Cultura

Valesca Popozuda trouxe a ferocidade feminina ao funk carioca

Cantora surgiu com o grupo Gaiola das Popozudas
Valesca Popozuda: repaginada Foto: Simone Marinho / Agência O Globo
Valesca Popozuda: repaginada Foto: Simone Marinho / Agência O Globo

RIO - No começo da carreira, lá nos anos 1980 (ou seja, muito antes de o baixista ter virado budista e o grupo, uma unanimidade do pop alternativo), os nova-iorquinos Beastie Boys tinham um recurso especial para chocar a sociedade em seus shows: uma jaula dentro da qual moças bem servidas de corpo, seminuas, faziam danças sensuais. Foi impossível não lembrar disso ao ver pela primeira vez, lá se vai quase uma década, no Club 59 da Vila Mimosa, uma aparição ao vivo da tal Gaiola das Popozudas. Grades, não havia. Valesca ainda estava longe da popozidade que haveria de desenvolver. Sensualidade? A coisa estava mais para freak show , inclusive com a participação de uma dançarina anã, Amélia. E o que nos Beastie Boys era pura exibição de machismo, ali se anunciava como uma nova vertente do funk carioca: a da ferocidade feminina.

Depois de responder ao rap “Lanchinho da madrugada” do grupo Os Magrinhos (com versos de puro esculacho como “é claro que a sua mina não vai ligar pra nada/você está lanchando e ela está sendo lanchada”), Valesca iniciou uma carreira de funks que, pelo teor de afirmação e de falta de pudor, ofuscariam os da precursora Tati Quebra-Barraco. Enquanto “Agora eu tô solteira” (aquela do “hoje eu vou pro baile de sainha”) e “Larguei meu marido” pregavam a insubmissão aos machos, outras, de títulos impublicáveis, conclamavam à prática sem limites do velho esporte. Hoje, repaginada, Valesca é menos X-rated. Mas a sede de poder não diminuiu.