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Te cuida, Rei Momo. Quem parece deter o título de imperador deste carnaval é Milton Cunha. A sensação é a de que ele está em todo lugar. Na TV aberta, além de falar de samba nos telejornais da TV Globo, estreia como apresentador dos desfiles das escolas, e não mais como comentarista (hoje e amanhã, das agremiações do grupo especial de São Paulo; no domingo e na segunda, das cariocas). No streaming, faz sucesso desde o fim do ano passado com seus pitacos sobre o jogo do bicho na série documental “Vale o escrito” (Globoplay), reabastecendo a turma da galhofa nas redes sociais, que não esquece frases como “Shana belíssima”, “lindíssimo e perigosíssimo”, ao tratar de figuras da contravenção. Vira e mexe, como aconteceu na última quarta-feira, dá pinta no Big Brother Brasil 24.

Ultrapassando as fronteiras das telas e das passarelas do samba, foi parar até no metrô carioca. Desde anteontem e até o dia 18, sua voz inconfundível indica as estações e informa se o desembarque é pelo lado direito ou pelo “esquerdo emplumadérrimo”. Quer lugar melhor para quem adora “alvoroço e vuco vuco”, como ele mesmo diz?

—Gosto de me jogar em cima do povo e que o povo me agarre, me aplauda — diz Milton, em conversa com o GLOBO depois de uma edição matinal do RJTV em que fez entradas ao vivo diretamente da Cidade do Samba. — Não sou do camarote, do ar-refrigerado. Acho que tinha que ter um curso intensivo para os ricos que compram ingressos de camarote para entenderem a grandeza dos desfiles, dos artistas populares.

'Não sou do camarote, não sou do ar-refrigerado. Quero é alvoroço, vuco vuco do desfile.'

'Não sou do camarote, não sou do ar-refrigerado. Quero é alvoroço, vuco vuco do desfile.'

'Escalafobético'

Antes da entrevista, a reportagem testemunhou o “assédio” a ele, que não se recusou a posar para nenhuma foto com fã. Ele diz que chega a se perguntar para onde vai tanta selfie (“Para a boca do sapo?”, brinca). E, quando alguma vira meme ou uma frase sua vai parar em áudio de zap ou na imitação do humorista Marcelo Adnet, Milton não esconde a satisfação.

— Adoro, porque desde criança falo desse jeito escalafobético. Tenho essa dicção, uso essas palavras, esses superlativos. Adoro esse mundo que construí — diz o paraense da Ilha de Marajó, de 61 anos, que vive no Rio desde os 20.

Formado em Psicologia em Belém e mestre e doutor em Letras pela UFRJ (com pesquisas sobre o carnavalesco Joãosinho Trinta), Milton estreou no mundo do samba nos anos 1990, quando participou de um concurso de enredos de escola de samba e emplacou, na Beija-flor, o carnaval “Margaret Mee, a dama das bromélias” (1994). Foi o início de uma trajetória que teve capítulos ainda na União da Ilha, São Clemente, Viradouro e Leandro de Itaquera (SP) até fechar contrato com a TV Globo, há 12 anos.

— O Milton não é 100% carnaval, ele é 1.000% — diz Boninho, diretor de gênero de Variedades e Realities na Globo e responsável pelo Carnaval Globeleza, que terá também a apresentação de Alex Escobar e Karine Alves. — Ele é genuíno, e as pessoas percebem isso. Tudo porque vive o samba com uma intensidade espetacular.

Milton Cunha, Karine Alves e Alex Escobar: apresentadores dos desfiles do Grupo Especial do Rio e SP — Foto: TV Globo
Milton Cunha, Karine Alves e Alex Escobar: apresentadores dos desfiles do Grupo Especial do Rio e SP — Foto: TV Globo

Foi por essas razões que o Metrô o convidou para soltar a voz nos vagões durante a folia.

—Ele é uma figura icônica e representa a harmonia e a alegria — diz Guilherme Ramalho, presidente do MetrôRio, que tinha essa ideia no radar desde 2020, quando assistiu a um vídeo do canal “Sambistas da depressão”, em que Milton narrava a parada na estação “Cocorocó, também conhecida como Cantagalo, mas se você tiver um espírito luxuoso mesmo é a Cantafaisão”.

