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Economia

Com crise, R$ 500 milhões em feiras para vender o Brasil no exterior são adiadas ou canceladas

Empresas começam a recorrer a plataformas digitais que as conectam com potenciais compradores
Porto do Rio: já foram cancelados ou adiados para o próximo semestre 2.970 feiras e eventos no mundo Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Porto do Rio: já foram cancelados ou adiados para o próximo semestre 2.970 feiras e eventos no mundo Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

SÃO PAULO — A crise econômica já travou ao menos R$ 500 milhões em investimentos programados por empresas, entidades e governo para feiras e eventos de promoção internacional, de acordo com a Orbiz, consultoria especializada no setor.

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O levantamento foi feito com base em investimentos feitos pelas empresas em anos anteriores, incluindo os R$ 220 milhões aplicados pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).

— Boa parte das grandes feiras de negócios e eventos que teriam a participação de empresas brasileiras de diferentes setores foi cancelada ou adiada. As missões ao exterior das empresas exportadoras também foram suspensas — diz Marcelo Vitali, sócio da Orbiz.

Um levantamento do site Expocheck, que mapeia feiras e eventos de negócios nos cinco continentes, mostra que já foram cancelados ou adiados para o próximo semestre 2.970 eventos desse tipo pelo mundo.

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Contato digital

Enquanto o contato social trouxer risco de contaminação pelo Covid-19 , as empresas interessadas em encontrar clientes no exterior começam a recorrer a plataformas digitais que as conectam com potenciais compradores.

A própria Orbiz está oferecendo uma ferramenta digital que permite essa conexão. Já fechou uma parceria com a Ifema, de Madri, uma das cinco entidades mais importantes da Europa que organizam exposições e feiras.

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A Ifema tem uma lista de grandes cadeias de supermercados e distribuidores da Espanha, Portugal e Marrocos. A Orbiz entra com seu portfólio de empresas interessadas em vender para esses países.

— Pela plataforma será possível conhecer os produtos, fechar vendas. Será uma experiência muito positiva — diz Francisco Orjales De La Vega, representante da Ifema no Brasil.

A Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (ABBA) vai participar da rodada de negócios virtuais com a Ifema. Já identificou 700 potenciais compradores para suas associadas. A expectativa é que entre 50 e 60 empresas consigam ampliar suas vendas.

— Neste momento, essas ferramentas digitais são o caminho mais viável para encontrar novos compradores — diz Maurício Manfre, coordenador de Marketing da ABBA.

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As negociações digitais também acontecem na área de calçados. O setor já demitiu 35 mil pessoas, e a expectativa é que a produção vá encolher 30% este ano.

— Cerca de 40 feiras do setor foram adiadas ou canceladas no Brasil. A prospecção de novos clientes ficou complicada — diz Letícia Sperb, coordenadora de promoção comercial da Abicalçados, entidade que representa os produtores.

Na semana passada, a entidade lançou uma nova ferramenta para colocar em contato fabricantes e lojistas no Brasil. Mais de 150 empresas se cadastraram imediatamente, e o número de acessos de potenciais compradores chegou a 1,5 mil em cinco dias.

Salão de Genebra

Expositores desmontam estandes no Salão de Genebra, cancelado de última hora por causa da pandemia de coronavírus. Evento aconteceu on-line Foto: PIERRE ALBOUY / Reuters
Expositores desmontam estandes no Salão de Genebra, cancelado de última hora por causa da pandemia de coronavírus. Evento aconteceu on-line Foto: PIERRE ALBOUY / Reuters

A Petite Jolie produz calçados em fábricas no Rio Grande do Sul e no Ceará, e tem representantes de vendas em todo o país. Assim como todos os fabricantes do setor, teve a produção e as vendas afetadas pela pandemia.

— Estamos buscando estratégias digitais para atrair novos clientes que não conhecem a marca no país — diz Mayara Vargas, gerente de marketing da Petite Jolie.

Estratégias digitais vão se consolidar no segmento de eventos, dizem especialistas.

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O Salão de Genebra fez em março uma edição digital. A Bienal Internacional do Rio terá atividades permanentes na internet, como o Café Literário.

— As feiras voltarão a acontecer, mas com visitas agendadas e controladas nos estandes enquanto não tivermos uma vacina contra a Covid-19. Mas elas serão complementadas com as vendas e eventos online — diz Orjales, da Ifema.

Ele defende que as agências promotoras devem começar a pensar em rodadas de negócios virtuais.

A Apex, que hoje é dirigida pelo contra-almirante da Marinha brasileira, Sergio Ricardo Segovia Barbosa, abrirá sua primeira rodada virtual amanhã, voltada para pequenas empresas interessadas em exportar bebidas e alimentos.