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Cultura

Vem aí: as apostas culturais de 2021 na música, literatura, cinema, TV, teatro e artes visuais

Apesar da pandemia, setor inicia ano com agenda diversificada, que promete ser ampliada após a imunização
Em 2021, Marisa Monte lançará novo disco e Fayga Ostrower vai ganhar exposição para comemorar seu centenário Foto: Fotos de divulgação
Em 2021, Marisa Monte lançará novo disco e Fayga Ostrower vai ganhar exposição para comemorar seu centenário Foto: Fotos de divulgação

Se 2020 começou com muitos planos que foram frustrados pela pandemia, a indústria cultural, por meio de suas variadas manifestações, inicia 2021 ciente de que, para muitos, o ano novo só vai chegar de verdade com a vacina — e com a comprovação de que podemos voltar a dividir metros quadrados com desconhecidos. Mas é possível se animar com algumas apostas.

Em alguns casos, o hábito cada vez mais frequente de se consumir streaming e produtos sob demanda garante, ao menos, cardápios de lançamentos ricos e variados. É o caso da música, que terá discos de Marisa Monte, Rodrigo Amarante, Foo Fighters , Rihanna, entre outros, enquanto ainda torce para conseguir realizar festivais presenciais nos próximos meses — os maiores, Rock in Rio e Lollapalooza , estão programados para setembro.

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O cinema confirma grandes lançamentos, de “Duna” a “Viúva Negra”, a princípio todos eles no circuito tradicional, em salas físicas. A Warner jogará suas estreias no streaming, mas apenas nos Estados Unidos, enquanto a Disney parece decidir caso a caso. Na TV, a expectativa fica por conta da retomada de novelas como “Amor de mãe” e a estreia de novas séries e episódios inéditos de sucessos como “Euphoria”, da HBO.

A literatura, com o crescimento das vendas digitais , também se mostrou positiva para best-sellers — falta, agora, abraçar as publicações independentes; nas artes visuais, que conseguiram se adaptar melhor ao presencial diante dos protocolos sanitários, o calendário de 2021 promete mostras que exaltam a produção de artistas mulheres.

O teatro se viu forçado a explorar os limites entre o presencial, ao vivo, e a tecnologia, e encontrou soluções que agradaram ao público. Ao menos no primeiro semestre, seguirá assim, mas de olho na metade final do ano, com a possibilidade de reencontrar os aplausos — e a bilheteria.

Música

Mercado fonográfico agitado, enquanto o ao vivo espera a vacina

Dividida em dois grandes pilares de sustentação — o mercado fonográfico e o ao vivo —, a música começa 2021 tão para lá quanto para cá. Para a primeira metade dessa laranja, o ano promete ser ainda mais recheado do que o anterior, quando clipes, singles e, principalmente, álbuns foram lançados aos montes no streaming e ajudaram a suavizar o isolamento de fãs de todos os gêneros musicais.

Por aqui, teremos Marisa Monte, que não lança álbum de inéditas desde 2011. Em ano agitado, ela acabou de relançar, também, o clássico “Verde, anil, amarelo, cor-de-rosa e carvão” (1994) em vinil. Os próximos meses contarão ainda com novos discos de Gal Costa, BaianaSystem, Rodrigo Amarante, Guilherme Arantes, Marina Lima, e de nomes que ganharam nova tração em 2020, casos de Luísa Sonza, Vitão e PK. Ainda no mundo popular, a sertaneja Marília Mendonça, artista mais ouvida do Brasil, já começa os trabalhos no dia 15, com o lançamento do single “Foi por conveniência”.

Criolo fará show virtual com realidade aumentada Foto: Divulgação/Chico Cobra
Criolo fará show virtual com realidade aumentada Foto: Divulgação/Chico Cobra

Lá fora, os roqueiros do Foo Fighters voltam com novo disco em 5 de fevereiro, seguido pela cantora Sia, na semana seguinte. Entre boatos e certezas, devem chegar às plataformas álbuns de Rihanna, Drake, Adele, Blink-182, Alicia Keys, Kanye West, Cardi B, Lana Del Rey e Red Hot Chili Peppers.

Já o 2021 pelo lado ao vivo da música só poderá acontecer em sua plenitude com ampla e efetiva vacinação.