Relação discreta

Entre plumas, paetês, penas de faisão e terno estampado de macarons (foi o escolhido para o RJTV no dia da entrevista e foto), Milton está num desfile sem fim desde agosto, quando a preparação das escolas se intensifica. E essa loucura não é só dele, mas também do marido, o professor de Educação Física e passista Eduardo Costa. O apresentador é mais discreto do que o de costume quando trata do assunto:

—A rede social e a opinião pública não podem contribuir com o meu casamento. Eles não têm lugar de fala. A minha casa é íntima, é realmente de foro privado — diz. — Quando algum programa nos chama, vamos e nos divertimos muito. Aí é uma exibição pública de TV. Mas a nossa vida particular não é da conta de ninguém, e ninguém dá conta de estar no nosso casamento. Então, deixa quieto.

Algo que ele expõe com detalhes, com o intuito de ajudar famílias, é a rejeição que sofreu dos pais. Eles não aceitavam um filho gay, e ele saiu de casa aos 16 anos. Quando fala sobre isso, recebe muitas mensagens.

— São pais de “crianças viadas” que querem entender que criança é aquela — explica Milton, que perdeu pai e mãe sem conseguir criar laços verdadeiros de amor e cumplicidade com eles. —Quem apanha lembra. Quem bate esquece. Eles tentaram estabelecer uma relação com o, entre aspas, famosinho. Minha mãe, tão louca, me ligou uma vez e disse: “Eu te perdoo.” Respondi: “Querida, quem não te perdoa sou eu.” Morreram sem a redenção. Arrasto essa corrente e faço disso o melhor que eu posso.

Desde novembro do ano passado, Milton Cunha tem sido parado na rua — e ouvido berros até de pessoas dentro de ônibus, ele diz — por causa de um outro assunto que não carnaval: o jogo do bicho. Isso porque foi um dos entrevistados da série documental “Vale o escrito” para explicar a ligação entre a contravenção e as escolas de samba cariocas. É um universo que o paraense domina. Foi ele, por exemplo, que apresentou Anísio Abraão David, presidente de honra da Beija-flor, à atual esposa, Fabíola Oliveira, sua grande amiga. Do bicheiro de Nilópolis, ele fala com gratidão não só pelo fato de ser liderança na primeira escola que o contratou, mas principalmente por Anísio deixá-lo ser, num “universo caretérrimo”, um carnavalesco “viadérrimo”.

— Seu Anísio pedia: “Não se veste assim, bota uma camisa da escola, bota uma calça.” Eu falava: “Saí da casa do meu pai para viver o que eu queria, sou uma vedete.” O olho dele arregalava com a vedete que tinha contratado, mas ele, Luizinho Drummond, Capitão Guimarães, todos seguraram a minha onda — diz Milton, ciente, porém, de que existe um lado do jogo sobre o qual ele desconhece os meandros. — Óbvio que há um lugar violentíssimo aonde nunca fui. Nunca vi, nunca participei. Mas acompanho nos jornais. Mata um, explode outro, dão 700 tiros e tal.

Não há alienação também ao falar sobre o que o tira do sério. E não é fantasia mal costurada, roupa bege ou sem brilho. A fantasia de Milton Cunha despenca quando o assunto é injustiça social.

— Fico para morrer quando vejo a mãe miserável com o bebê no colo. Tinha que ser bom para todo mundo — diz ele, num tom bem mais baixo, mas que volta a subir. — Não acredito nesse mundo da socialite, em que ela diz “somos uma elite”. Querida, elite de quê? Das famílias escravocratas do Vale do Café? Vocês fizeram fortunas em cima da miséria do povo brasileiro! Detesto gente de nariz empinado. Saio de perto para não esculhambar, para não dar um tapa na cara, porque essa gente me irrita muito.

O artista recorre ao enredo do Salgueiro deste ano, batizado de “Hutukara” em homenagem aos indígenas ianomâmis e à defesa que eles fazem da Amazônia, para também fazer seu protesto:

— Bom para essa gente com dinheiro, mas, se não for bom para o planeta, vai explodir tudo. É o que Salgueiro diz: o povo ianomâmi está nos ensinando que, se escavar a floresta com ganância, em busca de metal precioso, nem os filhos nem netos vão desfrutar dessa dinheirama.

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