euphoria” (19,5 milhões) e “The White Lotus” (15,5 milhões). O final da primeira temporada foi ao ar no domingo (12).

Descobrindo Chernobyl

Cena da série 'Chernobyl', da HBO — Foto: Divulgação
Cena da série 'Chernobyl', da HBO — Foto: Divulgação

Para Mazin, tudo começou com uma epifania há cerca de nove anos. Na época, ele já tinha o respeito de seus pares. Muitos de seus amigos roteiristas, incluindo os criadores de “Game of Thrones”, David Benioff e D.B. Weiss, pediam conselhos sobre seu trabalho. Ele também era um dos apresentadores do “Scriptnotes”, um podcast criado em 2011 que desconstrói o processo de escrita de roteiros.

— Havia uma diferença enorme entre como eu era visto por eles e pelo resto da indústria — disse ele.

Então, Mazin decidiu que era hora de ouvir seus colegas e se arriscar, criando um projeto próprio. O tema surgiu quando ele se deparou com um artigo sobre os contínuos esforços de limpeza no reator nuclear de Chernobyl. Mazin sabia pouco sobre o acidente na usina soviética, ocorrido em 1986. Ele começou a pesquisar e ficou surpreso com o que descobriu.

— Quando Craig se interessa por um assunto, ele fica meio obsessivo — diz Casey Bloys, presidente da HBO e da HBO Max.

Ainda assim, criar um drama em torno das consequências de um desastre nuclear era um salto ousado. Mazin precisava de ajuda. Ele era amigo de Carolyn Strauss, que havia deixado o posto de executiva de programação da HBO em 2008 para se lançar em uma carreira como produtora. Seu primeiro crédito veio de “Game of Thrones” e Strauss sabia o quanto Benioff e Weiss confiavam em Mazin.

— Era a ele que recorriam em busca de dicas, por sua mente estruturada, sua forma de pensar histórias — lembra ela. — Toda a equipe respeitava seu ponto de vista sobre o trabalho.

Strauss juntou-se ao projeto Chernobyl como produtora e levou a ideia para a HBO, sabendo que seria uma venda difícil. Kary Antholis, diretor do departamento de minisséries na época, aceitou a reunião porque a sugestão vinha de Strauss. Mas ainda tinha muitas dúvidas — tanto em relação aos créditos pouco notáveis de Mazin quanto à disposição da rede de investir numa história russa. Mas então veio a apresentação de Mazin.

— Foi o melhor pitch que ouvi em 25 anos de trabalho. Nada realmente chegou perto — diz Antholis.

Do Atari ao PS4

Cena do jogo 'The last of us' — Foto: Divulgação
Cena do jogo 'The last of us' — Foto: Divulgação

As expectativas eram baixas e a série ganhou um horário na noite de segunda-feira. Antholis convenceu a Sky a coproduzir, diminuindo o fardo financeiro da HBO, e todo mundo falava para Mazin: "Ninguém vai assistir".

Mas, claro, "Chernobyl" foi um sucesso de público, aclamada pelos críticos e colecionou troféus no circuito de premiação — foram dez Emmys e dois Globos de Ouro, incluindo o prêmio de melhor série limitada de ambos.

Assim, Mazin ganhou carta branca para fazer o que ele quisesse como seu próximo projeto na HBO. Ele lembra que Bloys o incentivava a buscar algo que realmente o animasse, perguntando: "O que te faz levitar?"

Mazin jogava videogames desde o final dos anos 1970, quando morava em Staten Island, Nova York, e seu pai comprou um Atari 2600. Em 2013, quando “The Last of Us” se tornou uma sensação, Mazin comprou um PlayStation 4 para conhecer o jogo e ficou hipnotizado. Para ele, o destaque era a relação entre os dois personagens principais: um sobrevivente durão de meia-idade chamado Joel e uma garota de 14 anos chamada Ellie, que era imune à infecção que transformou a maioria das pessoas no planeta em zumbis.

Um mês após o capítulo final de “Chernobyl", Mazin encontrou Neil Druckmann, criador do jogo, e os dois se deram bem. Juntos, levaram a ideia da série para a HBO em julho de 2019.

"Casey, encontrei o que me faz levitar", disse Mazin a Bloys. "Por favor, por favor, por favor, compre isso para mim."

Um salto de fé

Bloys não jogava videogames e conhecia bem o difícil histórico de adaptações de jogos em Hollywood. Mas a HBO mantém uma tradição: quando seus autores criam um sucesso, podem fazer o que quiserem em seu próximo projeto. Assim, Alan Ball passou de “Six Feet Under” para “True Blood”; Mike White foi de “Enlightened” para “The White Lotus”; e Michael Patrick King de "Sex and the City" para "The Comeback".

