RIO — Os brasileiros estão retornando à busca por oportunidade de trabalho, mas não estão encontrando. É o que indicam dados da Pnad Covid de setembro, divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE. Desde maio, início da pesquisa, o número de desempregados cresceu 33%, atingindo 13,5 milhões no último mês. São mais 3,4 milhões no grupo de desocupados em cinco meses.
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No mês passado, a taxa de desemprego subiu para 14%, no maior patamar desde maio. Em agosto, estava em 13,6%. A alta do desemprego era projetada por economistas, diante da flexibilização dos protocolos de distanciamento social por conta da pandemia de Covid-19 e arrefecimento do impacto do auxílio emergencial.
Os números podem indicar o agravamento das desigualdades históricas no mercado de trabalho. Em setembro, a taxa de desemprego em setembro foi de 17% para mulheres, enquanto para homens o percentual foi de 11,8%.
Entre os mais jovens, com idade entre 14 e 29 anos, o índice foi de 23,6%. Entre pretos e pardos, chegou a 16,1%, enquanto para brancos o percentual foi de 11,5%, estável em relação ao mês anterior.
Segundo José Marcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, como esses grupos foram os mais atingidos pela pandemia, é natural que eles sejam os primeiros a retomarem a busca por emprego. Entre maio e julho, segundo a Pnad Covid, mais de 2,9 milhões de pessoas perderam o emprego.
O problema é que as pessoas estão procurando emprego, mas não estão encontrando. Ou seja, a busca por emprego cresce em ritmo superior ao número de pessoas empregadas, levando ao aumento da taxa de desocupação.Enquanto a força de trabalho cresceu 1,4% no mês, o número de ocupados avançou apenas 0,8%.
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Na metodologia do IBGE, é considerado desempregado apenas quem efetivamente procura emprego e não acha. Por isso, muitas das pessoas que hoje buscam emprego foram demitidas na pandemia e somente agora retomam, seja por maior confiança na economia, controle da curva epidemiológica ou fim de medidas emergenciais.
— Há um aumento da população desocupada ao longo de todos esses meses. Esse crescimento se dá em função tanto das pessoas que perderam suas ocupações até o mês de julho quanto das pessoas que começam a sair do distanciamento social e voltam a pressionar o mercado de trabalho — explica Maria Lucia Viera, coordenadora da pesquisa do IBGE.
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Na avaliação dos pesquisadores Maria Andreia Parente Lameiras e Marco Cavalcanti, ambos do Ipea, o desemprego deverá continuar crescendo nos próximos meses.
Eles lembram que o número de pessoas não ocupadas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram trabalho permanece elevado: 26,1 milhões na média de setembro. Esse número vem caindo, foi de 28,3 milhões em julho e 27,2 milhões em agosto, mas a queda tem sido lenta.
Pico de desemprego em 2021
Há ainda, segundo os pesquisadores, um elevado percentual de pessoas que não procuraram trabalho possivelmente por conta da pandemia (61,3%), indicando que, apesar de estarem arrefecendo gradualmente, os efeitos diretos da pandemia no mercado de trabalho ainda são relevantes.
Eles listam, ainda, a volta ao mercado de trabalho daqueles que recebem o auxílio emergencial.Em setembro, 43,6% dos domicílios brasileiros receberam o benefício. O valor médio foi de R$ 894 por família. Segundo o IBGE, ainda não foi captar os efeitos da redução do repasse mensal de R$ 600 para R$ 300, iniciada no fim do mês.
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Diante desse cenário, Camargo afirma que será necessário uma recuperação mais rápida da ocupação para compensar a redução da renda das pessoas.
— Com o fim do auxílio emergencial e dos incentivos fiscais, é necessário que o mercado de trabalho reaja de uma forma forte para compensar a queda de renda das pessoas via auxílio. É preciso emprego e renda para suprir essa demanda. É importante uma recuperação robusta, e não sabemos se isso vai acontecer.
Especialistas projetam que o pico de desemprego ocorra em meados em 2021, quando as medidas emergenciais forem completamente interrompidos. Analistas da Genial Investimentos estimam que o ano terminará com desemprego ao redor de 15%.
A despeito dos indicativos de piora no mercado de trabalho nos próximos meses, dados divulgados pelo IBGE apontam para uma melhora para aqueles que estavam ocupados e da atividade econômica.
Pelo terceiro mês consecutivo, o número de horas efetivamente trabalhadas subiu, atingindo 35,1 horas. Já a diferença entre o rendimento habitual, tradicionalmente recebido pelo trabalhador, e o efetivo, ou seja, aquilo que foi pago, foi de 8,8%.