SUEZ, Egito - Uma equipe de elite está encarregada do desafio monumental de liberar o enorme cargueiro de contêineres de centenas de milhares de toneladas que está bloqueando o Canal de Suez, enquanto vários navios continuaram a "engarrafar" no canal pelo terceiro dia, em uma das vias navegáveis mais importantes do mundo.
Os esforços para relançar o cargueiro Ever Given e abrir caminho para os navios que transportam quase US$ 10 bilhões em petróleo e bens de consumo foram retomados no Egito nesta quinta-feira.
Até agora, 206 navios aguardavam para cruzar o canal, de acordo com dados da Reuters.
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Rebocadores e escavadeiras tentaram, mas, até o momento, não conseguiram mover o navio, e alguns especialistas dizem que a crise pode se arrastar até segunda-feira.
A Autoridade do Canal de Suez suspendeu temporariamente o tráfego ao longo da hidrovia.
É difícil até mesmo entender o quão grande é este navio.
Como ele tem quase 400 metros de comprimento e pesa 200 mil toneladas (quase cinco vezes o que o Titcanic deslocava), seu grande tamanho dificulta os esforços para desencalhá-lo. Uma grande escavadeira amarela que trabalhava na operação parecia um brinquedo ao lado da proa do navio. Ele comporta até 20.100 contêineres, o que o torna um dos maiores navios do tipo no planeta.
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'É como uma baleia encalhada'
O desafio de desencalhar o navio está nas mãos da SMIT Salvage BV, uma lendária empresa holandesa cujos trabalhadores pulam de paraquedas de navio em navio, muitas vezes salvando embarcações durante tempestades violentas.
— A operação pode durar semanas se o navio estiver realmente preso — disse Peter Berdowski, CEO da Boskalis Westminster, a empresa-mãe da equipe de salvamento.
O processo pode demorar mais "se você precisar se livrar da carga e também fazer a dragagem", acrescentou Berdowski.
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— É como uma enorme baleia encalhada. É um peso enorme na areia. Podemos ter que trabalhar com uma combinação de redução do peso (removendo contêineres, óleo e água do navio) com rebocadores e dragagem de areia.
A japonesa Nippon Salvage Co. também foi contratada para fazer o cargueiro voltar a flutuar, de acordo com pessoas a par do assunto.
O Ever Given é tão pesado que provavelmente precisará ser liberado removendo coisas como água de lastro, que ajuda a manter os barcos estáveis no mar. O combustível também pode ser descarregado.
A parte frontal do navio está enfiada cerca de 5 metros dentro da parede do canal, o que é um dos principais obstáculos para liberá-lo, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. A dragagem tenta retirar a areia do casco dianteiro, para que a embarcação possa ser puxada pela lateral.
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— Desbloquear um colossal navio de contêineres no Canal de Suez será difícil devido à natureza estreita do corredor de navegação do canal — disse Rockford Weitz, diretor do Programa de Estudos Marítimos Fletcher da Universidade Tufts. — Isso apresenta complicações adicionais se comparado com um encalhe em um recife ou em um banco de areia.
A Autoridade do Canal de Suez não comentou sobre o trabalho ou deu qualquer indicação de quando o tráfego poderia ser retomado.
A melhor chance de liberar o navio poderia vir apenas no domingo ou na segunda-feira, quando a maré atingirá seu nível mais alto, segundo Nick Sloane, o capitão de salvamento responsável pelo refluxo do Costa Concordia, navio de cruzeiro que naufragou na costa da Itália em 2012.
Navios equivalem a três campos de futebol
Esse tipo de cargueiro é tão grande, segundo especialistas, que pode ser mais longos que a Torre Eiffel, em Paris, e maior que três campos de futebol postos lado a lado.
Globalmente, existem cerca de 180 navios que podem transportar, cada um, mais de 15 mil contêineres, de acordo com Um Kyung-a, analista da Shinyoung Securities Co. em Seul.
Espera-se que pelo menos mais 47 navios porta-contêineres desse porte sejam entregues até 2024, de acordo com a empresa de pesquisas Drewry. Um navio que pode transportar 20 mil contêineres custa cerca de US$ 144 milhões, e aqueles que transportam 23 mil custam mais de US$ 150 milhões, estima a Drewry.
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Ponto-chave do comércio global
Cerca de 12% do comércio mundial flui através do Canal de Suez, tornando-o tão estratégico que as potências mundiais lutam pela hidrovia desde que foi concluída em 1869. Aproximadamente 30% do volume mundial de contêineres de transporte transita pelos 193 km do canal diariamente.
Todo o tráfego está atrasado com o Ever Given encalhado no sul do canal, complicando ainda mais as cadeias de abastecimento globais que já foram fortemente impactadas pelo boom do comércio eletrônico associado à pandemia.
— A cada hora, mais navios estão atrasados no Mediterrâneo ao Norte e no Mar Vermelho ao Sul — disse Jett McCandless, CEO da empresa de monitoramento de cadeias de abastecimento Project 44. — Este é mais um grande golpe para o comércio mundial em um ano que já tem sido difícil para as cadeias de abastecimento.
Especialistas em transporte marítimo dizem que, se o bloqueio não for eliminado nos próximos dias, alguns navios podem ter que mudar de rota pela África, o que adicionaria cerca de uma semana à viagem.
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— Todos os portos da Europa Ocidental vão ser afetadps — disse Leon Willems, porta-voz do Porto de Roterdã, o maior da Europa. — Esperamos, tanto para as empresas quanto para os consumidores, que isso seja resolvido em breve.
O brasileiro Rodrigo Leandro, 41 anos, que trabalha em Dubai, Emirados Árabes Unidos, como gerente de fretamento da empresa Mur Shipping, disse não esperar uma solução definitiva para o bloqueio no Canal de Suez nas próximas três semanas.
— Não temos nenhum navio agora na rota de Suez, por onde transitam 350 embarcações por semana nas duas pernadas, norte e sul. Mas os que saírem a partir de agora rumo a Europa farão o caminho pela África do Sul, o que vai aumentar a viagem em até 25 dias — disse ele. — Não vejo tão cedo esse canal abrindo. Acho difícil liberar o navio, que é enorme, sem tirar a carga ou o óleo dele. Não vejo melhora do quadro em pelo menos três semanas — acrescentou Rodrigo, que tem experiência de 20 anos em logística do transporte de minérios, fertilizantes e grãos.
Bilhões em jogo; petróleo recua nas Bolsas
Uma estimativa aproximada mostra que o bloqueio afeta cerca de US$ 9,6 bilhões em tráfego por dia, de acordo com cálculos da Lloyd's List, sugerindo que o tráfego no sentido Oeste equivale a cerca de US$ 5,1 bilhões por dia, e o tráfego no sentido Leste movimenta US$ 4,5 bilhões por dia.
A cotação do petróleo recuou, nesta quinta-feira, com o bloqueio do Canal de Suez, após dois dias tensos em que os preços variaram cerca de 6% para cima e para baixo.
Às 16h20 (hora de Brasília), em Londres, o barril Brent caía US$ 2,46, ou 3,8%, para US$ 61,95 a unidade.
Já o petróleo norte-americano West Texas Intermediate (WTI) caía US$ $ 2,62, ou 4,3%, para US$ 58,56 o barril.