Teatro
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Por Gustavo Cunha — Rio de Janeiro

Ana Beatriz Nogueira não quer saber de muito descanso. Enquanto fala com empolgação sobre o espetáculo “Sra. Klein” — que estreia nesta quinta-feira (3), no Teatro Prudential, na Glória, na Zona Sul do Rio, após elogiada temporada em São Paulo —, a atriz enumera, com a mesma animação, os próximos trabalhos que já mantém à vista. Vêm aí um monólogo inédito, com texto de Gustavo Pinheiro, ainda neste semestre; uma novela na TV Globo, com preparação prevista para o início de 2024; e o relançamento de “Todas as flores”, folhetim do Globoplay e de autoria de João Emanuel Carneiro que chega à televisão aberta em setembro.

— Tenho um pouco de “folgafobia”. Funciono assim. E não é porque paro e falo: “Vou agora pensar num novo trabalho”. Na verdade, sempre penso nisso. Enquanto estou na roda, vou sendo inspirada pelos colegas, pelo público... E aí dá vontade de fazer mais — diz. — Parar não é uma opção para mim. Amigos que não são atores costumam me dizer: “Você está trabalhando muito e precisa se distrair”. Daí respondo: “Estou me divertindo horrores”. É difícil explicar que, depois de fazer a sessão de uma peça, não preciso me divertir mais. A arte é curativa. Ela me acorda! Talento é uma coisa que me desconcerta mais do que viver um grande amor, pode ter certeza. E imagino que também possa ser assim para as pessoas que estejam na plateia.

Da esquerda para a direita, Kika Kalache, Ana Beatriz Nogueira e Natalia Lage, em cena da peça 'Sra. Klein' — Foto: Lucio Luna/Divulgação
Da esquerda para a direita, Kika Kalache, Ana Beatriz Nogueira e Natalia Lage, em cena da peça 'Sra. Klein' — Foto: Lucio Luna/Divulgação

Há mais ou menos 20 anos, a artista teve a tal sensação de ser despertada (“Como se dissesse: ‘Opa, peraí, estava dormindo’”, brinca) após assistir a Nathalia Timberg numa montagem de “Sra. Klein”. À época, o diretor Eduardo Tolentino de Araújo havia chamado Ana Beatriz para integrar o elenco da peça sobre a psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960). A atriz só não aceitou o convite porque estava às voltas com as gravações da novela “Celebridade” (2003). Mas ela gostou tanto do que viu que, desde então, não tirou o espetáculo da cabeça. Devorou a autobiografia de Klein, leu uma série de obras a respeito da psicoterapeuta pós-freudiana... Até que, duas décadas depois, pôs-se, enfim, no desejado papel.

Sob direção de Victor Garcia Peralta, que já havia levado o texto aos palcos, há 33 anos, na Argentina, a nova montagem com dramaturgia de Nicholas Wright apresenta um recorte ficcional na vida da mulher consagrada como mãe da psicanálise infantil. Ao longo de um dia primaveril em 1934, Melanie Klein trava um caloroso acerto de contas com a filha, a também psicanalista Melitta Klein (interpretada por Natália Lage), na companhia da jovem Paula (papel de Kika Kalache), psicanalista — sim, mais uma — tida como pupila da primeira. A morte do filho da protagonista, que usou a prole como cobaia na elaboração de suas teorias, acrescenta doses de mistério à história. Afinal, o que houve com o rapaz? A pergunta é uma sombra constante. Em contraste com o figurino realista, o cenário limpo — apenas 18 cadeiras sobre o chão neutro — indica implicitamente que a resposta deve ser destrinchada pelos espectadores, numa referência sutil à principal formulação de Melanie Klein: um terapeuta não é mais do que uma tela em branco, que deve ser pintada pelo paciente sem interrupções, ela sugeria.

— Cada um na plateia chega à sua conclusão — aponta Ana Beatriz. — Família disfuncional é um tema que não sai de moda. Há ali uma uma lavação de roupa suja, mas também uma estrutura de suspense.

A atriz entende bem do tema. Em narrativas para a TV, já deu vida a uma extensa lista de mães desequilibradas — de Ilana, de “Caminho das Índias” (2009), a Elenice, de “Um lugar ao sol” (2021). A artista lembra que os dois únicos exemplos de tipos mais “funcionais” em sua carreira — Clarice, de “Insensato coração” (2011), e Guiomar, de “Todas as flores” (2022) — morreram no meio da trama.

— O problema de fazer mães boas é que sempre me matam — ri a atriz de 56 anos, sem filhos. —Não penso a maternidade como possibilidade aberta atualmente. Vou fazer 57, né? Na verdade, não acho que deva viver de portas fechadas para nada. Não se sabe o que vai acontecer! Até uns 30 e tantos anos, dizia muito que queria ter filhos. Tinha isso na cachola. Depois, deixou de ser um plano. E aí o relógio biológico me deixou quieta.

Prestes a completar quatro décadas de carreira, Ana Beatriz tem a convicção de que está hoje no lugar certo. A vocação da artista é mesmo o palco ou os sets, a própria frisa. E ai de quem contestá-la. No último ano, três meses após se curar de um câncer no pulmão, a atriz — que, desde 2009, convive com uma forma branda de esclerose múltipla — convenceu médicos a deixarem que ela retornasse ao batente, em “Todas as flores”. O responsável por seu tratamento a orientou, à época, a esperar mais alguns meses. Mas Ana insistiu: “Se os senhor me liberar, veja bem, ficarei boa mais rápido”. Não deu outra.

— Nunca quis fazer outra coisa que não fosse atuar. Meu trabalho é ofício, vida, festa, afeto... É tudo! Não consigo nem fazer o exercício de imaginar o que poderia ser além de atriz — afirma. — E tenho dificuldade de ficar quieta, como dá para notar.

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