Economia

Gigantes da tecnologia aproveitam pandemia para faturar mais

Lucro da Amazon e do Facebook dobra, Apple aumenta faturamento em todos os seus negócios, mas Alphabet registra primeira queda trimestral em 16 anos
A Amazon registrou lucro líquido de US$ 5,2 bilhões, o dobro do resultado do ano passado Foto: Jeenah Moon / Bloomberg
A Amazon registrou lucro líquido de US$ 5,2 bilhões, o dobro do resultado do ano passado Foto: Jeenah Moon / Bloomberg

NOVA YORK – A crise provocada pelo coronavírus parece não ter atingido a indústria de tecnologia. Aproveitando o maior tempo gasto pelas pessoas na internet, Amazon e Facebook dobraram seus lucros no segundo trimestre do ano, em relação ao mesmo período de 2019.

A Apple aumentou o faturamento em todas as categorias, em todas as regiões onde atua. Das quatro que divulgaram seus balanços nesta quinta-feira, apenas a Alphabet, dona do Google, registrou queda no faturamento, a primeira desde que se tornou pública, em 2004.

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Apenas com a venda de iPhones, a gigante de Cupertino faturou US$ 26,42 bilhões entre abril de junho, US$ 4 bilhões acima do esperado, segundo dados do IBES. No total, as receitas foram de US$ 59,69 bilhões, com lucro líquido de US$ 11,3 bilhões, ou US$ 2,58 por ação, contra previsões de US$ 52,25 bilhões e US$ 2,04 por ação.

O lançamento do iPhone SE, com especificações mais básicas e preço fixado nos EUA em US$ 399, foi um dos fatores que impulsionaram o resultado.

— Eu acho que os estímulos econômicos que foram criados — e não estou focando apenas nos EUA, mas em muitos outros países — foi uma ajuda — afirmou o diretor executivo da Apple, Tim Cook, em entrevista à Reuters.

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No segmento de serviços, que inclui o iCloud e o Apple Music, o faturamento cresceu 14,8%, para US$ 13,16 bilhões. Em entrevista à Reuters, o diretor executivo da Apple, Tim Cook, informou que a companhia tem 550 milhões de assinantes, contra 515 milhões no primeiro trimestre do ano.

Entre os wearables, que incluem o Apple Watch, as vendas aumentaram 16,7%, para US$ 6,45 bilhões. As vendas de iPads somaram US$ 6,58 bilhões e, de Macs, US$ 7,08 bilhões.

O bom resultado fez com que as ações da companhia disparassem mais de 6% nas negociações após o fechamento do mercado. Para aumentar a atratividade dos seus papéis, a companhia anunciou que dividirá as suas ações por quatro, reduzindo o valor de cada ação, que superou a casa dos US$ 400 pela primeira vez nesta quinta-feira.

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Com o movimento, os acionistas da empresa receberão mais três ações por cada uma que possuem, e o preço de cada papel será dividido por quatro, se tornando mais acessível aos pequenos investidores.

Mesmo com boicote, Facebook fatura mais

Para o Facebook, as expectativas eram de queda de 3% no faturamento, pela redução dos gastos das empresas com publicidade, mas a companhia soube aproveitar o aumento do tráfego on-line provocado pela pandemia para aumentar suas receitas em 11%, para US$ 18,7 bilhões.

O lucro líquido praticamente dobrou, de US$ 2,6 bilhões para US$ 5,19 bilhões. Mas esse crescimento se deve mais às perdas no ano passado, quando a empresa pagou multa de US$ 2 bilhões relacionada com a privacidade.

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O negócio de anúncios, que responde por quase a totalidade de seus ganhos, faturou US$ 18,3 bilhões no segundo trimestre, crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. O número de usuários ativos mensais subiu para 2,7 bilhões, contra estimativas de 2,6 bilhões.

O negócio não foi afetado pelo boicote promovido por ativistas, que reuniu mais de 1 mil empresas, incluindo grandes anunciantes como Coca-Cola, Unilever e Startbucks. A maior parte das receitas publicitárias vêm de pequenos e médios negócios, que muitas vezes não têm acesso a outros canais de publicidade.

Para Debra Aho Williamson, da eMarketer, o Instagram ajudou o Facebook a superar a pandemia praticamente ileso.

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— O Facebook foi bem-sucedido em atrair negócios nativos digitais para sua plataforma, especialmente aqueles que oferecem produtos e serviços que podem ser consumidos pelas pessoas em casa — afirmou a analista. — Apesar de o Facebook não divulgar detalhes sobre o faturamento do Instagram, nós acreditamos que as contribuições dessa plataforma crescem rapidamente e seu sucesso está ajudando o Facebook como um todo.

Primeira queda da Alphabet

A Alphabet, que depende do faturamento com publicidade do Google e do YouTube, as receitas encolheram 2%, para US$ 38,3 bilhões no segundo trimestre do ano, a primeira retração trimestral desde que a companhia se tornou pública, em 2004, e a pior performance desde o crescimento de 2,9% durante a recessão de 2009.

Mesmo assim, o resultado veio acima do esperado por Wall Street, que previa queda de 4%. O lucro líquido foi de US$ 6,96 bilhões, contra US$ 9,95 bilhões no mesmo período do ano passado. Após a divulgação do balanço, as ações da companhia se mantiveram estáveis.

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O negócio de publicidade do Google foi impactado pela paralisação de setores como hotelaria, turismo e viagens aéreas, que tradicionalmente usavam a ferramenta de busca para identificar clientes em potencial e oferecer promoções.

— Neste trimestre, nós vimos os primeiros sinais de estabilização, com os usuários retornando as atividades comerciais on-line — afirmou o diretor executivo da Alphabet, Sundar Pichai. — É claro, o ambiente econômico continua frágil.

Resultado 'incomum' na Amazon

A Amazon aproveitou o período de quarentena dos consumidores para impulsionar suas vendas. A gigante do varejo on-line registrou no segundo trimestre do ano o maior lucro nos seus 26 anos de história. As receitas dispararam em 40% em relação a 2019, para US$ 88,9 bilhões, com lucro líquido de US$ 5,2 bilhões, o dobro do alcançado no ano passado.

— Este foi outro trimestre altamente incomum — afirmou o diretor executivo da companhia, Jeff Bezos.

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Por causa da pandemia, a companhia chegou a prever que perderia dinheiro no trimestre, pois teve que investir US$ 4 bilhões em equipamentos de proteção individual e outras medidas relacionadas à Covid-19.

Enquanto as lojas físicas foram forçadas a fechar ou viram seus clientes desaparecerem por causa da pandemia, as vendas on-line da Amazon saltaram 48%, para US$ 45,9 bilhões. O negócio de nuvem também disparou, crescendo 29%, para US$ 10,81 bilhões, com empresas tendo que transferir suas atividades para a internet com o home office.

Segundo Brian Olsavsky, diretor financeiro da Amazon, o resultado surpreendeu a companhia, pois quando as previsões para o trimestre foram feitas, os consumidores estavam comprando produtos com pouca margem de lucro:

— Todo mundo estava atrás de máscaras, atrás de luvas, comprando mercearias. Esse conjunto não é muito lucrativo — afirmou. — O que vimos no segundo trimestre foi que não apenas esse conjunto se virou para vendas mais normais, mas que também fomos capazes de entregar muito mais do que pensávamos.