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Wagner Moura insistiu para falar português em 'Iluminadas', série com Elizabeth Moss: 'É difícil para eles entender o que é o Brasil de hoje'

Ator brasileiro segue plano de buscar no exterior papéis que fujam do clichê latino e conta que ficou muito amigo da atriz de 'Handmaid's Tale': 'Estive num acampamento Sem Terra, mandei foto para ela'
Wagner Moura: co-protagonista de 'Iluminadas', da Apple TV+ Foto: Bob Wolfenson/ Divulgação
Wagner Moura: co-protagonista de 'Iluminadas', da Apple TV+ Foto: Bob Wolfenson/ Divulgação

“Falar português é bom demais”, começa Wagner Moura, numa chamada de vídeo direto de Atlanta, nos Estados Unidos. Tão bom que ele bateu o pé para colocar algumas falas no nosso idioma em “ Iluminadas ”, série da Apple TV+ que estreia no próximo dia 29. No thriller metafísico, estrelado por ele e Elizabeth Moss (vencedora do Emmy por “Handmaid's Tale”), Wagner vive Dan Velazquez, um repórter brasileiro que ajuda a arquivista Kirby Mazrachi a conectar as pontas de uma agressão sofrida no passado a um crime recente. O papel segue a “atitude de vida” que o ator tem adotado no exterior desde “Sérgio”, longa americano em que interpreta o diplomata Sérgio Vieira de Mello, morto num atentado: dar vida a papéis que fujam de clichês latinos.

— Dan é um jornalista com todas suas questões, como qualquer ser humano. — diz Wagner. —Não é um personagem que reproduz o estereótipo da violência, do tráfico. Poderia ter sido feito por um ator branco americano.

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Mas o escolhido foi um brasileiro, e Wagner bateu nessa tecla para inserir o português nas falas de Dan Velazquez. Silka Luisa, a showrunner , não queria. Preferia manter as raízes porto-riquenhas do livro homônimo que inspirou a produção (reeditado este mês no Brasil pela Intrínseca) e, ao mesmo tempo, homenagear seus antepassados dominicanos.

— Para Silka, essa coisa do Caribe era muito forte, mas eu pedi que Dan fosse brasileiro. Ela ficou meio “assim”, mas achei que era mais orgânico. E também porque eu queria falar português numa série americana (risos) — diz Wagner .

Wagner Moura em cena de 'Iluminadas' Foto: Elizabeth Sisson/Apple
Wagner Moura em cena de 'Iluminadas' Foto: Elizabeth Sisson/Apple

Silka confirma que esse foi o “primeiro debate” que tiveram, mas hoje agradece por “Wag” (como é chamado pelos colegas) ter proposto a discussão.

—Ele dizia: “Me deixa falar português, manter o meu sotaque”. No fim das contas, tinha toda a razão — diz Silka.

A primeira conversa dele com a equipe do projeto reuniu a showrunner , a atriz Elizabeth Moss e a diretora Michelle MacLaren, as três chefes do programa, que saíram eufóricas com o que viram.

“Quando acabou a reunião, falamos: ‘Não podemos perdê-lo. Temos de fechar com ele imediatamente”, diz Elizabeth Moss.

Michelle MacLaen diz que não conseguia mais imaginar ninguém no papel. E seu faro é de respeito: ela foi uma das produtoras executivas de “Breaking bad” e ganhou um Emmy de melhor direção por um dos episódios, em 2012. Vale até anotar uma dica dela:

—Ele está brilhante no terceiro episódio. Quero dizer, está ótimo em todos, mas esse me deixou de queixo caído.

Entrosamento no set

Wagner Moura e Elizabeth Moss em cena de 'Iluminadas', da Apple TV+ Foto: Divulgação
Wagner Moura e Elizabeth Moss em cena de 'Iluminadas', da Apple TV+ Foto: Divulgação

Nos bastidores, o brasileiro construiu com a equipe uma relação de parceria que tornou possível dividir as angústias do lançamento no Brasil de “Marighella”, seu filme de estreia como diretor. Sucessivos imbróglios com a Ancine fizeram o longa ter a data adiada por diversas vezes, o que foi visto pelo diretor como uma ferramenta de censura.

— É difícil para eles entender o que é o Brasil de hoje. Eles pensavam: “Como um filme está sendo proibido?”. Fico pensando o que passa na cabeça deles (risos) . É tudo tão louco que é difícil dividir. Mesmo eles tendo passado pelo Trump e de a coisa aqui não estar bem.

Elizabeth Moss, que se tornou uma grande amiga, descobriu um outro país por meio de Wagner:

—Eu falava muito com Lizzy (sobre o momento atual) . Quando fui ao Brasil e estive num acampamento Sem Terra, mandei foto para ela e disse: “Isso aqui é um acampamento de trabalhadores rurais.” — conta. — Ela é uma pessoa incrível. Estou com 45 anos e é bom poder fazer novos amigos nessa idade.

Por enquanto, o ator segue nos Estados Unidos, filmando “um roteiro incrível, chocante” do diretor Alex Garland. Conhecido pelas ficções científicas existenciais “Ex-Machina” (2014) e “Aniquilação” (2018), trabalha atualmente em “Civil war”. O filmetem no elenco Kirsten Dunst numa trama mantida em segredo e ainda sem previsão de lançamento.

Ainda neste ano, o brasileiro também estará em “O gato de botas 2” (como dublador, ao lado de Antonio Banderas e Salma Hayek) e “The gray man”, da Netflix, com Ryan Gosling e Chris Evans.

Assim que acabar “Civil war”, pretende voltar ao Brasil para conhecer a Amazônia com os filhos e a atuar no cinema nacional de novo, desta vez com Kleber Mendonça Filho.

— Acho que o mercado quer as séries, é um produto mais rentável financeiramente. Mas eu gosto muito é de fazer cinema.