Economia Energia

Diesel sobe 8,87% a partir de amanhã, primeiro reajuste do novo presidente da Petrobras

Combustível acumula alta de 47% desde janeiro. Mesmo com o novo aumento, preço seguirá defasado, segundo Abicom. Gasolina e gás de botijão não sobem
Preço do diesel sobe amanhã, mas preços de gasolina e gás de botijão não mudam Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Preço do diesel sobe amanhã, mas preços de gasolina e gás de botijão não mudam Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO - A partir de amanhã, o preço médio de venda de diesel da Petrobras terá reajuste de 8,87% para as distribuidoras, informou a empresa na manhã desta segunda-feira. Esse é o terceiro aumento do ano e o primeiro do atual presidente da estatal, José Mauro Ferreira Coelho, que tomou posse em 14 de abril. Os preço da gasolina e do gás de botijão não terão alteração.

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Ferreira Coelho substituiu Joaquim Silva e Luna no comando da estatal, após o desgaste do ex-presidente da empresa com Jair Bolsonaro justamente por causa da alta dos combustíveis.

O litro do diesel passará de R$ 4,51 para R$ 4,91. Com isso, o combustível acumula alta no preço de 47% desde janeiro. O último aumento foi no dia 11 de março, quando o litro do combustível passou de R$ 3,61 para R$ 4,51.

“Com esse movimento, a Petrobras segue outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes nos seus preços de venda acompanhando os preços de mercado”, disse a estatal em nota.

Segundo a companhia, o aumento anunciado na manhã desta segunda-feira  “observou tanto o desalinhamento nos preços quanto a elevada volatilidade no mercado”.

Defasagem de 17% no preço

“Nesse momento, no entanto, o balanço global de diesel está impactado por uma redução da oferta frente à demanda. Os estoques globais estão reduzidos e abaixo das mínimas sazonais dos últimos cinco anos nas principais regiões supridoras”, disse a estatal.

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A Petrobras diz que esse desequilíbrio resultou na elevação dos preços de diesel no mundo inteiro, com a valorização do combustível muito acima da valorização do petróleo. A diferença entre o preço do diesel e o preço do petróleo nunca esteve tão alta.

De acordo com a Abicom, a associação dos importadores, a defasagem do diesel hoje está em R$ 0,94, ou 17% em relação ao preço internacional. Ou seja, mesmo com a alta anunciada hoje, o diesel vai cotinuar a ser vendido com defasagem. Em 27 de abril, a defasagem de preços chegou a 27%

Evolução dos preços do diesel

Considera o preço na refinaria nas datas em que entrarem em vigor (por litro)

Editoria de Arte Foto: O Globo
Editoria de Arte Foto: O Globo

A Petrobras lembrou ainda que o refino nacional não tem capacidade para atender toda a demanda do país, aumentando as preocupações de um possível desabastecimento. Dessa forma, cerca de 30% do consumo brasileiro de diesel são atendidos por outros refinadores, disse a empresa.

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Nas bombas, o consumidor vem encontrando o litro do diesel cada vez mais caro. Neste ano, o preço médio já subiu quase 24% no Brasil, segundo o último levantamento de preços da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Na semana passada, o diesel subiu pela terceira semana seguida nos postos, passando de R$ 6,61 por litro para R$ 6,63, mantendo mais uma vez o preço em patamar recorde.

Segundo a pesquisa da ANP, o preço máximo encontro do diesel nas bombas chega a R$ 8,387 na Bahia.

Para especialistas, o patamar se deve ao fato de a refinaria de Mataripe, que pertence ao fundo árabe Mubadala, repassar os reajustes dos preços internacionais aos derivados quase que de forma instantânea.

A refinaria, chamada até então de Landulpho Alves (Rlam), pertencia à Petrobras e a venda foi finalizada no fim do ano passado.

A escalada do diesel

Editoria de Arte Foto: O Globo
Editoria de Arte Foto: O Globo

Preocupação no Planalto

O aumento do combustível e o descontrole da inflação preocupam a ala política do governo e são apontados como entraves para o avanço do presidente em pesquisas de intenção de voto.

Integrantes do governo afirmam que a determinação é fazer um esforço coletivo de diversos ministérios para encontrar uma forma de compensar o reajuste. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, reuniu-se ontem com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, para discutir o tema.

Segundo a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), após o aumento será necessário aplicar “emergencialmente” reajuste adicional de, no mínimo, 3,1% no frete. A associação diz que é “imprescindível” que seja repassado de forma imediata o acumulado dos aumentos de combustível, para manter a saúde financeira das empresas.

A principal reivindicação da categoria é a revisão da tabela do frete, que foi instituída após a greve dos caminhoneiros, em 2018. Para Janderson Maçaneiro, liderança da categoria que participou de reunião com o Ministério da Infraestrutura ontem, a ideia é ir além da redução de tributos, como a cobrança do PIS/Cofins sobre o diesel, que está zerada até o fim do ano.

— A ideia é fazer tudo dentro da lei, o que for possível e razoável — disse Maçaneiro.

Pressão inflacionária

Em nota, o Ministério da Infraestrutura confirmou que “participa de debates e de estudos de alternativas que possam atenuar as despesas e melhorar a situação dos trabalhadores autônomos de transporte, com quem o diálogo é constante e está sempre aberto.”

O aumento no preço do diesel deve afetar indiretamente a inflação. O combustível é usado no frete de tudo aquilo que as famílias consomem, portanto o aumento pode influenciar o custo de uma gama de produtos, resultando em pressão inflacionária. Como resume André Braz, economista da FGV, a alta tem potencial de afetar do preço dos alimentos ao transporte público:

— O diesel influencia o preço do frete, da geração de energia e da produção com máquinas no campo. Também pode levar a um aumento nas passagens de ônibus, do qual o trabalhador depende diariamente, já que representa 35% do custo das empresas rodoviárias.