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Por Mari Teixeira — Rio de Janeiro

De capa, chapéu e cajado na mão é como se materializa o Velho do Rio. Na pele de homem e sucuri, o místico personagem de "Pantanal" conquistou a audiência com a história sobrenatural somada a atuação de Osmar Prado. No capítulo desta terça-feira (28), uma queimada atinge o bioma e deixa a versão animal do Velho ferida, agonizando. É Juma quem salva sua vida.

— O Velho é uma entidade. Ele tem uma força, que vai ao contrário da tendência do mundo hoje. A mensagem é que não adianta o homem lutar contra a natureza, ela é muito mais forte. Como ele próprio diz: “o homem é o único bicho que envenena a água que bebe, que maltrata o bicho que come e que derruba a árvore que limpa o ar que ele respira”. Acho que a novela levanta essas reflexões — avalia o ator que dá vida ao personagem.

O sucesso nas redes, no entanto, Osmar Prado não vê. O ator de 74 anos não tem perfil no Instagram nem no Twitter. As três filhas, a irmã e a mulher, Vânia Penteado, são quem o informam do que está acontecendo:

— Sou da geração do "telefonão" preto e ainda apanho com essas questões. Mas eu sei que o Velho do Rio tornou-se popular, inclusive entre as crianças. Me pediram até pra fazer uma gravação para o neto do Caetano Veloso porque tem um vídeo dele dizendo que quer ver o Velho do Rio — diverte-se.

Osmar atribui parte da popularidade da figura do Velho do Rio também à caracterização. Maquiagem e figurino foram fundamentais para a construção do homem-sucuri desde o início. A capa, aliás, pesa aproximadamente cinco quilos e é feita de couro de boi, tem por dentro uma espécie de colete feito em tiras também de couro que ficam presas ao tórax do ator. Dessa forma, ele consegue ter os braços livres, inclusive para segurar o cajado na mão direita. Quanto à maquiagem, os traços da idade foram acentuados, enquanto cabelos e barba já estavam sendo cultivados pelo ator durante o isolamento social, mesmo que ele ainda não soubesse que estaria escalado para o remake.

— O peso não me atrapalhou em nada. No dia da gravação da queimada, o assistente de câmera acidentalmente, coitado, pisou na minha capa e eu não parei. Senti o tranco e continuei. Como eles estavam filmando de costas, foi como se eu tivesse tropeçado em alguma coisa. Esses acidentes contribuem também para a nossa união (homem + capa). Sem essa capa não existiria Velho do Rio — opina Osmar.

Carregar nas costas o peso, literal e figurativo, desse personagem emblemático é resultado de 64 anos de experiência e de, sim, muito exercício físico. Diagnosticado com diabetes tipo II e curado de um câncer, detectado em 2013, que acometia o músculo responsável pelo movimento da cabeça, Osmar precisou incorporar na rotina a malhação:

— Fiz duas cirurgias, três sessões de quimioterapia e 30 de radio. Fiquei com pequenas sequelas. Perdi barba na base do maxilar do lado esquerdo e fiquei com um pequeno deslocamento de ombro para frente por conta da cirurgia, o que resolvo com muito exercício; corro, faço argola... Fora isso, tenho as limitações normais de um homem de quase 75 anos. Quero viver a juventude dos 75, e foi o que me possibilitou fazer o Velho do Rio da forma que a gente está vendo. Até porque se eu não tivesse o preparo físico que tenho, eu não poderia caminhar dentro do rio como caminhei, remar como remei, subir em árvore...

Osmar Prado como Velho do Rio e Alanis Guillen como Juma — Foto: João Miguel Júnior
Osmar Prado como Velho do Rio e Alanis Guillen como Juma — Foto: João Miguel Júnior

'Tenho uma sensação de Deus dentro de mim'

Osmar Prado deu vida a personagens icônicos das novelas como o Tião Galinha, de "Renascer"; o Tabaco, de Roda de Fogo; o coronel Epaminondas Napoleão, de "Meu Pedacinho de Chão", o Barão de Araruna, em "Sinhá Moça" e Sérgio Cabeleira, em "Pedra sobre Pedra". "Pantanal", no entanto, entregou a Osmar um material sensível e engajado com as causas ambientais com o qual pode se identificar.

— O Velho do Rio prega a libertação da ganância para fazer do mundo um lugar cooperativo e solidário. Uns chamam isso de humanismo cristão, outros chamam de comunismo, outros de socialismo. Não existe uma saída para o mundo que não seja se tornar um espaço solidário, humano, protetor daquilo que a Terra nos dá de forma tão abundante — opina o ator, que é um defensor da democracia. — Nós temos eleições em outubro, e eu espero que votem pela democracia, se unindo ao que aconteceu na Colômbia, no Chile, na Bolívia e na Argentina. Esse governo tem que ser posto para fora no voto e sem agressão, fazendo valer a urna eletrônica.

É também na filosofia de vida que Osmar Prado se encontra no Velho do Rio. O ator - que diz que não é religioso, mas tem religiosidade - afirma que sente a presença de Deus quando prega o amor.

— Eu tenho a sensação de Deus dentro de mim. Quando ele me torna generoso, ou quando preciso participar de posições políticas progressistas em que bem-estar social, educação e cultura são como diz o Gilberto Gil: “cesta básica”. Quando você trancafia o ser humano de maneira que ele não tem poder de avanço mental e espiritual, você o mata.

A trajetória de Osmar não o envaidece. Fora das telas, o ator cuida da casa, dos quatro cachorros e três gatos. Pouco antes de atender o telefone para dar essa entrevista, Osmar estava consertando um vaso sanitário.

— Olha, você sabe o que eu acabei de fazer aqui na minha casa, eu e meu caseiro? Nós tiramos uma caixa acoplada do vaso sanitário, tiramos o vaso, corrigimos um anel de borracha que estava fora do lugar e que impedia que a descarga fosse dada corretamente e remontamos. Esse é o Osmar do dia a dia. Acabei de limpar o ralo do banheiro no meu quarto e da Vânia. Eu boto a mão na massa — diz.

50 anos da 'Grande Família'

Se 2022 foi bom para Osmar pelo sucesso em "Pantanal", é importante também pela comemoração dos 50 anos da primeira versão do seriado "A Grande Família". O ator, que é o único vivo do elenco original, interpretava Júnior, filho de Dona Nenê e Lineu que não foi adaptado na versão mais recente.

Na época, o personagem tinha cunho político. A série foi ao ar entre 1972 e 1975, em plena ditadura militar, e o rapaz buscava manter discussões esquerdistas e de cunho social com a família. Mesmo sofrendo censura, Osmar diz que os autores, Oduvaldo Vianna Filho e Armando Costa, conseguiram passar alguns recados.

— Dali nasceu o embrião que me levaria a ser o que sou hoje. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Comecei a ser ator e a entender a importância da minha profissão. Eles determinaram que eu não seria um galã, mas um ator de caracterização. Me encontrei, consegui despontar e desenvolver meu interior pré-disposto a me expor através do personagem, trabalhar em prol dele e me recolher. A emoção que empresto ao Velho do Rio, exposta ou contida, é produzida somente para ele — explica.

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