Cultura

Tony Bennett lança disco de duetos com latinos, o terceiro de uma bem-sucedida série

Aos 86 anos, a última grande voz da canção americana desembarca no Brasil para três shows: ‘Se você lota as casas, não tem por que se aposentar’

O cantor se apresenta na quinta no Vivo Rio, no sábado em São Paulo e dia 4 em Porto Alegre
Foto: Michelle V. Agins/The New York Times
O cantor se apresenta na quinta no Vivo Rio, no sábado em São Paulo e dia 4 em Porto Alegre Foto: Michelle V. Agins/The New York Times

RIO - Pendurar as chuteiras? É ideia que nem passa pela cabeça de Tony Bennett, a última grande voz da canção americana, que, aos 86 anos, baixa quinta-feira no Vivo Rio para um show. No sábado, ele canta em São Paulo (no Via Funchal) e no dia 4, em Porto Alegre (no Teatro do Sesi).

— Sou da velha escola, no sentido de que se você ainda lota as casas, então não tem por que se aposentar. Se as pessoas não vierem mais vê-lo, aí então você deve pendurar as chuteiras — ensina o mestre, que há cerca de um mês lançou “Viva duets”, seu terceiro disco seguido de duetos, no qual reprisa canções do seu repertório tradicional ao lado de astros latinos da canção.

Estão lá os mexicanos Vicente Fernández e Thalía, os americanos Christina Aguilera, Marc Anthony e Romeo Santos, o espanhol Dani Martín, o panamenho Miguel Bosé, o dominicano Juan Luis Guerra, o guatemalteco Ricardo Arjona, o venezuelano Franco De Vita, o argentino Vicentico, o porto-riquenho Chayenne e a cubana Gloria Estefan. Na edição brasileira, foram incluídos duetos com Ana Carolina (“The very thought of you”) e Maria Gadú (“Blue velvet”). A princípio, não estão previstas participações das cantoras nos shows.

— Foi um trabalho muito bem feito com as cantoras brasileiras. Eu vim de Nova York, gravamos em Miami, e foi maravilhoso — resume Mr. Bennett.

“Viva Duets” vem em seguida a “Duets II”, álbum puxado por uma “Body and soul”, ao lado Amy Winehouse, com a qual o cantor chegou pela primeira vez na vida, aos 85 anos, ao primeiro lugar da parada de álbuns do seu país.

— Foi meu filho que veio com a ideia dos discos de duetos, que fez bastante sucesso porque escolhíamos as vozes mais populares de onde quer que eu estivesse me apresentando — explica. — E o público latino é fantástico. Escolhemos os melhores artistas que podíamos desses países. E foi incrível, no mesmo dia do lançamento o álbum chegou o disco de platina na Colômbia. E foi número um nas paradas de sucesso de outros países latinos.

Gravar duetos com artistas de língua espanhola fez, sim, alguma diferença.

— Os latinos cantam com alma, com muito sentimento — diz Tony. — Nos Estados Unidos e na Europa, existem aqueles shows em estádios para 40 mil pessoas, e a música é só uma questão de quem consegue cantar mais alto. Adoro aquela coisa intimista, sentida e significativa dos cantores latinos. O mundo da música latina pode dar algumas lições sobre como a música nunca vai ser algo antiquado. O que eu ouço desses artistas são canções que vão ficar para sempre, porque são honestas.

Seu encontro favorito no disco foi com Vicente Fernández, com quem fez uma versão bilíngue de “Return to me”, canção do repertório de Dean Martin:

— Gravamos num estúdio na própria casa dele, em Guadalajara, onde há todo tipo de animal, e cavalos magníficos que são domados lá. Passei um dia inteiro, foi uma ótima experiência.

O segredo da sua permanência, em meio aos altos e baixos do pop, Tony Bennett deve ao seu repertório.

— Só canto canções muito inteligentes, bem escritas, nada de lixo que as pessoas vão esquecer em duas semanas, que é só barulho — diz, dando em seguida uma volta no entrevistador, que lhe pergunta qual a última grande canção composta. — Nos Estados Unidos ainda tem um grande compositor chamado Stephen Sondheim. Letras muito boas, melodias muito belas... É música que vai durar para sempre.

Tony Bennett é um grande apreciador do Rio de Janeiro, onde costuma exercer sua segunda paixão: a pintura.

— Quando eu era bem mais jovem, tinha alguns amigos britânicos cujo sonho da vida era ir ao Rio — conta. — E a cidade é muito especial por causa de Luís Bonfá, de João Gilberto e da bossa nova, que é tão fantástica a ponto de fazer todo músico no mundo querer tocar como esses brasileiros.

Para os shows no país, Tony traz a filha Antonia (“O público a adora, cantamos juntos uma canção de Stephen Sondheim e dançamos um pouquinho”). Ela é apenas uma na grande trupe familiar que acompanha o cantor: o filho Danny é seu empresário há 35 anos, o outro filho, Dae, cuida dos discos, a neta Kelsey é sua fotógrafa... Eles são partes fundamentais da vida desse mito da música americana, que recentemente foi alvo do documentário “The zen of Bennett”. Entre cenas das gravações do “Duets II” e histórias da sua vida, ele passa a mensagem que realmente lhe importa passar.

— Quando as pessoas saem do meu show se sentindo bem, eu fico terno e amável com todo mundo. Esse é o zen de Tony Bennett — finaliza.