Economia

Latam anuncia encerramento das operações na Argentina

Companhia deixa o país vizinho após 15 anos e abre caminho para consolidação do monopólio da Aerolíneas Argentina
A Latam anunciou o fim das operações de sua filial na Argentina Foto: MARTIN BERNETTI / AFP
A Latam anunciou o fim das operações de sua filial na Argentina Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

BUENOS AIRES - A aventura aérea durou 15 anos, mas finalmente chegou ao fim. A Latam Argentina anunciou formalmente que deixa de operar no país. Não teremos mais voos com os aviões brancos azuis e vermelhos aos 12 destinos domésticos. As rotas Santiago, São Paulo, Lima e Miami, os quatro destinos internacionais da companhia, serão mantidos por outras filiais.

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Essa decisão era uma das alternativas em análise pela companhia, que, entre outras opções, estudava reduzir de 12 para quatro o número de aeronaves para manter apenas alguns destinos.

Mas o balanço no vermelho nos últimos anos, as regulamentações que sempre beneficiavam a Aerolíneas Argentinas, a luta histórica com os sindicatos e, é claro, a interrupção das atividades por causa da crise do coronavírus impuseram um custo muito para a empresa.

Virá agora o processo para desmanchar a empresa Lan Argentina S.A., conhecida comercialmente como Latam Argentina. A companhia possui 1.715 funcionários que serão demitidos. A operação internacional será mantida com as filiais chilena, peruana e brasileira.

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Em comunicado, a companhia informou que passageiros que compraram passagens com cartão de crédito serão reembolsados automaticamente dentro de 30 e 45 dias. Para outras formas de pagamento, os clientes devem acessar o site da empresa.

Para voos internacionais, a data poderá ser alterada sem cobrança de taxas. O valor também pode ser convertido em crédito a ser utilizado até 31 de dezembro.

Tudo aconteceu nas últimas semanas. Os passos da Latam se tornaram preocupação em vários países , mas na Argentina eles nunca tiveram um interlocutor dentro do governo. Nos EUA, a companhia recorreu ao capítulo 11 da lei de falências , ganhando tempo para negociar suas dívidas.

Mas fora desse guarda-chuvas protetor do processo ficaram as filiais na Argentina, Paraguai e Brasil. E a possibilidade de ir à empresa-mãe em busca de assistência financeira foi reduzida.

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Enquanto isso, na alta administração da empresa, os números das filiais eram repassados. Na contramão do que se dizia durante os anos da presidência de Mauricio Macri, de que o ex-diretor executivo Gustavo Lopetegui iria favorecer a empresa, a Latam mostrou seus piores resultados em sua curta história na Argentina.

Segundo balanço do ano passado, a Latam Argentina perdeu US$ 133,4 milhões, valor acima do prejuízo de 2018, de US$ 132 milhões. Em comparação, a filial brasileira lucrou US$ 185,7 milhões em 2019 e US$ 356 milhões no ano anterior. Não é preciso pensar muito para definir a quem socorrer nesta emergência.

De fato, os planos no Brasil são de expansão. Na terça-feira, a empresa anunciou um acordo de compartilhamento com a Azul , que incluirá inicialmente 50 rotas nacionais para as cidades de Brasília, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Campinas e São Paulo.

Uma jornada de 15 anos

A companhia entrou na Argentina em 2005, quando fracassou o processo de criação da estatal Líneas Aéreas Federales (Lafsa), após escândalo envolvendo a parceira Southern Winds, que transportou cocaína para a Espanha em um voo regular.

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Antes que a Aerolíneas Argentina consolidasse um monopólio, a Latam foi autorizada a entrar no país. Em um processo muito rápido foi criada a Lan Argentina, que chegou a ter 12 aeronaves e 18% do mercado.

A entrada do governo na administração das linhas aéreas, ao assumir o controle da Aerolíneas Argentinas em 2008, tornou a operação ainda mais complexa. A confusão do Estado como operador comercial, regulador e controlador gerou um emaranhado que a Latam Argentina nunca conseguiria superar.

Enquanto a Latam Argentina acumulava prejuízos, a Aerolíneas Argentinas recebeu, desde 2011, US$ 4,8 bilhões em subsídios. Uma concorrência difícil.

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Nos últimos meses, os executivos da empresa tentaram abrir diálogo mais fluido com o governo. A filial argentina anunciou corte salarial dos funcionários de no máximo 50% durante a crise do coronavírus, enquanto em outros países o plano emergencial foi mais drástico. Isso porque a empresa foi intimidada pelo ministro do Trabalho, Claudio Moroni, para manter 100% dos salários.

Agora, não haverá mais Latam Argentina. A empresa vai abrir um processo de prevenção de crise para encerrar os contratos de trabalho com os funcionários.

Finalmente, o sonho de monopólio da Aerolíneas Argentina está cada vez mais próximo. Restam em seu caminho apenas a Flybondi e a JetSmart, duas aéreas low cost. A Austral desaparecerá em poucos meses, sendo absorvida pela sua controladora, a própria Aerolíneas, e a Andes, possivelmente, não voltará a voar após a pandemia. Com a saída dos 12 aviões da Latam, restará em suas mãos pelo menos 80% do mercado aéreo argentino.