Teatro
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Por Gustavo Cunha — Rio de Janeiro

Numa noite de inverno, há pouco mais de seis décadas, a única rádio local de Guarapuava, no interior do Paraná, interrompeu o programa “A voz do Brasil” — algo então proibido por lei — para alertar a população de que um avião com pouco combustível sobrevoava a cidade. Quem tinha carro (e ouviu o noticiário) zarpou para uma área próxima ao pequeno aeródromo do município, em meio ao breu, e acendeu os faróis, numa tentativa de ajudar o piloto na aterrissagem de emergência. A cena está cristalizada na memória de Beto Bruel.

— Tinha uns 8 anos, fui na carroceria da Rural Willys de um vizinho, e de repente vi os veículos lado a lado, com as luzes direcionadas para a pista de pouso. Quando o avião tocou o chão e levantou poeira, diante daqueles fachos, parecia que eu via um filme do Spielberg — relembra o paranaense, aos 73 anos. — Carrego esse efeito comigo até hoje.

Um dos iluminadores cênicos há mais tempo em atividade no país — ele acaba de completar 50 anos de carreira —, Beto Bruel desembrulha a lembrança de infância, com uma clareza rica em detalhes, ao imaginar por que, afinal, encontrou seu ofício em lâmpadas, holofotes e projetores. A resposta é simples: a rigor, o homem de cabelos grisalhos, filho de um serralheiro e uma pintora, sempre gostou de desenhar. E batalhou, de um jeito próprio, para fazer desse hobbie um quadro luminoso.

— O refletor é meu pincel, e meu trabalho é brincar de colorir as cenas. Continuo a pintar, como na época de criança, mas mudei: do lápis e do pincel, fui para o refletor — diz.

Cena da peça "O universo está vivo com um animal" — Foto: Divulgação/Renato Mangolin
Cena da peça "O universo está vivo com um animal" — Foto: Divulgação/Renato Mangolin

Pelos cálculos de Bruel, ele já deu à luz mais de 500 espetáculos teatrais. A peça mais recente foi a que lhe exigiu o maior esforço. Montagem com direção de Nadja Naira e idealização do grupo curitibano Rumo de Cultura, em parceria com Isabel Teixeira, Diego Marchioro e Fernando de Proença — e que encerra neste domingo (25) temporada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro —, “O universo está vivo como um animal” tem a luz como elemento central no palco.

A obra se inspira na biografia de Nikola Tesla, considerado o pai da eletricidade e da comunicação mundial, para trazer à tona fagulhas de ideias e reflexões acerca de temas como energia, magnetismo e tecnologia. O que mais chama atenção, no tablado, é a instalação cênica criada por Bruel, com 20 lâmpadas tubulares fluorescentes manejadas pelos atores Diego Marchioro, Fernando de Proença, Edith de Camargo e Augusto Ribeiro, em coreografia técnica e minuciosa.

— Em qualquer peça, a luz tenta ajudar a contar uma história. Nesse caso, a luz faz parte da dramaturgia — destaca o iluminador. — Com certeza, em meus 50 anos de carreira, nunca havia feito nada parecido com isso, nesse grau. Mas acho que não existe palavra impossível em teatro. Sempre se dá um jeito para tudo, quando se quer criar alguma coisa.

Gênio da lâmpada

A história de Beto Bruel tem contornos curiosos. O paraense começou a se interessar por iluminação na juventude, quando uma turma de colegas do Colégio Estadual do Paraná apresentou uma peça no Teatro Guaíra, em Curitiba. Na ocasião, os responsáveis pela famosa sala perguntaram aos estudantes quem ali faria a iluminação da montagem. E Bruel — que estava sem função, só acompanhando os amigos — levantou os braços. Fez-se então a luz, de repente.

Cena da peça "O universo está vivo como um animal" — Foto: Divulgação/Renato Mangolin
Cena da peça "O universo está vivo como um animal" — Foto: Divulgação/Renato Mangolin

De lá para cá, o profissional tratou de aperfeiçoar, ao seu modo, a atividade. E transformou em profissão um ato nascido de improviso. De maneira autodidata, desenvolveu técnicas, acompanhou a evolução de determinadas ferramentas — das arcaicas barricas de água e sal e dos painéis com fusíveis em papelão às moderníssimas mesas de iluminação —, fundou uma empresa (que forneceu serviços de iluminação para eventos corporativos, incluindo até mesmo os treinos da seleção espanhola na Copa do Mundo de 2014) e — o fato principal, enfim — consolidou-se como referência na cena teatral paranaense, sobretudo ao lado da companhia Teatro de Bolso, em parceria com o dramaturgo, escritor e diretor Manoel Carlos Karam (1947-2007).

Nos anos 2000, quando estreou o sucesso “A vida é cheia de som e fúria”, ao lado do diretor e conterrâneo Felipe Hirsch — com quem já realizou mais de 40 peças e agora prepara um projeto inédito, previsto para estrear em agosto, em São Paulo —, Beto Bruel viu sua luz extrapolar, pela primeira vez, as fronteiras do Paraná. Desde então, passou a ser requisitado por medalhões como Fernanda Montenegro, Marco Nanini, Héctor Babenco, Andréa Beltrão, Roberto Carlos... Foi uma virada tardia, reconhece ele.

— Tive que ir a São Paulo e ao Rio de Janeiro para mostrar que sabia fazer luz. Acho uma pena que não tenhamos uma cena artística mais descentralizada no país — opina. — De repente, já com três décadas de carreira nas costas, me vi na frente de pessoas que sempre admirei. Hoje, fico pensando: “Onde cheguei?” Sei que, a todo momento, há tempo para inventar coisas na vida. Não é? Em se tratando de luz, existem sempre novos desafios. Até porque não dá para dominá-la totalmente (risos).

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