Economia Coronavírus

Europa injeta € 100 bilhões para proteger economia da nova pandemia

Reino Unido reduz juros e anuncia € 34 bi para blindar país dos efeitos do coronavírus. UE vai flexibilizar regras de déficit
No Reino Unido, o ministro da Fazenda, Rishi Sunak, apresentou o Orçamento com recursos para combater a doença
Foto: AFP
No Reino Unido, o ministro da Fazenda, Rishi Sunak, apresentou o Orçamento com recursos para combater a doença Foto: AFP

LONDRES - O que analistas já estão chamando de “tsunami do coronavírus ” pode decretar o fim da era da austeridade fiscal na Europa. Quase € 100 bilhões serão injetados nas economias do continente para conter os efeitos nefastos de uma pandemia de consequências já alarmantes, porém ainda imprevisíveis.

Trata-se de cerca de R$ 530 bilhões. O valor deve subir nos próximos dias, já que os governos de toda a região continuam debruçados sobre os números.

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Na quarta-feira, o Reino Unido surpreendeu com um pacote de 30 bilhões de libras (€ 34,3 bilhões ou R$ 186 bilhões) para tentar blindar a economia. Os recursos destinados aos investimentos em infraestrutura somam € 20,6 bilhões, quase R$ 108 bilhões. Trata-se do maior aporte ao setor desde a Segunda Guerra Mundial.

Pouco antes da apresentação do novo Orçamento pelo ministro da Fazenda, Rishi Sunak, o Banco da Inglaterra, o BC britânico, anunciou corte nas taxas de juros básicas da economia de 0,75% para 0,25% . E deixou no ar a possibilidade de injetar liquidez no sistema financeiro, se necessário.

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Fim da austeridade?

A Comissão Europeia, que já anunciou o desembolso de € 25 bilhões, avisou que prepara uma proposta para permitir que todos os países da zona do euro possam usar a flexibilidade do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Ou seja, poderão fechar o ano de 2020 com déficits e dívidas superiores às metas permitidas por lei.

— Vamos esclarecer as regras do jogo para os integrantes do bloco muito rapidamente — disse a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, que destacou que os recursos a serem disponibilizados devem complementar os gastos que deverão ser feitos por cada um dos 27 países.

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O Banco Central Europeu (BCE) se prepara para cortar juros e deve propor medidas para ajudar empresas de pequeno e médio portes. Ontem, a presidente do BCE, Christine Lagarde, ex-diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), teria dito a portas fechadas que os países europeus terão de fazer a sua parte para garantir estímulos fiscais a fim de reduzir o impacto do coronavírus nas economias . Em conferência com os líderes europeus, Lagarde admitiu que a crise atual pode ser muito parecida com a de 2008.

— Acabou a era da austeridade — afirmou o professor de economia e reitor da Universidade de Warwick Abhimay Muthoo, que já espera uma perda para a economia britânica este ano de 0,5 a 1 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB).

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Com mais de 12 mil casos registrados, a Itália é o país mais afetados da Europa. Não por acaso o primeiro-ministro, Guiseppe Conte, já fez o quarto anúncio de estímulo fiscal em apenas um mês. Até o momento, a previsão é de gastos adicionais de € 28 bilhões (R$ 152 bilhões) para compensar as perdas provocadas pelo vírus.

Com toda a população de 60 milhões de habitantes em quarentena, o governo, que já havia decretado o fechamento de escolas, universidades e museus, determinou na quarta-feira que o comércio também fechasse suas portas — à exceção de lojas de alimentação e atendimento de saúde. Voos para o país foram cancelados, assim como reservas em hotéis. O turismo responde por cerca de 13% do PIB italiano.

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Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel afirmou que 70% da população podem ser contaminados . O país já avisou que gastará € 12,4 bilhões (R$ 67 bilhões) a mais nos próximos três anos. França e Espanha — a segunda e a terceira nações mais atingidas pelo vírus na região — devem anunciar em breve pacotes para lidar com a crise.

Não bastasse a pandemia, pesa ainda nos mercados a queda dos preços do petróleo.

— Em outros tempos, com as economias crescendo pouco, estariam todos celebrando a queda do petróleo como fonte de estímulo. Mas, agora, é fonte de mais incertezas — disse o especialista Ramon Pardo, do King’s College em Londres.