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Por Talita Duvanel

Em 17 de outubro de 2008, Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, era retirada de seu apartamento, em Santo André (SP), com um tiro na cabeça e outro na virilha, disparados por um ex-namorado, Lindemberg Alves Fernandes, de 22. Ele tinha mantido a menina refém por quase cinco dias, num dos sequestros mais chocantes do país. Horas depois, ela não resistiu, e a morte cerebral foi confirmada.

A história da adolescente, assassinada quando a sociedade ainda não havia assimilado o termo “feminicídio”, é o ponto de partida para o retorno do “Linha direta”, que estreia na próxima quinta-feira (4) na TV Globo após “Cine Holliúdy”. Fora da grade desde 2007, o programa, agora com a apresentação do jornalista Pedro Bial, ganha temporada de dez episódios, na esteira de um interesse crescente pela temática de true crime em filmes, séries, podcasts e livros.

— Lá atrás, o “Linha direta” foi um precursor, não tinha um programa assim na TV — diz Monica Almeida, diretora artística da atração. — Mas, desde que ele saiu do ar, muita coisa apareceu. É um gênero consagrado, e apareceu um público muito forte para ele.

Dramatização do Caso Eloá, no primeiro episódio da volta do Linha Direta — Foto: Fabio Rocha/Globo
Dramatização do Caso Eloá, no primeiro episódio da volta do Linha Direta — Foto: Fabio Rocha/Globo

O novo “Linha direta” mantém o DNA do original. A cada episódio, resgata crimes clássicos do noticiário, já solucionados, como o caso Eloá, o assassinato do menino Henry Borel, a “Barbárie de Queimadas” (estupro coletivo seguido de assassinato na cidade de Queimadas, na Paraíba) e o linchamento de Fabiane Maria de Jesus, primeiro caso de fake news que resultou em morte no Brasil.

No mesmo dia, apresenta-se um caso em aberto, em que o público pode contribuir com informações sobre foragidos. “Sua identidade será mantida no mais absoluto sigilo”, a frase que virou um clássico, dita pelos apresentadores anteriores, Marcelo Rezende e Domingos Meirelles, mantém-se nesta versão. As colaborações podem ser feitas pelo número 181 ou os do disque denúncia em cada estado.

Outros tempos

As principais mudanças do programa acompanham as transformações sociais do Brasil e tecnológicas do mundo. Segundo a equipe, a opção por crimes de feminicídio para a estreia é um exemplo de que o programa agora traz para si a responsabilidade de refletir mais a fundo o impacto social desse tipo de violência e outras, como racismo, LGBTQfobia, infanticídio.

— Queremos não só honrar a tradição do “Linha direta”, mas fazer jus a esse legado. E avançar e evoluir, já que, durante esse tempo em que o programa ficou fora do ar, o mundo mudou muito em todas as suas formas — diz Bial, que, no episódio sobre Eloá, também vai conduzir uma crítica sobre a cobertura da imprensa no caso.

Recursos tecnológicos atuais, com imagens de câmeras de segurança e de celulares, também impactam a construção das narrativas, que agora são mais documentais. Uma exigência dos novos públicos nesses novos tempos.

— A primeira versão tinha uma ênfase muito grande nas simulações. Agora, temos um foco maior no documental, até por causa das novas pegadas de true crime — diz Monica. — Quando você tem (uma entrevista de) uma sobrevivente, mãe de uma vítima, você tem uma força narrativa imbatível. A dramatização continua, é um aspecto muito importante, mas o documental ganha força e brilho.

No QG do “Linha direta”, um galpão nos Estúdios Globo na Zona Oeste do Rio onde acontecem as gravações, Bial vai entrevistar muitos dos personagens-chave das histórias recontadas. Num dos episódios, o jornalista recebe Leniel Borel, pai de Henry Borel, menino de 4 anos assassinado, e cuja mãe e padrasto estão no banco dos réus.

— Vejo a sociedade mais organizada do que há 20 anos — diz Marcel Souto Maior, que divide a redação final com Bial. — Temos instituições mais consolidadas, há redes de proteção devidamente nominadas. Então, é mais fácil divulgar. O pai de Henry tem uma instituição hoje que leva o nome do filho, voltada para proteção de famílias que sofreram dramas parecidos com o dele. Quando Pedro convida o pai dessa vítima para o QG, ele está falando para outras vítimas: “Vocês podem procurá-lo.”

Marcel foi supervisor de textos no “Linha direta” de 1999 a 2005 e teve a ideia de trazê-lo novamente para a TV. Para ele, o programa nunca foi sobre “levar foragidos para a cadeia” e, sim, sobre cumprir uma função de alerta social.

—Quando a pessoa assiste ao “Linha direta”, ela pode se reconhecer naquele programa e falar: “Estou vivendo um drama muito parecido e correndo um perigo maior até do que imaginava” — reflete. — Acho que esse papel social estava fazendo falta no Brasil, porque ele acende luzes de emergência, aponta caminhos para proteção.

Fake news e justiceiros em pauta

Num país onde o número de pessoas armadas aumentou nos últimos anos e num mundo em que o ambiente digital ajuda na proliferação de boatos, a equipe do programa diz estar atenta para coibir discursos de “justiça com as próprias mãos”. Tanto que um dos episódios vai tratar justamente desta questão, atrelada ao que Marcel Souto Maior, redator do programa, chama de “outra praga do nosso tempo”, as fake news.

É o caso do linchamento de Fabiane Maria de Jesus, vítima de uma notícia falsa que se espalhou nas redes sociais de seus vizinhos no Guarujá, que a acusava de sequestrar crianças e se envolver em rituais satânicos. Por isso, a comunidade local a espancou até a morte.

— O Brasil está mais armado do que nunca, nós sabemos o perigo que é — diz Marcel. — Vamos sempre tomar cuidado. Pedro vai falar para encaminhar a denúncia para as autoridades, para não fazer justiça com as próprias mãos. Precisamos ser muito cautelosos na identificação. A nossa missão é cuidado.

Este e todos os outros episódios terão, sempre às sextas-feiras, conteúdos extras disponíveis em áudio para complementar o episódio da TV. É o “Linha direta podcast”, disponível nos principais tocadores de podcast e no Globoplay, com entrevistas com jornalistas, roteiristas e pesquisadores dos casos que passaram na TV, além de impressões de Pedro Bial e outros conteúdos de bastidores.

— As pessoas se interessam pelo trabalho jornalístico — diz a diretora artística, Monica Almeida. — Então, vamos sempre acrescentar todo esse lado da reportagem. Não queríamos que o podcast fosse apenas o áudio do programa da TV (Talita Duvanel)

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