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Por — Rio de Janeiro

Hedonista por convicção e inconsequente a ponto de abandonar filhos, casamento e trabalho em função do puro prazer de uma vida regada a sexo e drogas — e que termina atravessada pelo Parkinson. Silvio, um dos protagonistas da série “Fim”, no ar no Globoplay, é, sem dúvida, o personagem mais desafiador da carreira do ator, humorista e roteirista Bruno Mazzeo.

Acostumado a trafegar pela zona de conforto do humor, por onde conduziu sua trajetória, o artista de 46 anos desbrava, pela primeira vez, um caminho denso que lhe exigiu mais estudo que qualquer experiência profissional anterior e um trabalho de preparação até então inédito em sua carreira. E que também provocou muitas reflexões em seu intérprete.

— Morte e velório são os condutores de “Fim” e, vendo aquilo, só consegui pensar em vida. A gente não sabe se vai casar, ter filho, se o Vasco vai ser campeão (risos). Mas morrer a gente sabe que vai. Silvio é muito mais inconsequente que eu, mas acho lindo o quanto ele se joga na sua escolha. Estou em um novo momento e me sinto renascido, me jogando na vida com a rede de proteção dos amigos, da família e do meu trabalho — diz Bruno, que tem na parede de casa a frase “arte é para corajosos” escrita em neón.

Bruno Mazzeo: 'Me sinto renascido, me jogando na vida' — Foto: Guito Moreto
Bruno Mazzeo: 'Me sinto renascido, me jogando na vida' — Foto: Guito Moreto

É que “Fim” significa mesmo parte de um recomeço para Bruno. Marca um ponto de virada na vida do artista, que cresceu nos bastidores da TV e revelou o talento precoce ao estrear na TV em 1991, aos 13 anos de idade, como redator da “Escolinha do Professor Raimundo”, programa criado por seu pai, Chico Anysio.

O novo ciclo inclui o encerramento do contrato de 27 anos com a TV Globo e projetos autorais na TV, no streaming e no teatro. Iniciativas que sedimentam a ideia de balanço: duas novas temporadas de “Cilada”, programa que o projetou como autor e que ganha episódios comemorativos, em dezembro, no Globoplay, para marcar 15 anos da última exibição; a peça “Gostava mais dos pais”, frase que ouviu a vida inteira e agora intitula um espetáculo em que homenageia e “mata” o pai ao mesmo tempo; e um documentário sobre Chico Anysio, que ele roda para o Globoplay.

“Cilada” segue a mesma narrativa original, focada nas agruras cotidianas sob o ponto de vista do protagonista, Bruno, alter ego de Mazzeo, um homem branco hétero (“é o que eu sou, não tem como fugir do meu olhar”, enfatiza seu intérprete). Mas as questões dele são outras. Agora está casado. O roteiro busca dialogar com 2023. Tanto em termos de tecnologias — saem o celular de flip e o Orkut; entram iPhone, Whatsapp... —, quanto no tom das piadas que regam o clássico mau humor do personagem.

— Comédia tem que comunicar com o seu tempo. O que é engraçado em 2023? Algo que não cabe na sociedade, não pode ser contado, não vai ter graça. O mundo mudou e eu não sinto dor com isso ou aquela coisa de “ah, é muito difícil fazer humor hoje em dia”. Não acho. É como é a vida. Se certos comentários, olhares, posturas não cabem na vida, não podem caber num programa de humor que fala sobre a vida — afirma. — Nunca tive problemas em função das relações que eu tenho. Vou aprendendo na vida e isso vai refletindo no trabalho. Valores que meu filho João, de 18 anos, traz naturalmente porque não ele foi de um jeito e teve que se adaptar aos 40 e poucos anos como eu.

É justamente a estranheza e adequação (ou não) aos novos tempos que servem de costura para “Gostava mais dos pais”, espetáculo que Bruno vai encenar, em 2024, com o grande amigo Lúcio Mauro Filho, filho do comediante Lucio Mauro. No palco, a dupla refletirá sobre as transformações do humor ao longo do tempo e o impacto das novas mídias nesse universo.

— Estou com 46 anos e Lucinho, com 49. Vamos falar sobre essa nossa posição hoje, meio deslocados no tempo. A galera jovem está produzindo e se consumindo. A gente ainda não é o coroão, mas não é mais a geração que se comunica com os jovens. O Casimiro, por exemplo, se comunica muito mais diretamente. Eu adoro os reacts dele.

Chico Anysio e o filho Bruno Mazzeo — Foto: Arquivo pessoal
Chico Anysio e o filho Bruno Mazzeo — Foto: Arquivo pessoal

Uma cena emblemática da peça mostra uma reunião por videochamada com uma empresária especializada em internet, que dá conselhos para que a dupla, meio confusa diante das sugestões dela, engaje melhor nas redes. Um mundo que Bruno, pessoa física, também ainda está tentando entender.

