O espaço onde funcionou o antigo Teatro do Leblon, que recentemente havia sido rebatizado como Teatro PetraGold, irá a leilão, na próxima segunda-feira (5), com lance inicial estabelecido em R$ 9 milhões. O lugar com duas salas de teatro — e que ocupa um endereço de 540 metros quadrados numa galeria na Rua Conde Bernadotte, na Zona Sul da cidade — passa por um processo conhecido como alienação fiduciária.
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A situação ocorre se o comprador de um imóvel — nesse caso, a empresa PetraGold — deixa de cumprir, no período de três meses, o pagamento das parcelas estabelecidas por meio de contrato. Proprietário e fundador do teatro, que abriu as portas em 1994, Wilson Rodriguez, de 84 anos, quer se desfazer do espaço devido às dificuldades em mantê-lo financeiramente.
O local que, ao longo de três décadas, recebeu espetáculos de sucesso — com medalhões como Fernanda Montenegro, Tônia Carrero e Marília Pêra —, vinha passando por momentos de agonia nos últimos anos. Cerrou as portas, entre idas e vindas, de 2017 a 2019. Há três anos, foi arrendado pela empresa PetraGold, que deu um um banho de loja na Sala Marília Pêra (a outra sala, com nome em homenagem a Fernanda Montenegro, seguiu fechada, com apresentações pontuais de shows folclóricos para turistas). Nesse período, a marca ligada ao mercado financeiro bancou peças única e exclusivamente por meio de patrocínio privado. Recentemente, decidiu então adquirir o imóvel.
— O teatro já havia sido vendido. Mas a empresa que o comprou passou por dificuldades e não honrou o pagamento. Por isso, o imóvel está indo a leilão, conforme a legislação — explica Leonardo Rodriguez, filho e um dos representantes do proprietário Wilson Rodriguez, responsável pela construção de uma dezena de teatros no Rio de Janeiro, entre eles o Teatro das Artes, na Gávea, e o Teatro Fashion Mall, em São Conrado.
Espaço pode deixar de ser teatro
A legislação não obriga o novo comprador a manter o espaço funcionando como um teatro, já que o endereço não é tombado. Se, na segunda-feira (5), não houver lances acima do valor do imóvel, será realizado um segundo leilão, no dia 15 de dezembro, no qual será aceito o maior lance oferecido, desde que igual ou superior a R$ 7,9 milhões, valor que representa o somatório de saldo devedor, dívidas condominiais, despesas com água, luz e gás, IPTU, foro e demais tributos e tarifas, além de gastos com o próprio leilão.
Em 2017, artistas mobilizaram uma campanha para que a casa não fechasse de vez. A atriz Andrea Beltrão afirmou ao GLOBO, à época, que o Teatro Leblon mantém uma "importância imensa" para a cidade. "Por lá passaram peças e artistas que vão ficar para sempre na memória dos cariocas e de todos que tiveram a oportunidade de assistir aos espetáculo", ressaltou ela, na ocasião.
Referência em musicais no país, Charles Möeller e Claudio Botelho cultivam uma longa história com aqueles palcos. A dupla estreou, por lá, espetáculos de sucesso, como “Beatles num céu de diamantes”, “Cole Porter — Ele nunca disse que me amava”e “Ópera do malandro em concerto”.
Há alguns anos, aliás, Möeller e Botelho tentaram ocupar o espaço com uma escola de teatro, mas não obtiveram o patrocínio necessário para seguir com o projeto.
— Quando um teatro se fecha, morre não só um espaço de cultura, entretenimento e lazer, mas também um pedaço da nossa história. Morre, e muito, da história da cultura dessa cidade. É algo que se apaga, cai no esquecimento e se torna uma lembrança. Isso é muito triste, pois estamos perdendo espaços em vez de ganhar endereços que mereçam criar novas memórias — lamenta Charles Möeller.
A reportagem tentou contato com responsáveis pela empresa PetraGold, mas não conseguiu retorno até as 20h desta sexta-feira (2).