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Por — Rio de Janeiro

Maria Flor teve um filho, completou 40 anos e dirigiu o projeto mais importante de sua vida. A série "No ano que vem", que acaba de estrear no Canal Brasil e está disponível no Globoplay, é protagonizada por Julia Lemmertz e Jeniffer Dias e toca em questões profundas do universo feminino. É o primeiro trabalho de Maria pós-maternidade. E traz no DNA um salto dela como diretora e mulher rumo à maturidade.

— Não dá para ser uma menina para sempre — diz.

A atriz cresceu aos olhos do público. Começou a trabalhar no audiovisual aos 14 anos, fez novelas, filmes e seguiu no flow dos papeis fofinhos para os quais a escalavam - e se encaixava bem, diga-se. Mas este perfil passou a não corresponder mais à forma como se sentia:

— Fiquei presa na imagem que as pessoas tinham de mim. Tipo: "Ah, você parece tão jovem". A Maria menina, Maria Flor, esse nome doce, o que eu não sou (risos). Sou difícil, dura, brigo pelas minhas convicções. O nascimento do meu filho, os 40 anos e a série me autorizaram a falar: sou uma mulher, uma atriz e uma diretora.

Maria Flor fala de maternidade, idade e a série que dirigiu

Maria Flor fala de maternidade, idade e a série que dirigiu

Com Flor Pistola, personagem com que destilava agressividade e revolta nas redes diante dos absurdos do noticiário, Maria iniciou uma virada. Fez com que espectadores passassem a enxergar sua atitude - e conheceu o gosto amargo do ódio despejado pelos haters.

Mas o combo filho + 40 anos + série adulta foi determinante nesse seu plot twist.

— Voltar a trabalhar depois de me tornar mãe e na direção foi muito importante. Fiquei muito dona do que queria fazer e de como queria contar aquela história.

Uma história criada por sua mãe, a roteirista Marcia Leite. Estar no set com dela, e também ao lado de seu pai, o técnico de som Renato Calaça, deu ainda mais contornos ao processo de crescimento de Maria. A fez ampliar os horizontes:

— Quando a gente vira mãe, deixa de ser um pouco filha. Revisa sua posição, perdoa coisas porque entende. A relação com meus pais amadureceu. Tivemos que estabelecer limites na nossa intimidade para trabalhar bem juntos. Hoje, me sinto dona da minha vida e do meu gozo.

O gozo ela vem reencontrando entre uma soneca e outra do filho, Vicente, que completou 2 anos. Ao lado do parceiro, o filósofo e dramaturgo Emanuel Aragão, vai descobrindo a mulher por trás do papel de mãe. É como se, aos poucos, fosse voltando para o próprio corpo, explica. A luta agora é para desconstruir a imagem que a sociedade faz da mulher pós-maternidade.

— Quando uma mulher vira mãe e envelhece, acabou. Tem que ficar em casa, quieta, não atrapalhar ninguém. A sociedade patriarcal e machista não quer que a gente goze, mas que fique em casa cuidando das crianças — afirma. — Quando me tornei mãe, senti que as pessoas não me olhavam mais do mesmo jeito. É como se a sua sexualidade não existisse mais, e você virasse só uma mãe.

Na busca por provar que a vida sexual feminina vai muito bem, obrigada, com o passar do tempo — inclusive pós-menopausa — , Maria usa a dramaturgia como aliada. Em "No ano que vem", apresenta a história de Ana, uma mulher de 60 anos que, após um câncer de mama, rompe um casamento de 30 anos e passa a realizar suas fantasias livremente.

— Nossa dramaturgia ainda fala pouco sobre como o sexo amadurece junto com a gente. Sobre como a mulher de 60 anos pode ser mãe, avó e sexualmente ativa. Livre, ter parceiros de várias idades, gêneros, se reinventar. Ana tinha um casamento apagado, fica solteira e vai transar. A gente continua se descobrindo sexualmente com o passar do tempo, com o amadurecimento, o envelhecimento.