— Eu nem saberia fazer uma dancinha de Tik Tok, ficaria ridículo. Vejo pessoas mais velhas tentando acompanhar e acho meio constrangedor. Mas não julgo. Eu é que sou tímido e não conseguiria fazer algo que sinto como uma forçação para mim — analisa. — É isso que a gente vai questionar: alguém ainda está interessado em ver o que a gente faz? Foi um ano escrevendo “Cilada”. Os caras fazem um vídeo num churrasco... e fica hilário. Como se adaptar ao mundo sem deixar de ser a gente? Porque não adianta lutar contra é a realidade, tem que aceitar.

Com texto assinado por Aloísio de Abreu e Rosana Ferrão, direção de Débora Lamm e produção de Monique Gardenberg, a peça, claro, também vai brincar a origem comum de Bruno e Lucinho, como ele chama o parceiro.

— Até hoje, continuam falando “o filho do Chico Anysio” em todas as matérias e lugares. Imagina o Lucinho, que tem o mesmo nome do pai? Outro dia, um cara passou por mim no Horto e disse: “Pena que estou sem o celular para tirar foto, gosto muito de você. Gostava mais do pai, mas...” — lembra Bruno, dando risada. — Vamos homenagear e matar os nossos pais ao mesmo tempo.

Legado paterno como patrimônio imaterial familiar

Bruno Mazzeo nega que se incomode com as comparações com seu pai:

— Sou bem resolvido graças a muita análise. A peça e o documentário que estou fazendo são provas disso.

Mas o fato é que buscou “se separar” de Chico Anysio assim que pôde. Depois de estrear ao seu lado, tratou de traçar o próprio rumo. Assinou textos para “Sai de baixo”, “A diarista”, “Junto & misturado”. Atuou, produziu, escreveu e dirigiu peças como “Descontrole remoto”, “Os famosos quem?”, “Enfim, nós”, “5 X comédia”. Trabalhou como ator nos filmes “A espera da morte”, “Atrás dos olhos de ressaca”, “Vai que dá certo”, entre outros, e foi roteirista dos longas “Muita calma nessa hora” e “Cilada.com”, que atraiu três milhões de espectadores às salas de cinema

Foi um tempo em que Bruno, ele assume, deu uma deslumbrada com a fama e o palanque amplificado pelo Twitter. Dava opinião sobre qualquer coisa. Bombava na mesma medida em que tomava bordoadas.

— Era imaturo, não soube lidar. Fazia muita publicidade, filmes de enorme bilheteria, era paparazzi me perseguindo, eu solteiro no Rio de Janeiro, sabe? Aí, teve uma hora que deu o clique de que eu não era mais eu. Aí, voltei para o teatro, fiz “Sexo, drogas e rock and roll” — lembra. — Hoje, aprendi a falar menos. Tirando a parte física, que está um horror (risos), a maturidade, análise e a Joana, que é um porto seguro, me ajudaram muito.

Joana é a diretora Joana Jabace, com quem Bruno é casado, tem os filhos gêmeos José e Francisco, de 6 anos, e rodou “Confinado”, primeira série filmada à distância na pandemia, idealizada por ela e filmada na casa do casal.

Chico Anysio como Justo Veríssimo e Bruno Mazzeo — Foto: Arquivo pessoal
Chico Anysio como Justo Veríssimo e Bruno Mazzeo — Foto: Arquivo pessoal

O documentário que ele roda sobre o pai também tem feito com que se confronte com vários aspectos da própria existência. Bruno já está colhendo depoimentos de personagens que conviveram e trabalharam com Chico. Já sabe que jogará luz, principalmente, no humor social feito por ele.

— Era algo que meu pai prezava muito. Dizia: “Humor sem fundo crítico não faz sentido, tem que criticar alguma coisa”. Também tem a coisa da brasilidade que faz as pessoas se identificarem, os personagens de carne e osso, boa parte deles de nordestinos. Junto com a vida do meu pai, o documentário passará pela trajetória do humor no Brasil.

Bruno só queria ter feito mais perguntas quando o pai era vivo. Guarda curiosidades do tempo em que Chico trabalhou na Rádio Mayrink Veiga, que formou uma geração, do período da TV Excelsior... O legado paterno é um patrimônio imaterial familiar que procura passar aos filhos menores, que não conheceram o avô.

Bruno Mazzeo e o filho, JOão, na casa onde Chico Anysio nasceu, em Maranguape, Ceará — Foto: Arquivo pessoal
Bruno Mazzeo e o filho, JOão, na casa onde Chico Anysio nasceu, em Maranguape, Ceará — Foto: Arquivo pessoal

João, o mais velho, de 18 anos, teve mais sorte. Chegava na casa de Chico e ia direto cavucar a mala de balas que o avô mantinha repleta para os netos. Visitou ainda a casa do humorista em Maranguape, Ceará. Lá, teve uma crise de choro sem saber que o lugar onde pisava era o chão do quarto onde Chico Anysio nasceu.

— Procuro contar a eles as histórias do avô, falar da terra dele. Eles sempre perguntam do “vovô Chico”. Uma hora vou mostrar os programas.

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