Economia

‘Brasil será a primeira rota que vamos restabelecer plenamente como era em 2019’, diz vice-presidente da Air Canada

Com reativação de três voos por semana entre os dois países, empresa prevê chegar a dez em dezembro. Demanda de estudos e de imigrantes brasileiros aquece movimento
Toronto, no Canadá, volta a ter voos diretos de São Paulo. Brasil será o primeiro país com operação da Air Canada 100% restabelecida no pós-pandemia Foto: Arquivo/13-10-2016
Toronto, no Canadá, volta a ter voos diretos de São Paulo. Brasil será o primeiro país com operação da Air Canada 100% restabelecida no pós-pandemia Foto: Arquivo/13-10-2016

RIO - O Brasil será o primeiro país na malha da Air Canada a ter a malha de voos anterior à pandemia inteiramente restabelecida.

A retomada começa pela reativação da ligação São Paulo-Toronto com três frequências semanais nesta sexta-feira, avançando até voltar à saídas diárias em dezembro. Também no fim do ano, a rota para Montreal volta à atividade.

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“O Brasil está voltando com dez frequências semanais ou mais, dependendo de como o mercado se comportar. Os voos estão lotados”, conta Virgílio Russi, agora vice-presidente internacional de vendas da companhia canadense, em entrevista ao GLOBO.

Virgílio Russi, vice-presidente internacional de vendas da Air Canada: Brasil será o primeiro país a ter voos 100% restabelecidos ao que havia em 2019 Foto: Sabrina Lightbourn / Divulgação
Virgílio Russi, vice-presidente internacional de vendas da Air Canada: Brasil será o primeiro país a ter voos 100% restabelecidos ao que havia em 2019 Foto: Sabrina Lightbourn / Divulgação

Com 24 anos de empresa, 18 deles no Canadá, o executivo brasileiro avalia que a tendência, daqui em diante, é de retomada gradual no tráfego de passageiros. Para ele, vacina será peça central para quem quer viajar, com avanço no uso de testagem para Covid-19, que será cada vez mais acessível.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Como será a volta dos voos para o Brasil?

O Brasil será a primeira rota que vamos restabelecer plenamente a operação de 2019 já agora em dezembro. São Paulo-Toronto começa agora três vezes por semana até chegar a ser diário novamente em dezembro.

E teremos ao menos três frequências semanais Guarulhos-Montreal, que é um voo que operamos pela primeira vez em dezembro de 2019 e que deu muito certo.

Então, o Brasil está voltando com dez frequências semanais ou mais, dependendo de como o mercado se comportar. Mas é um mercado em que os voos estão completamente lotados.

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O que justifica a reativação total?

Demanda aquecida. A demanda que estamos vendo agora é a mesma que tínhamos em 2019 e justificava os dez voos por semana. Outra coisa que é fundamental na escolha sobre para onde voamos ou não é ter carga aérea.

Desde que a pandemia começou, em algumas linhas, passamos a voar só com carga. Isso é importante porque nunca tivemos avião dedicado à carga. Convertemos seis aviões em cargueiros.

E, agora, todos os nossos Boeing 767, oito aviões, estão sendo convertidos também. Não só o volume tem sido altíssimo, mas também o preço. Porque as frequências que existiam foram tão reduzidas que as empresas de logística estão pagando alto (para embarcar carga).

Então, mesmo sem uma ocupação acima de 70% ou 80% com passageiros, você tem o movimento de carga alto, sustentando a operação.

Há demanda do Canadá  para o Brasil?

Sim, há duas coisas que viabilizam essa rota e por isso estamos muito confortáveis em retomar os dez voos semanais. Hoje, a gente não arrisca nenhum voo que não tenha um componente de carga significativa.

E nesse quarto e primeiro trimestres, outono/inverno no Canadá, existe a demanda contra-sazonal. São famílias de brasileiros que moram no Canadá e vêm para o Brasil visitar. Sempre tem a demanda forte. Já a de turismo, que vinha desenvolvendo bem até 2019, não sei se vem.

Sinceramente, acho que as pessoas vão preferir ir para o Caribe, mais próximo, super bem equipado para lidar com a pandemia.

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Qual a principal demanda no Brasil?

Já existia procura grande pelos voos para o Canadá porque há o mercado para estudantes que, mesmo com a fronteira fechada, podiam entrar no país. Não foram afetados, é o primeiro público que está indo.

E no mercado de lazer, a partir de dezembro, já estamos vendo uma procura bem grande. Por isso, teremos voos diretos e diários de São Paulo e também para Montreal, que é mais turístico. Há duas semanas, depois do anúncio, vimos um grande crescimento.

Conversei com operadores e agências de turismo do Brasil hoje (nesta quinta-feira) e disseram que o Canadá é o destino número 1 em vendas na América do Norte.