Claudia Raia e Angélica, lembra Maria, estão aí para não deixá-la mentir:

— Claudia dizendo que transa ao 60 e Angélica falando de vibrador ampliam a discussão, fazem chegar em mais gente. A própria Julia (Lemmertz), ativa nas redes, está aí fazendo e se colocando. As mulheres estão mais livres para falar: "Não vou só dar prazer, o meu prazer é minha prioridade".

Para Maria, basta de fingir:

Não se submeter apenas à vontade do homem e da sociedade limitadora precisa ser também uma busca da mulher, defende. Maria segue apostando em projetos que corroborem seu discurso.

Trabalha agora na adaptação de seu livro "Já não me sinto só" para o cinema. É sobre uma atriz que termina um longo relacionamento e busca se reencontrar. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência, já que Maria viveu uma separação em 2010. Quem mostrará esse drama na tela é Manu Gavassi. Andrea Beltrão e Renato Góes são outros confirmados no elenco do filme.

Outro projeto, em parceria com Valentina Castelo Branco, é uma série sobre a ida de crianças para a creche. Baseado nas experiências delas com seus próprios filhos, o projeto se desenrola sob a ótica dos funcionários da creche:

— É uma função heroica a dessas pessoas. Adaptação, grupos de Whatsapp e pedidos mirabolantes de pais... É um universo que me assustou. Pais loucos, tendo os filhos como centro de tudo, um mundo muito narcisista... Vamos fazer uma comédia, um "The Office" da creche.

Maria Flor completa 40 anos — Foto: Reprodução/Instagram
Maria Flor completa 40 anos — Foto: Reprodução/Instagram

O que mais não contaram a Maria sobre a maternidade? Que seria como um "caixote de mar", compara. Um caldo do qual ela ainda não emergiu.

- Nunca experimentei, mas de acordo com o que dizem, é como se tivesse tomado três doses de ayahuasca. Você fica loucona nessa onda por um ano - brinca. - Quando o bebê nasce, não tem essa de "quartinho bonitinho". Foda-se a roupinha que vai usar. O neném vai chorar e você vai ter que dar um jeito de ele comer. Se você não estiver lá, ele vai morrer.

Maria esteve. De alma e, principalmente, corpo presente. Passou um ano andando pela casa com os seios de fora e um secador de cabelo apontado para o mamilo. Servia para secar o resto de leite e evitar que o peito grudasse na roupa, provocando feridas. Emanuel foi fundamental no processo. Como já tinha um filho, sabia como as coisas funcionavam. Massageava os seios duros de leite farto de Maria para amenizar o dor.

— Tem gente que sente tristeza, euforia. Eu chorava sem parar. Sentia gratidão. Mas não dormi por três meses. Achei que fosse enlouquecer. Surpresa boa foi o amor e também se descobrir animal. Parir é mágico, a vida toda faz sentido.

Maria Flor completa 40 anos — Foto: Reprodução/Instagram
Maria Flor completa 40 anos — Foto: Reprodução/Instagram

Agora, sua briga é para que Vicente não jogue o resto da comida no chão quando termina as refeições. Mas as antenas também já estão ligadas para cortar pela raiz qualquer traço de masculinidade tóxica.

— Ele tem um irmão de 10 anos e cismou com futebol. Mesmo ainda não estando na hora, penso em como faremos para ele não ser um machistinha terrível.

Antes de engravidar, Maria reclamava da pressão para que as mulheres sejam mães. Depois, da cobrança da sociedade para que voltem à antiga forma física. Agora, ela se sente pressionada a ter sucesso em tudo.

— Há uma pressão para ser bem-sucedida em tudo. Tem que ser a boa mãe, que vai às reuniões e busca todo dia na escola, a profissional com os próprios projetos, a mulher que ganha dinheiro, viaja com a família, transa com o marido. E ainda: não ficar sempre exausta, tem uma pele boa, uma bunda em pé e um cabelo bem pintado.

Ou seja... Frustração na certa.

— Não tenho condições de fazer tudo isso. Tenho escolhido as batalhas. Não consegui voltar a fazer exercício como antes. E tudo bem. Essa pressão de ter que ser foda o tempo todo é cansativa. E temos modelos de pessoas que mostram nas redes que são tudo isso. Dá recalque. As redes são grandes fazedoras de invejosos. É preciso se libertar.

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