— Fazer qualquer previsão agora do que vai funcionar ao vivo é uma irresponsabilidade. Não acredito que com facilidade a gente vai voltar a ter shows fisicamente (sem distanciamento social) , estando sob uma gestão tão irresponsável do governo — aposta Fabrício Nobre, do festival goiano Bananada e membro da Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin).

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Os dois maiores festivais do país, o Rock in Rio e o Lollapalooza, estão confirmados, ao menos no papel, ambos com início previsto para setembro. O evento carioca até anunciou a programação de sua noite de abertura (24/9), com Iron Maiden como headliner, e o começo da pré-venda de ingressos para março. Porém, casas de shows tradicionais, como o Circo Voador e a Fundição Progresso, na Lapa, seguem sem programações.

Enquanto isso, ideias inovadoras para unir música ao vivo e digital têm surgido, como a primeira live do cantor Criolo, marcada para o dia 23 deste mês, com tecnologia de realidade aumentada.

Artes visuais

Um começo marcado pela força das mulheres no Rio e em SP

Nas artes plásticas, as apostas passam por exposições que ressaltam a obra de artistas mulheres. No Rio, o CCBB abre na quarta-feira, dia 13, “Linhas da vida”, um panorama com 70 trabalhos da japonesa Chiharu Shiota, e o Oi Futuro inaugura no mesmo dia “Una(S)”, com 80 obras de 15 artistas brasileiras e argentinas, como Patricia Ackerman. Em São Paulo, o Masp dá início em abril a “Conceição dos Bugres”, uma retrospectiva da escultora Conceição Freitas da Silva (1914-1984). Em julho, é a vez da individual de Erika Verzutti. E agosto é o mês das mostras da fotógrafa Gertrudes Altschul (1904-1962) e da escultora Maria Martins (1984-1973), ambas realizadas em parceria com a Casa Roberto Marinho.

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A casa no Cosme Velho, aliás, abriga em março a coletiva “A escolha do artista na Coleção Roberto Marinho”, com obras de Beth Jobim, Cristina Canale, Antonio Manuel, Raul Mourão e Waltércio Caldas. Mas é em julho que acontece a maior exposição do local: “Burle Marx: clássicos e inéditos”. Em novembro, haverá uma individual de Candido Portinari (1903-1962) e a mostra “Retratos da Coleção Roberto Marinho”.

Até março, o Museu de Arte Moderna, no Aterro, oferece uma vasta programação de verão, com oficinas e seminários elaborados por Leandro Vieira, carnavalesco da Mangueira e curador convidado para as atividades paralelas à exposição “Hélio Oiticica: a dança na minha experiência”, em cartaz desde dezembro. Depois, começa uma individual de Fayga Ostrower (1920-2001), e uma de Marcos Chaves também está confirmada. Outra novidade é “Supernova”, parceria com artistas que serão comissionados para expor no museu.

Mais uma boa surpresa é a nova sede do Museu Casa do Pontal, que deixou o Recreio e foi para a Barra da Tijuca. O espaço vai abrigar o acervo com mais de nove mil obras de artistas populares brasileiros. A previsão é que uma exposição de longa duração e outras seis temporárias sejam abertas para inaugurar a sede, entre abril e junho.

Entre os grandes eventos, a 34ª Bienal de São Paulo, principal evento de artes plásticas do país e adiada em 2020 por conta da pandemia, está prevista para acontecer entre 4 de setembro e 5 dezembro, no Pavilhão da Bienal.

(Colaborou Nelson Gobbi)

Cinema/Streaming/TV

Nas salas de projeção ou em casa, a hora dos títulos adiados e mais estreias

O ano começa coberto de expectativa e incerteza no cinema. Mas é possível enxergar lançamentos promissores, muitos adiados pela Covid-19, como “007: Sem tempo para morrer” (2 de abril), “Um lugar silencioso: Parte 2” (22 de abril), “Viúva Negra” (29 de abril) e “Velozes e furiosos 9” (27 de maio).

O streaming ganha outra dimensão neste cenário. A Warner anunciou que todos os seus novos títulos chegarão simultaneamente às salas de exibição e à HBO Max, plataforma ainda não disponível no Brasil. Estão no cronograma longas como “Mortal Kombat” (15 de abril) e “Godzilla Vs. Kong” (20 de maio).

