Uma década após ser anunciado, o épico de guerra “Mestres do ar”, série produzida por Steven Spielberg e Tom Hanks, finalmente pode ser visto, com dois de seus nove episódios disponíveis a partir de hoje na Apple+. Vale a adrenalina, descontados rasgos de patriotismo ianque em momento histórico delicado, com guerras em curso na Ucrânia e no Oriente Médio e o retorno do nacionalismo étnico mundo afora.
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É o capítulo final da trilogia da dupla na telinha sobre Segunda Guerra Mundial, centrada na participação americana e iniciada pela cultuada “Band of brothers” (2001), que focava nas operações por terra, seguida de “The Pacific” (2010), pelo mar. A série impressiona especialmente nas cenas de batalhas aéreas — efeitos especiais recriam com perfeição os bombardeiros B-17 e B-24.
Minúcias
Em momentos críticos, o espectador se sente no cockpit dos pilotos. Cary Fukunaga, de “007 — Sem tempo para morrer” foi um dos diretores alistados por Spielberg e Hanks justamente por seu apuro técnico.
— As sequências dirigidas por Fukunaga foram algumas das mais difíceis de serem filmadas. O processo de reconstituição foi minucioso e, após um período de imersão, em que vivemos isolados na Inglaterra como aqueles jovens pilotos, tornou-se possível passar até oito horas por dia dentro do espaço diminuto e, bem, atuar — conta ao GLOBO Austin Butler, que vive o major Gale “Buck” Cleven, um dos dois protagonistas, cuja atitude lembra os “ases indomáveis” de “Top Gun”.
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O ator foi indicado ao Oscar ano passado pelo papel-título de “Elvis”, de Baz Luhrmann. E foi no set da cinebiografia, em um jantar com Hanks (que vive no filme o empresário de Elvis, Tom Parker), que ele foi recrutado para o papel.
— Por experiência própria, o Tom me aconselhou a encontrar logo um novo projeto, algo bem diferente de “Elvis”, ou eu iria dar uma pirada — conta Butler. — Falou dessa "pequena aventura” que tinha com um certo Spielberg, adiada pela pandemia. Me joguei.
Na série, seu personagem (como todos, baseado em combatentes reais) tem como melhor amigo o major John “Bucky” Egan, vivido por Callum Turner, alçado à fama por namorar a estrela pop Dua Lipa. Quando os dois atores conversaram juntos, por videochamada, com o GLOBO, receberam o repórter com gritos de “Brasil!”. Provocados a traduzir a paixão em palavras, a fizeram em coro: “Jorge. Ben (sem o Jor)”.
— Adoramos, adoramos, adoramos ele — repetiram.
Para retratar oficiais de carne e osso do batalhão aéreo americano que estava na linha de frente da batalha com a Luftwaffe nazista, Spielberg e Hanks apostaram em uma seleção de novos galãs de Hollywood.
Além de Butler e Turner, destacam-se Raff Law, filho de Jude, Nate Mann, Samuel Jordan, Anthony Boyle e Barry Keoghan — ele mesmo, o protagonista da sensação “Saltburn”. Perguntados se Keoghan, de 31 anos, tinha ficado metido com tanta atenção, Butler e Turner responderam de bate-pronto,às gargalhadas:
— E quem disse que ele já não era metido antes?
Na série, Keoghan vive o tenente-coronel Curtis Biddick, um sujeito direto, engraçado (é ele quem oferece parte do alívio cômico em ambiente obviamente tenso), mas consciente de que cada missão nos céus da Europa embutia o risco de não se voltar vivo. Em entrevista recente, Keoghan disse: “Aqueles pilotos eram mais jovens do que eu hoje e encaravam aquilo como o certo a fazer. Tenho o maior respeito por aquela geração, que nos permite hoje desfrutar tantos privilégios.”
O soldado Ryan
“Mestres do ar”é inspirada no livro homônimo de David L. Miller, lançado em 2006. Concentra-se em 1943, após a vitória soviética em Stalingrado e com o cerco a Mussolini e Hitler se fechando. O historiador argumenta que não haveria Dia D (6 de junho do ano seguinte) sem os combates aéreos que antecederam a invasão por terra. Nesta luta pelos céus da Europa, 18 mil pilotos das forças contrárias ao Eixo perderam suas vidas. Não é spoiler, portanto, avisar que boa parte dos personagens de “Mestres do ar” perece antes do fim.
Lá se vão 25 anos desde que Spielberg e Hanks abordaram o tema pela primeira vez, no cinema, em “O resgate do soldado Ryan”. Os 27 primeiros minutos do longa, com o desembarque na Normandia, são saudados até hoje como um ponto alto do cinemão americano. O filme levou cinco dos 11 Oscars a que foi indicado, inclusive o de melhor diretor (seu segundo) para Spielberg.
— Vi “O resgate do soldado Ryan” aos 12 anos, de tanto que perturbei minha mãe para me levar ao cinema — conta Callum Turner. — E agora, para a série, o revi umas 500 vezes. E me arrepiei igualzinho com a sequência de abertura. Bastam essas quatro obras (as três séries e “O resgate do soldado Ryan”) para dimensionar o impacto desses dois sujeitos (Hanks e Spielberg) na cultura do planeta.