Economia

Anitta entra no Conselho de Administração do Nubank, com estratégia do banco de crescer nas classes D e E

Com fortuna estimada em US$ 100 milhões, cantora também ajudará instituição a criar novos produtos para jovens
Anitta no Grammy Latino: cantora terá cadeira no Conselho de Administração do Nubank Foto: Instagram
Anitta no Grammy Latino: cantora terá cadeira no Conselho de Administração do Nubank Foto: Instagram

SÃO PAULO - A cantora Anitta passará a fazer parte do Conselho de Administração do Nubank. Mais que uma questão de imagem, a artista ajudará o banco, o quinto de maior valor do país, a buscar estratégias para crescer junto aos jovens e às classes D e E, que ela retrata em suas músicas. Além disso, amplia a diversidade do conselho do banco, que passa a ter três mulheres em um colegiado formado por sete pessoas.

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“Anitta tem profundo conhecimento do comportamento dos consumidores nesses mercados que tem explorado e tem muita experiência em estratégias de marketing vencedoras. Nenhum outro conselheiro possui essa experiência”, disse David Vélez, CEO e fundador da empresa, em comunicado.

Anitta participará das reuniões trimestrais da instituição. Aos 29 anos e com fortuna estimada em US$ 100 milhões, a cantora dá seu primeiro passo concreto no mundo das finanças, apesar de sempre ter controlado diretamente sua carreira. Segundo o Nubank, “Anitta terá direito às ‘ restricted stock units ’ (RSU) como parte da sua remuneração ”, ou seja, a um pacote de ações oferecido atualmente a funcionários.

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“É muito chato e constrangedor não conseguir ter acesso a produtos financeiros. Muita gente na América Latina sempre viveu de emprego informal. Como essas pessoas vão ter histórico de crédito?”, disse Anitta, em nota divulgada pelo banco.

Anitta entre David Vélez e Cristina Junqueira, cofundadores do Nubank Foto: Divulgação
Anitta entre David Vélez e Cristina Junqueira, cofundadores do Nubank Foto: Divulgação

Anitta também agrega ao banco por sua exposição internacional, uma vez que o Nubank tem atuação ainda na Colômbia e no México.

O Nubank inova ao colocar uma artista em seu conselho e busca ampliar a diversidade dentro da empresa. O banco se envolveu numa polêmica em outubro passado, quando Cristina Junqueira, uma das fundadoras, disse que não dá para “nivelar por baixo” ao ser perguntada sobre política afirmativa para candidatos negros no programa Roda Viva. Junqueira se retratou, e o banco prometeu “avançar a agenda de reparação histórica e de combate ao racismo estrutural”.

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“Anitta levou o funk brasileiro a outro patamar e criou uma marca mundial gigantesca. É uma empresária de sucesso que vai nos ajudar a aprimorar ainda mais os produtos para nossos clientes”, afirmou Cristina, em nota.

Por outro lado, Anitta gera novos desafios à instituição: muito ativa nas redes sociais, tem fortes opiniões políticas, contrastando com uma postura mais neutra adotada por empresas brasileiras. Ontem, por exemplo, no mesmo dia em que foi anunciada como conselheira do banco, teve um bate-boca com os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

Realidade dos subúrbios

Luciano Garcia, sócio do Conselho Mudando o Jogo, empresa especializada em conselhos consultivos compartilhados para empresas, vê uma tendência.

— Os conselhos de administração passam por uma evolução, estão sendo democratizados. Se antes era algo para cumprir a lei, eles agora estão com muita diversidade, representam a sociedade — disse.

Da mesma forma que em outros segmentos, como o varejo, os bancos estão deixando de mirar a massa para ter olhar individualizado. É uma estratégia para chegar a um público mais abrangente.

No caso do Nubank, o bordão “ouvir a dor do cliente” ganha nova dimensão com alguém que sabe retratar a realidade dos subúrbios, que em seu último hit fez a Garota de Ipanema ir para o Piscinão de Ramos. Alguém que dá voz à parcela da população que enfrenta dificuldade para ter cartão de crédito, seguro ou financiamento. E, de quebra, tem visão de negócios afiada e a própria carreira como portfólio. Trazer a cantora ao conselho é colocar a voz de Honório Gurgel no centro da estratégia da Faria Lima.

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Apesar de sintomático, não é movimento isolado. Ouvir o público que se pretende atingir virou norma. Não por acaso, como conta Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Securities, Mariana Ruy Barbosa foi além de garota-propaganda do Safra: deu consultoria para o marketing do banco.

— Os bancos precisam ganhar participação de mercado e, para isso, é necessário ter estratégias especiais para o público desbancarizado, que representa mais de 50% da população de baixa renda. É preciso ser inovador em produtos e serviços, algo que é característica do Nubank, que ganha com a visão de Anitta — afirmou Zanin.

Neste mês, o Nubank anunciou captações de US$ 750 milhões, inclusive do fundo de investimento de Warren Buffett e chegou, segundo analistas, ao valor de US$ 30 bilhões, ou o quinto banco mais valioso do país, à frente de BB, Caixa e XP, entre outros. Fontes do mercado esperam para breve seu lançamento de ações.