Teatro
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Por — Rio de Janeiro

Quem atualmente frequenta as festas que celebram a estética burlesca, o humor camp e o hedonismo do mundo da noite talvez desconheça um gênero que ajudou a colocar lenha nesta fogueira: o teatro de revista. Ao longo da primeira metade do século passado, o gênero importado dos cabarés europeus, popularizado pelo icônico Moulin Rouge, chegou ao auge nos palcos brasileiros. Só que, por aqui, o formato ganhou aquela pimenta típica do carnaval carioca. No centro deste furacão, estava uma das estrelas mais glamourosas deste universo, devidamente emoldurada por plumas, paetês e maiôs cavadíssimos: Virgínia Lane, apontada pelo ex-presidente Getúlio Vargas como a “vedete do Brasil”, o aposto que virou o título do musical que conta a vida da atriz, cantora, compositora e dançarina, desde quinta-feira (30), no Teatro do Copacabana Palace.

A ideia do projeto foi do ator, escritor e dramaturgo Cacau Hygino, cuja carreira inclui a autoria dos livros biográficos “Nicette Bruno — A mãe de todos” (2022, editora Letramento) e “Zezé Motta — um canto de luta e resistência” (2018, editora Companhia Nacional), e do espetáculo musical “Herivelto como conheci”, estrelado em 2012 por Marília Pêra e em 2022 por Totia Meirelles.

— Foi na casa da Zezé (Motta) que conheci o maquiador Alex Palmeira, que foi muito amigo de Virgínia. Ele estava preparando cabelo e make-up da Zezé para uma sessão de fotos para divulgar o livro. Papo vai, papo vem, ele começou a falar da Virgínia. Na hora, eu já encasquetei com a ideia de fazer alguma coisa com isso — conta Cacau.

Detalhes ocultos

A conversa com Alex motivou uma pesquisa voraz sobre a diva dos palcos. Nascida na cidade de Piraí, em 1920, a menina batizada como Virgínia Giacone era filha de pai italiano e mãe brasileira. Estreou aos 15 anos, na Rádio Mayrink Veiga, cantando no programa “Garota bibelô”. A trajetória como vedete — uma espécie de cantora, mestre de cerimônias, comediante e entertainer — teve o ponto de partida no palco do lendário Cassino da Urca, em 1943, nos espetáculos de Carlos Machado.

Antes disso, Virgínia também chegou aos cinemas, estreando em 1935 em “Alô, alô, Brasil”, ao lado de luminares como Ary Barroso, Carmem Miranda e Francisco Alves. Ao todo, foram 26 filmes. A estrela nos deixou em 2014, aos 93 anos, em Piraí, onde morou nos últimos anos.

— Nós queríamos contar a história de Virgínia a partir daqueles detalhes que não são possíveis de encontrar no Google — diz a dramaturga Renata Mizrahi, que assina com Cacau a autoria do espetáculo. — Coisas como a música que ela mais gostava de cantar, o que a emocionava, do que ela falava em casa. Não é um documentário, então não existe uma “linha do tempo” muito clara no espetáculo.

E, para interpretar uma grande estrela, só outra. Cacau diz que quando escreveu a primeira versão da peça pensou imediatamente em Suely Franco, uma das decanas da TV e do teatro brasileiro.

— Sempre fui fã de Virgínia, ainda que não a tenha conhecido — conta a experiente Suely, que estreou na TV em 1958, no Grande Teatro Tupi; e no cinema em 1968 em “Dois na lona”, de Carlos Alberto de Souza e Barros.

Os trabalhos mais recentes são a série “Família Paraíso”, no Multishow (2022), e o filme “Fervo” (2023), de Felipe Joffily.

No musical, Suely interpreta Virgínia na maturidade. As atrizes Bela Quadros e Flávia Monteiro fazem as versões mais jovens da vedete. O pedido foi da diretora Claudia Netto, ela própria uma das atrizes mais experientes do teatro musical brasileiro.

— Quando Cacau me chamou para a direção, comecei a sugerir muita coisa porque eu sempre tive esse olhar do todo, mesmo quando trabalhava exclusivamente como atriz — diz Claudia, que considera este projeto sua estreia verdadeira na direção.

Ainda que ela já tivesse assinado a direção de espetáculos como “Herivelto como conheci”, na versão de Totia Meirelles, em “A vedete do Brasil” Claudia esteve envolvida em todos os passos da construção do espetáculo:

— Estou muito orgulhosa do resultado que conseguimos.

Em “A vedete do Brasil”, o espectador acompanha uma conversa entre Virgínia e sua filha. Ao longo do papo, a diva relembra momentos de glória, o relacionamento extraconjugal que teve com o então presidente Getúlio Vargas ao longo de 15 anos, e os momentos traumáticos que a levaram a proibir que a filha seguisse a carreira artística.

— Quando eu tinha uns 15 anos, comecei a fazer curso de modelo. Mas, todas as vezes que eu era selecionada para algum trabalho, minha mãe aparecia na agência e “tocava o terror” nos produtores, avisando a todo mundo que ela acompanharia o trabalho, me protegendo. Aí eles desistiam de me contratar —conta Marta Lane, que acabou desistindo do projeto artístico e hoje é advogada.

Virgínia Lane, que engrenou na carreira na primeira metade do século 20: estreia aos 15 anos, shows no Cassino da Urca e romance longo com Getúlio Vargas — Foto: Reprodução
Virgínia Lane, que engrenou na carreira na primeira metade do século 20: estreia aos 15 anos, shows no Cassino da Urca e romance longo com Getúlio Vargas — Foto: Reprodução

Segundo Marta, não eram poucos os relatos de machismo e hipocrisia enfrentados por Virgínia no dia a dia. As mesmas pessoas que a aplaudiam nos palcos da Praça Tiradentes, quando integrou o elenco dos espetáculos de Walter Pinto, também a apontavam na rua, quase sempre com palavras pouco amistosas.

— Ela foi muito humilhada e não queria aquilo para mim — diz Marta. — Mas, quando eu estava mais velha, uma vez, minha mãe viu que as inscrições para o concurso Garota Playboy estavam abertas. Ela me disse “Vai lá!”. Não entendi nada, mas ela explicou: “Agora você não é mais boba, já pode ir, se quiser”.

Marta acha graça da situação.

— Mas eu já estava em outra — conta.

Pé de meia de aposentada

De boba, Virgínia não tinha nada. Além de ter se preparado financeiramente para a aposentadoria, guardando boa parte do dinheiro que fez no teatro e no cinema, ela ainda trabalhou até o fim da vida. A última participação foi na novela “Sete pecados” (2007), em que interpretou a si mesma, numa homenagem às principais vedetes brasileiras. Uma turma que também será homenageada no espetáculo que fica em cartaz até o fim de janeiro num dos teatros mais elegantes do Rio.

E, para quem achar que a temporada será longa, Suely Franco tem um recado que poderia muito bem ter sido extraído de algum diálogo com Virgínia Lane:

— Meu filho, no meu tempo nós ficávamos em cartaz três anos! Dois meses não são nada.

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