007 – Sem tempo para morrer Foto: Divulgação
007 – Sem tempo para morrer Foto: Divulgação

A Disney deve seguir o mesmo caminho. A animação “Raya e o último dragão” estreias nas salas e no Disney+ em 11 de março. Entre outros lançamentos do estúdio em 2021 estão “Kings’ Man: A origem” e “Cruella”.

Por falar em streaming, algumas estreias são muito aguardadas na Netflix, como os filmes das estrelas teen Maisa (“Pai em dobro”) e Larissa Manoela (“Lulli”). Outro longa que é uma aposta do serviço é o drama romântico “Malcolm & Marie”, com John David Washington e Zendaya. Entre as séries da plataforma, é bom ficar de olho na fantasiosa “Sombra e ossos”, em abril, na versão brasileira do reality show “Queer eye”, e em “Maldivas”, com Bruna Marquezine e Manu Gavassi.

O Prime Video da Amazon joga luz sobre a estreia da terceira temporada de “American gods”, dia 11, e no lançamento de “Um príncipe em Nova York 2”, com Eddie Murphy, em março. Vale dar atenção à chegada da série de ficção “Manhãs de setembro”, estrelada pela cantora Liniker, e “Invincible”, animação assinada por Robert Kirkman, de “The walking dead”.

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Algumas apostas do Globoplay para 2021 são “Verdades secretas II” e as novas temporadas dos originais “Arcanjo renegado”, “A divisão”, “Desalma”, “As five” e a quinta temporada de “Sessão de terapia”, que terá Rodrigo Santoro como terapeuta. Além dessas, “Dr. Castor”, com a história não somente do personagem Castor de Andrade, mas da contravenção no Rio; “Caso Evandro”, série em oito episódios que trata das circunstâncias do sequestro e morte do menino Evandro no Paraná; e documentários de música com Lexa e Ludmilla.

Regina Casé e Thiago Martins nos estúdios de 'Amor de mãe': máscaras e placa de acrílico Foto: Reprodução
Regina Casé e Thiago Martins nos estúdios de 'Amor de mãe': máscaras e placa de acrílico Foto: Reprodução

Na televisão, a expectativa é de retorno das novelas inéditas. Ainda no primeiro semestre, a Globo exibirá a reta final de “Amor de mãe” e “Salve-se quem puder”. Está programada também “Nos tempos do imperador”, a nova trama das seis. Outras apostas da emissora são o “The Voice+” (dia 17), com participantes acima de 60 anos, o “Big Brother Brasil 21” (dia 25) e as novas temporadas de “Conversa com o Bial” (fevereiro) e “Profissão repórter” (também em fevereiro), além das últimas emoções do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil.

O SBT investe na Taça Libertadores e na segunda temporada de “As aventuras de Poliana”. E a Record aposta suas fichas em mais uma edição de “A fazenda”, além do lançamento de um novo reality, mantido sob sigilo.

No Multishow, o humor continua sendo protagonista, com novas temporadas de “Lady Night”, “Vai que cola” e “Tô de graça”, estrelado por Rodrigo Sant’Anna, que ganhará um novo programa, chamado “Plantão sem fim”. Quem também será estrela de uma nova atração, ainda sem título, é Marcus Majella.

Aos amantes de séries, o Universal TV traz em janeiro novas temporadas de sucessos como “Chicago Med”, “Chicago Fire”, “Law & Order: SVU”, além de “Evil” (ainda sem mês de estreia definido).

No Gloob, os pequenos poderão curtir a 15ª temporada dos “Detetives do Prédio Azul” e a terceira temporada de “Bugados”.

No GNT, são esperadas estreias capitaneadas por nomes como Dani Calabresa e Mônica Martelli. Em abril, o canal lança outra aguardada atração, “Juntinhos”, com o casal Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert.

Literatura

Lançamentos seguem temas atuais como feminismo e pós-colonialismo

Na literatura, há pelo menos uma certeza: será um ano de muitos lançamentos. A agente literária Marianna Teixeira Soares, da MTS, lembra que as editoras haviam segurado muitos lançamentos em 2020, por causa da pandemia. Com as livrarias fechadas, as vendas on-line compensaram para os best-sellers estrangeiros, mas não para os autores de ficção nacional, que dependem de um bom lançamento presencial.

