Cultura Teatro e Dança

Sem bilheteria e com despesas fixas, companhias teatrais buscam sobrevida fora do palco

Grupos de de Natal, Rio, São Paulo e Belo Horizonte apelam para diferentes atividades a fim de manter suas estruturas
Luiz Fernado Lobo (centro) e o elenco da Cia Ensaio Aberto Foto: Divulgação
Luiz Fernado Lobo (centro) e o elenco da Cia Ensaio Aberto Foto: Divulgação

RIO — Entre as primeiras atividades a serem interrompidas com a quarentena e ainda longe da retomada, o teatro foi uma das áreas mais afetadas pela pandemia de Covid-19. A ausência do público e a consequente falta de bilheteria geram problemas ainda maiores para as companhias, tanto pelas despesas fixas com sede, equipamento e pessoal quanto pela impossibilidade de manter seu trabalho continuado.

Grupos tradicionais, como o Armazém, já enfrentavam a perda de patrocínios antigos. Outros, como o Teatro Oficina, viram surgir novos problemas durante a quarentena, como o despejo de seu acervo de um casarão no bairro do Bixiga, no final do mês passado. A internet vem sendo uma saída possível, mas ainda longe de cobrir os prejuízos e os projetos previstos para o ano.

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— Vamos estrear as montagens virtuais de “Paranoia” e “O bailado do deus morto” — conta o ator e diretor Marcelo Drummond, do Oficina. — Trabalhar ajuda a cabeça, mas todos têm que sobreviver. Alguns atores estão desenvolvendo outras atividades. Vamos tentando resolver os problemas aos poucos, como o acervo, que está ocupando toda a nossa sede. Se voltássemos hoje, não poderíamos trabalhar lá.

Trabalhar à distância não é novidade para a atriz e diretora Quitéria Kelly, fundadora do Grupo Carmin, de Natal (RN). No Rio há três anos, ela já mantinha reuniões e ensaios virtuais com a equipe e o elenco, da capital potiguar. A partir de um espetáculo em ensaio, o grupo da premiada “A invenção do Nordeste” conseguiu montar cenas para editais de emergência, o que não chega a cobrir o cachê do elenco.

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— Além da nossa sede em Natal, temos um galpão no Rio para cenários, já que o frete para o Sudeste fica mais caro — comenta Quitéria. — Só um ator do grupo conseguiu o auxílio emergencial, e não sabemos o quanto mais vamos ter que esperar pela Lei Aldir Blanc. Os recursos demoram, ainda mais sem ter uma previsão de volta.

Referência de Minas no teatro, o Grupo Galpão vai lançar em agosto em seu canal no YouTube o documentário “Éramos em bando”, registro de seu trabalho à distância na quarentena. Mesmo contando com patrocínio da Cemig, o grupo faz as contas para fechar as despesas.

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— A nossa sede tem uma estrutura grande, assim como nossa equipe. O virtual é uma saída, mas monetizar ainda é um desafio — observa o ator Eduardo Moreira.

Para os cariocas da Cia Espaço Aberto, a saída tem sido recorrer a emendas parlamentares federais, restritas a grupos sem fins lucrativos.

— Nós já tínhamos esse modelo ( sem fins lucrativos ) desde 2008, mas é um processo demorado e com custos, não pode ser visto como saída de emergência — diz o diretor Luiz Fernando Lobo, que durante a quarentena tem oferecido cursos gratuitos on-line para grupos pequenos. — No Brasil temos essa loucura de companhias terem de sobreviver no mercado, sem apoios culturais.

A celebração de 20 anos de abertura do espaço dos Satyros na Praça Roosevelt, em São Paulo, foi adiada pela pandemia. Com salários em dia graças a um prêmio de fomento estadual, a companhia vai estrear uma nova versão de “Todos os sonhos do mundo”, encenada em lives logo no início da quarentena.

Apesar de o governo do estado já falar em reabrir teatros, cinemas e museus (na capital, a ideia é retomar no dia 27, caso o número de casos de Covid-19 se estabilize), a volta ao espaço dos Satyros deve ficar para 2021.

— Nosso espaço é pequeno, em arquibancada, os camarins também não são grandes. Fechamos antes da maioria dos teatros e nos preparamos para ficar assim pelo resto do ano. Por outro lado, pela internet estamos começando a ensaiar projetos com elencos de outros países — conta Ivam Cabral, ator e cofundador dos Satyros.