— Você está apostando em alguém e isso requer confiança de ambos os lados — diz Bloys. — Sempre vai ser um salto de fé.

"The Last of Us" era uma aposta cara para a rede, ao contrário de "Chernobyl". A minissérie teve um orçamento de cerca de US$ 40 milhões, dos quais apenas US$ 15 milhões saíram do bolso da HBO, lembra Antholis. Já a adaptação do videogame custaria mais de US$ 150 milhões, orçamento próximo ao de “Casa do Dragão”.

O projeto ainda precisaria preencher o horário nobre da HBO nas noites de domingo, preenchendo a lacuna entre “The White Lotus”, que terminou em dezembro, e a temporada final de “Succession”, prevista para o final de março. A HBO e sua controladora endividada, a Warner Bros., precisavam desesperadamente de novos sucessos para impedir que as pessoas cancelassem o HBO Max. As apostas eram altas.

Bill ♥ Frank

 Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) no terceiro episódio de 'The last of us' — Foto: HBO
Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) no terceiro episódio de 'The last of us' — Foto: HBO

Primeiro, chegaram as críticas: todas altamente positivas, como havia acontecido com “Chernobyl” quatro anos antes. E então vieram os números de audiência: um enorme sucesso.

O terceiro episódio impulsionou ainda mais a série. Nas redes, os fãs exaltaram o capítulo independente, escrito por Mazin e em grande parte diferente do material de origem. A trama é centrada na relação amorosa e na sobrevivência de dois personagens secundários, Bill e Frank, interpretados por Nick Offerman e Murray Bartlett.

— O que me impressionou sobre Bill e Frank e o potencial dessa história é mostrar um tipo de amor ao qual simplesmente não damos muita atenção: o amor entre adultos comprometidos que não estão ficando mais jovens — diz Mazin.

“The Last of Us” já foi renovada e Mazin deve começar em breve a escrever os roteiros da segunda temporada com Druckmann. Em retrospectiva, a possibilidade disso tudo acontecer só surgiu quando Mazin decidiu não aceitar mais o rótulo que havia sido imposto a ele pelos executivos de Hollywood.

— Uma das armadilhas nas quais você pode cair como escritor de comédia é a insistência de que você deve continuar fazendo só isso, porque simplesmente não há muitas pessoas que eles possam contratar com segurança para fazer essas coisas. Então eles vão te manter nisso — avalia Mazin, comentando a mudança. — Foi arriscado, mas também emocionante dizer: 'Acho que vou me permitir a liberdade de fazer outra coisa'.

Mais recente Próxima Plataformas estrangeiras de streaming oferecem menos de 10% de conteúdo nacional
Mais do Globo

Desde o início do ano, 19 pessoas morreram tentando chegar ao país

Quatro migrantes morrem afogados ao tentar chegar ao Reino Unido pelo Canal da Mancha

Luciana Fróes conta o que há de mais quente no mundo da gastronomia

Bar da Gruta, nova casa de Jimmy Ogro e aniversário do Elena: as novidades gastronômicas

Saiba onde mais ouvir e dançar o ritmo na cidade; envie sua pergunta para Eugênia, que tira dúvidas sobre a programação carioca

Kingston Club chega à Lagoa com noites de reggae; confira um roteiro no Rio de Janeiro

Agenda inclui ainda festival ballroom de graça em Madureira e feira de vinhos em terraço com vista para a Baía de Guanabara

De feira medieval a gastronomia francesa: confira os eventos do fim de semana no Rio

Entre as opções para curtir o recesso de julho, há desde brincadeiras de bruxaria a aulas de culinária; confira

Colônias de férias: um guia com atividades para crianças e adolescentes no Rio

Roteiro para celebrar a data no Rio também tem Kevin O Chris com Dennis DJ

Dia do Funk, celebrado pela primeira vez, tem show gratuito de Valesca Popozuda e exposições

Diversidade é grande, mas integrantes do grupo têm questões comuns que o diálogo busca potencializar

Indústria cultural é peça-chave para G20: especialistas sugerem novos investimentos e intercâmbios com outros países

Na última quarta, um carpinteiro foi atingido na cabeça com estaca de madeira enquanto trabalhava

Estaca, arpão e vergalhão: relembre outros acidentes envolvendo artefatos que perfuraram o crânio de pessoas

Big Techs se inspiram em filmes para criar vozes de máquinas reais com base em fantasias cinematográficas ultrapassadas

Desenvolvedores de IA criam vozes sintéticas baseadas em ideias antigas apresentadas por Hollywood; entenda

Livros trazem amores proibidos com pano de fundo de fantasia e questões de vida e morte

O feitiço da ‘romantasia’: conheça o filão editorial do momento, que une sexo e criaturas fantásticas