Superar os Estados Unidos, acho que nunca tinha acontecido antes. Isso se dá principalmente pela perspectiva de reabertura das operações.

É assim em toda a América Latina?

Na América Latina, estamos operando só o México; o Brasil começa agora e logo a Colômbia também vai começar. A Colômbia será muito por causa da carga também, por produtos que têm demanda grande no Canadá.

E pela parceria com a Avianca na Star Alliance. Como ainda não estamos voando para outros mercados da América do Sul, como Lima, podemos usar a Avianca. Santiago (no Chile) deve voltar em dezembro, provavelmente com frequência reduzida (de um voo diário) para três vezes por semana.

Buenos Aires também, depende ainda do nível de vacinação, se vamos abrir ou não, mas só em dezembro. O Brasil tem muito mais demanda.

No Canadá, a vacina é mandatória no setor de transportes. Isso vale para a empresa no mundo inteiro?

No mundo inteiro. Dependendo do mercado, teremos de adaptar essa política. A regra é, se até 31 de outubro, o empregado não tiver o ciclo vacinal completo, no Canadá, a pessoa é demitida.

A partir deste mês, já não se pode mais entrar em avião sem vacina. Em outros países não podemos aplicar isso, dependendo. Mas parte da política se aplica no mundo inteiro, por exemplo, só entrar no avião vacinado. Não coloca nem o pé nem para manutenção, para nada.

O que buscamos com isso é ter um ambiente de trabalho e dentro dos aviões 100% frequentados por empregados vacinados. Tem país que ainda não tem vacina para o funcionário. Neste caso, o empregado fica fora do avião. E um dos grandes benefícios de funcionários de companhia aérea é poder fazer isso, que será cortado.

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A variante Delta pode frear a retomada?

Há uma desaceleração. Temos visto nas curvas de demanda. O caso mais claro é nos EUA, que têm claramente uma quarta onda, das pessoas não vacinadas. Acho que, daqui para frente, a gente vai ter uma maneira mais relaxada com o aumento de casos, porque os vacinados não sofrerão nada. Mas vemos certos países imporem limites. Continuar assim.

A vacina, na minha opinião, vamos tomar ao menos uma vez por ano. E os testes se tornarão corriqueiros. Temos trabalhado muito no sentido de encontrar novas tecnologias para facilitaria isso. O complicado é que o processo é muito fragmentado hoje, cada país usa um tipo de teste.

E qual a regra de reabertura do Canadá?

O Canadá abre dia 7 para turistas vacinados, que não precisam fazer quarentena. Tem de apresentar um teste molecular com resultado negativo. Mas não está claro ainda as vacinas que serão aceitas.

No Canadá, as aprovadas são Pfizer, Moderna, AstraZeneca e J&J. Mas não quer dizer que outras, como a Coronavac, não protejam tanto quanto. Esperamos ter também as vacinas chinesas aprovadas logo para que as pessoas possam entrar.

Tem países que não têm acesso ou escolha a essas quatro vacinas. O mercado chinês, por exemplo, é enorme para nós.

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Quanto da operação voltou?

Ano passado, no pico da crise, a gente chegou a operar com menos de 10% da capacidade total da empresa. A gente estava perdendo um milhão de dólares canadenses por hora.

Tivemos de reduzir funcionários, a Air Canada tinha 38 mil pessoas empregadas. E reduzimos em 20 mil pessoas, mais da metade, infelizmente. A situação evoluiu. Hoje estamos operando com 50% da nossa capacidade, começando a recontratar pessoas, vemos melhoras.

A perda de capital já recuou para aproximadamente 8 milhões de dólares canadenses por dia, que já é uma boa diferença. Mas continuamos a perder dinheiro, ainda não estamos no break-even . Em paralelo, sairemos mais capitalizados da pandemia do que entramos.

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Onde o retorno é mais forte?

Algumas rotas já têm performance bastante boa. Primeiro que, com o ritmo de vacinação do Canadá, vimos as rotas reabrirem internamente. O mercado doméstico já alcança metade do que era (antes da pandemia).

Agora em agosto, reabrimos para os Estados Unidos, houve um aumento imediato na procura de nossos voos. Outra área que está indo muito bem e acima de 2019, agora para o inverno europeu, é o Caribe. Para nós, está entre 10% a 20% acima de 2019.

E as viagens de negócios?

O mercado de viagens de negócios está muito fraco ainda, principalmente das grandes companhias. Uma das maiores preocupações dessas companhias é mandar um funcionário viajar para fora do Canadá e, no retorno, ele ter de ficar de quarentena.

As empresas pequenas e médias têm viajado muito mais, mas são uma porção menor. O que tem sido muito forte é o mercado de visita a amigos e familiares, porque o Canadá é forte em imigração e tem forte movimento de pessoas da China, da Índia, de vários mercados europeus e também do Brasil. Há demanda para isso.