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Na ficção, Marianna aposta numa tendência que já vem se confirmando nos últimos anos, com livros conectados com o momento atual. No ano passado, alguns dos principais destaques foram romances que trataram de temas como racismo (“O avesso da pele”, de Jeferson Tenório) e escravidão (“Torto arado”, de Itamar Vieira Junior).

O escritor Jeferson Tenório, que lança o romance "O avesso da pele" Foto: Carlos Macedo / Divulgação
O escritor Jeferson Tenório, que lança o romance "O avesso da pele" Foto: Carlos Macedo / Divulgação

Os lançamentos previstos continuam a contemplar temas em debate, como feminismo (“Em busca dos jardins de nossas mães”, da americana Alice Walker), pós-colonialismo (“Escrever em país dominado”, do francês Patrick Chamoiseau) e também racismo (“A diluição do mar”, de Jeferson Tenório). Também os novos livros de vencedores do Man Booker Prize (“Writing, reading, and life”, do americano George Saunders) e do Nobel (“Asas do desejo”, “Ensaio sobre a calmaria” e outros do austríaco Peter Handke); aguardadas novas traduções (os dois primeiros volumes de “Em busca do tempo perdido”, de Proust, por Mario Sergio Conti e Rosa Freire D’Aguiar); livros inéditos de autores queridos como “La universidad desconocida”, de Roberto Bolaño, “Antídoto contra a solidão”, de David Foster Wallace, e a poesia completa de Victor Heringer, que morreu em 2018. Há ainda uma incursão de Quentin Tarantino pelo romance (“Era uma vez em Hollywood”) e a biografia de Stan Lee.

Como a maioria dos eventos, os festivais literários migraram para os espaços virtuais no ano passado. E assim devem continuar, segundo previsão de Afonso Borges, criador da Fliaraxá:

— Talvez ali por outubro, novembro, modelos híbridos possam ser utilizados, mas sem reunir muitas pessoas. O grande diferencial virá da criatividade. Não exploramos nem 1% do que a tecnologia pode oferecer.

Teatro

Atores e produtores planejam ocupar os palcos, sem abrir mão do virtual

A sede de fazer arte levou a atriz Ana Beatriz Nogueira a investir pesado em equipamentos de iluminação, som e luzes, que foram instalados em sua própria casa, no Rio. O tablado em que a veterana ensaiava se tornou palco para as transmissões ao vivo do projeto “Teatro sem bolso”, que promoveu, a preços populares, monólogos e apresentações musicais da própria Ana e de amigos como Marcelo Serrado. Em dezembro, com o novo aumento dos casos de Covid-19, a programação foi interrompida, mas a atriz pretende retomá-la ainda em janeiro, caso a situação melhore.

— Na quarentena, o ator precisa exercer seu ofício. É uma questão também emocional. Até agora, tenho pagado sozinha os equipamentos e os dois técnicos que me ajudam nas transmissões, mas estou em busca de apoio. A bilheteria é toda do ator — conta a artista, que comprou os direitos da peça “Melanie Klein”, de Nicholas Wright, e pretende montá-la presencialmente no segundo semestre.

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Inspirado na obra de Clarice Lispector e com canções originais de Chico César, o musical “A hora da estrela” só realizou seis sessões antes de ser interrompido pela pandemia, em março. Segundo a produtora Andrea Alves, a previsão é de que a peça seja levada aos palcos dos Centros Culturais Banco do Brasil de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro ainda no primeiro semestre.

O elenco do musical 'Jacksons do Pandeiro', da Cia. Barca dos Corações Partidos Foto: Renato Mangolin / Divulgação
O elenco do musical 'Jacksons do Pandeiro', da Cia. Barca dos Corações Partidos Foto: Renato Mangolin / Divulgação

A produtora também planeja estrear, finalmente, temporada do musical “Jacksons do Pandeiro”, cujas apresentações começariam em abril de 2020, em São Paulo. Na quarentena, o espetáculo ganhou 23 sessões virtuais, com 100 mil espectadores.

— Pretendemos começar as apresentações presenciais em abril ou maio, mas talvez estejamos um pouco otimistas demais — brinca. —A experiência foi um aprendizado muito grande. Agora, sempre que estrearmos uma peça nova, temos que pensar também no digital. O público recebeu muito bem esse formato.