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Crítica: Temporada do Balé do Municipal começa, enfim, com três balés em produção caprichada

Diretoria acerta em escolher para 'Joias do Ballet' peças importantes do repertório recente do corpo de baile
Cícero Gomes e Claudia Mota, em "Raymonda" Foto: Wagner Brum / Divulgação
Cícero Gomes e Claudia Mota, em "Raymonda" Foto: Wagner Brum / Divulgação

RIO — A primeira sensação ao ver o Balé do Teatro Municipal voltando a dançar em seu palco principal, depois de um ano e meio de crise , é de alívio. Melhor ainda quando o alívio se transforma em satisfação em assistir à companhia de balé mais antiga e mais histórica do país dando o melhor de si, estampando alegria em estar de novo em cena, apesar de todos os percalços dos últimos tempos.

Assim pode-se definir o espetáculo “Joias do Ballet”, que, anteontem, abriu, enfim, a temporada 2018 do Balé do Municipal, com três peças de seu repertório mais clássico — “Le Spectre de la Rose”, “Les Sylphides” e “Raymonda” — e a presença da orquestra da casa ao vivo.

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A produção surge tão caprichada que nem dá para acreditar que o programa acabou sendo feito às pressas, depois que a direção se deu conta de que não teria recursos financeiros para finalizar a tempo “Coppélia”, balé escalado inicialmente para a abertura da temporada.

Figurinos, cenários e luz seguem a tradição das melhores produções já vistas por lá. Acertada também foi a escolha das diretoras da companhia, Ana Botafogo e Cecília Kerche, de, na correria, lançarem mão do acervo coreográfico da Fundação Teatro Municipal, escolhendo peças importantes do repertório clássico que haviam sido remontadas nos últimos anos e, portanto, ainda estavam na memória e nos corpos do corpo de baile. Neste esforço conjunto, toda a preparação ficou a cargo da própria equipe do balé, incluindo as diretoras.

CLIMA POÉTICO E MUITA TÉCNICA

“Joias do Ballet” começa com “Le Spectre de la Rose”, obra curta criada em 1911 por Michel Fokine para Vaslav Nijinsky mostrar toda a sua técnica como intérprete. É uma peça em que o bailarino (Rosa) brilha mais do que a bailarina, cujo personagem é uma moça sonhadora. Escalado para o papel da Rosa, Alef Albert deu conta do recado, enquanto Priscila Albuquerque também se sai bem como a moça ingênua.

Em seguida, para que o público não deixe a sala num intervalo rápido, a Orquestra do Municipal emenda com a abertura de “Oberon”, de Carl Maria von Weber, mesmo compositor de “Le Spectre de la Rose”.

Cláudia Mota em "Raymonda", do Balé do Municipal Foto: Júlia Rónai / Divulgação
Cláudia Mota em "Raymonda", do Balé do Municipal Foto: Júlia Rónai / Divulgação

Depois, surgem as bailarinas sonhadoras de “Les Sylphides”, peça também de Fokine, em que o coreógrafo usa e abusa do melhor do romantismo das sapatilhas. Clima poético e muita técnica, embalados pela música linda e grudenta de Chopin. Aqui, apesar de todos os esforços, ainda é necessário um pouco mais de ensaio do Corpo de Baile, mas nada que comprometa o todo. Na estreia, Renata Tubarão, Filipe Moreira, Juliana Valadão e Deborah Ribeiro foram certeiros em seus personagens.

O programa termina com a potência avassaladora de “Raymonda”, de Marius Petipa, com música de Alexander Glazunov. Cláudia Mota e Cícero Gomes, dois dos primeiros bailarinos da companhia, mostram que continuam na melhor forma possível, fazendo jus ao título que carregam. Ambos têm técnica perfeita e muita presença de palco. Bonito de ver.

Todo o Corpo de Baile também vem seguindo o bom ritmo. Depois do recomeço com o pé direito, agora é torcer para que esta companhia fundamental para a História da dança no Brasil continue neste rumo.

COTAÇÃO: BOM