Economia

Em discurso ao FMI, Guedes pede cooperação internacional para distribuir vacinas

No evento, presidente do BC diz que grandes desafios do Brasil são sempre nas contas públicas
O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante evento no Palácio do Planalto Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante evento no Palácio do Planalto Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

BRASÍLIA — O ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu uma cooperação internacional pública e privada para ajudar a reduzir as desigualdades no financiamento e distribuição de vacinas contra a Covid-19.

Em declaração por escrito entregue ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e divulgada nesta terça-feira, Guedes afirma que o acesso equitativo às vacinas é o investimento de maior retorno global.

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“A disponibilidade e o ritmo da vacinação são um fator chave para acelerar a recuperação e, portanto, o reequilíbrio fiscal. Diferentes ritmos de implementação de vacinas aumentam as assimetrias entre países em desenvolvimento, especialmente de baixa renda, enfrentando maiores desafios”, disse o ministro.

Apesar da fala do ministro, o governo Jair Bolsonaro tem adotado uma postura que pode dificultar o acesso igualitário à vacinação ao redor do mundo. O Brasil, por exemplo, se manifestou contra a proposta de cem países em desenvolvimento que querem que a propriedade intelectual sobre vacinas seja suspensa enquanto durar a crise.

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Ao FMI, Guedes defendeu a cooperação internacional e a transferência voluntária de tecnologia.

“A cooperação internacional é fundamental para garantir que as vacinas se tornem adequadamente disponíveis em cada país. Apelamos aos setores público e privado, bem como às organizações multilaterais e cooperação bilateral para ajudar a preencher as lacunas de financiamento e distribuição, inclusive incentivando transferência de tecnologia e licenciamento voluntário de propriedade intelectual”, disse o ministro.

Sobre a economia global, o ministro afirmou que a ação política decisiva mitigou o impacto da pandemia e levou a uma melhora generalizada das previsões de crescimento. Para Guedes, há motivos para um “otimismo cauteloso”, mas a recuperação tem sido desigual e sujeita a alta incerteza.

“O espaço de política existente, recursos estruturais, prevalência de novas variantes de vírus e a velocidade do lançamento da vacina são fatores importantes por trás do ritmo diversificado de recuperação em diferentes partes do mundo”, diz o ministro.

Guedes afirma que países em desenvolvimento com grandes mercados de trabalho informais foram particularmente afetados, mas a flexibilidade nesses setores poderia levar a uma resposta mais forte da pandemia.

Na declaração, Guedes diz que a economia do Brasil se “recuperou acentuadamente” no segundo semestre de 2020.

“No entanto, a novo onda de Covid-19 lança maior incerteza e estresse do que o normal para o cenário atual. (Porém), a criação de empregos formais registrou um recorde de 260 mil para o mês de janeiro e projeta-se que a economia cresça 3,2% este ano”, acrescentou.

Campos Neto: desafio do Brasil é fiscal

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto Foto: Leonardo Rodrigues / Agência O Globo
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto Foto: Leonardo Rodrigues / Agência O Globo

No mesmo evento, em discurso gravado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que os grandes desafios do Brasil estão sempre ligados ao desafio de controlar as contas públicas, que vem registrando rombos desde 2014. Ele reforçou a necessidade de políticas que transmitam credibilidade sobre a política fiscal do país.

— Os grandes desafios do Brasil estão sempre ligados ao fiscal. O Brasil precisa transmitir credibilidade na área fiscal — disse Campos Neto, acrescentando: — Conseguimos quebrar a dinâmica dos juros altos no Brasil quando conseguimos mostrar ao mercado que estávamos no caminho de uma convergência fiscal.

O presidente do BC também afirmou que os países com débitos fiscais maiores tiveram maior desvalorização de suas moedas.

O real foi a sexta moeda que mais se desvalorizou em 2020 em relação ao dólar, caindo 22,4%. Ficou atrás somente das divisas da Venezuela, Seychelles, Zâmbia, Argentina e Angola, segundo levantamento é da Austin Rating.

Alta na inflação é temporária

Campos Neto afirmou que o aumento da inflação recente no Brasil se deve à elevação dos preços internacionais das commodities, enquanto o real tem se desvalorizado em relação ao dólar.

"Na verdade, o preço local das commodities cresceu muito. No caso dos itens de alimentação, como soja e milho, com o aumento da demanda asiática, sobretudo na China e na Índia. No caso dos metais, há programas de recuperação em diversos países. E em relação ao petróleo, há o efeito da expectativa de um maior crescimento global", repetiu.

Campos Neto também voltou a ligar o auxílio emergencial - encerado em dezembro do ano passado e retomado a partir desta terça-feira, 6 - à alta de preços de bens de consumo. "Transferimos quantia alta de dinheiro que se tornou consumo. Os produtos na cesta das pessoas que receberam o auxílio tiveram uma alta maior de preços", afirmou.

Roberto Campos Neto voltou a classificar os choques inflacionários no Brasil como temporários, mas reafirmou que a autoridade monetária já enxerga a contaminação de outros núcleos inflacionários e, por isso, iniciou o atual ciclo de alta nos juros.