Teatro
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Por — Rio de Janeiro

Eles até se separam, mas não se desgrudam. O público também não os abandona. Mariano e Roberta — personagens da peça de Leilah Assumpção “Intimidade indecente” que interrompem o casamento aos 60 anos, permanecendo, porém, conectados ao longo do tempo — voltam, neste sábado, ao palco no Teatro Riachuelo, no Centro do Rio.

Sempre que esse casal volta, causa sensação. Desde que estreou, em 10 de agosto de 2001, em São Paulo, a peça vem retornando em sucessivas temporadas no Brasil e em Portugal. Marcos Caruso faz o papel desde o princípio. Já a atriz foi substituída no decorrer dos anos. De início, Roberta era interpretada por Irene Ravache. Depois entrou Vera Holtz. Adiante, Eliane Giardini. No caminho houve mais uma montagem com Otávio Augusto e Lucinha Lins.

— As atrizes puxaram energias distintas em mim. Costumo dizer que Irene era um violino e Vera, uma tuba. Eliane alia sensualidade à delicadeza — observa Caruso, que não se sente fazendo “Intimidade indecente” repetidamente.

Otávio Augusto e Lucinha Lins como Mariano e Roberta em Intimidade indecente, de 2006 — Foto: Divulgação
Otávio Augusto e Lucinha Lins como Mariano e Roberta em Intimidade indecente, de 2006 — Foto: Divulgação

Dos 49 anos aos 71

Não teria mesmo como ser igual. Basta lembrar que Caruso começou a atuar na peça com 49 anos e hoje está bem mais próximo das faixas etárias abordadas por Leilah Assumpção.

— Quando estreei essa peça, ninguém na minha família tinha envelhecido a ponto de me fornecer uma referência exata. Eu fazia o idoso que achava que viraria. Neste momento, faço o idoso que sei que virarei — declara Caruso.

O próprio envelhecimento — que, na peça, é realizado pelos atores sem auxílio de maquiagem — não acontece mais como em décadas atrás.

— Os idosos agora malham, tomam suplementos, fazem check-up — ressalta Eliane Giardini.

As mudanças não surgem refletidas “apenas” na esfera individual. O comportamento e a dinâmica entre homens e mulheres na sociedade vêm sendo aprimorados. O feminicídio, contudo, continua uma tragédia diária. É o que constata a autora do texto.

— Antigamente, os homens me irritavam. Não obedecia a namorados e maridos. Queriam me tolher. Eu era independente. Hoje noto que há homens que se modificaram e fiquei mais maternal com eles — diz Leilah Assumpção, que pondera sobre os criminosos. — Muitos se consideram donos das mulheres e, quando elas tentam se libertar, são assassinadas.

Se o homem não mudou tanto quanto deveria, o debate a respeito da sexualidade ganhou impulso.

— Em 2001, Roberta falava sobre a sua sexualidade e as mulheres na plateia ficavam constrangidas. Hoje se sentem orgulhosas — frisa Caruso.

Mas ainda há quem se sinta incomodado.

— O público de Lisboa foi o mais conservador que tivemos. Roberta sofreu rejeição. Felizmente isso não ocorreu em outras regiões de Portugal — comemora Giardini.

Irene Ravache com Caruso em 'Intimidade indecente': envelhecimento era visto de outro jeito — Foto: Divulgação/João Caldas/Marra Comunicação
Irene Ravache com Caruso em 'Intimidade indecente': envelhecimento era visto de outro jeito — Foto: Divulgação/João Caldas/Marra Comunicação

Segredo do sucesso

Variações à parte, a grande repercussão alcançada pelas versões do espetáculo junto ao público está ligada à identificação suscitada por Mariano e Roberta. De qualquer maneira, cabe indagar: sucesso tem receita? Caruso — autor de “Trair e coçar... é só começar”, uma peça tão popular que recebeu menções no Guinness Book — responde:

— A junção de elementos de qualidade numa montagem faz com que o artista se aproxime do sucesso. Mas não adianta correr atrás dele, tentar calcular.

Giardini concorda que não há como produzir artificialmente um hit:

— Se existe segredo do sucesso, essa matemática não tem como ser acessada. Para nós, não há explicação. É a primeira vez, inclusive, que faço uma peça que o público não deixa sair de cena.

As reações emocionadas dos espectadores — que esperam os atores no término das apresentações para relatar histórias particulares — se acumulam.

— Em Portugal, uma moça de 23 anos me abraçou chorando e perguntou: “Quem será a pessoa que eu ainda conhecerei e que me amará tanto a ponto de vir me buscar no final da vida?” — conta Caruso.

Giardini elege mais um depoimento, dado numa das sessões que antecederam a temporada que começa neste sábado:

— Em Belo Horizonte, um radialista disse: “Eu saí de casa brigado com a minha mulher. Tenho que voltar rapidamente para fazer as pazes. Não há tempo na vida para ficar brigado”.

Marcos Caruso e Eliane Giardini se conheceram há 40 anos. Caruso e Irene Ravache também estabeleceram parceria profissional antes de “Intimidade indecente”. No teatro, ele a dirigiu na montagem de “Brasil S.A”, texto de Antônio Ermírio de Moraes, em 1996.

Depois de quatro anos de “Intimidade indecente”, ela decidiu se afastar em 2004. Foi substituída por Vera Holtz numa passada de bastão singular.

— Na primeira apresentação marcada para Vera Holtz fazer, eu apareci em cena interpretando Roberta. Os espectadores, a maioria convidados, se surpreenderam. Devem ter se perguntado: “Será que Holtz adoeceu?” Logo no início da peça, Roberta e Mariano brigam e eu disse: “Não aguento mais. Vou chamar uma pessoa para ficar com você bastante tempo. Vera Holtz, venha aqui. Ele é todo seu.” A plateia adorou — exalta Ravache.

Quando Vera Holtz entrou, a concepção da montagem foi alterada com o ingresso de Guilherme Leme Garcia, que, como diretor, lançou proposta diversa da original, de Regina Galdino. A roupagem do espetáculo mudou, mas a peça de Leilah Assumpção se manteve intacta.

— As questões que ela coloca, principalmente em relação à liberdade de escolha da mulher, atravessam esses anos todos em que a montagem está em cartaz — avalia Holtz.

A prova de que o texto continua na pauta do dia está no projeto de adaptação para o cinema. Em fase de captação de recursos, o filme, que será dirigido por Bruno Barreto, trará Giovanna Antonelli e Alexandre Nero nos papéis centrais.

— Farei o filme em homenagem aos meus pais, casados há 70 anos — afirma Bruno, referindo-se aos produtores Lucy e Luiz Carlos Barreto. — Sempre pensei em Antonelli, com quem havia trabalhado em “Bossa Nova” (2000) e “Caixa dois” (2007), e não sabia que ela já tinha o desejo de levar essa história para as telas. Foi uma grande coincidência.

A intimidade, como se pode ver, gera novos frutos.

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