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Economia

Para Gol, check-in no celular e máscaras serão a nova rotina

Presidente da aérea prevê retomada em 2021 se não houver segunda onda de contágio
Presidente da Gol, Paulo Kakinoff prevê mudanças duradouras no setor e uma retomada para a companhia em três etapas Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Presidente da Gol, Paulo Kakinoff prevê mudanças duradouras no setor e uma retomada para a companhia em três etapas Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

SÃO PAULO - No comando da maior companhia aérea do Brasil em volume de passageiros, o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, prevê mudanças duradouras no setor e uma retomada para a companhia em três etapas. A primeira, que deve ser concluída em duas semanas, de acordo com os planos de retomada nos estados, inclui a adoção de cuidados como uso obrigatório de máscaras nos voos e distanciamento social no embarque, além de medição de temperatura feita pelos aeroportos.

O processo deverá ser seguido de protocolos sanitários reforçados, que devem acabar numa terceira fase, ainda sem data para começar, pois depende de vacina ou de tratamentos melhores. Nesta fase, entra o trabalho para retomar o patamar pré-crise dos voos internacionais, um trabalho que o executivo define como “de anos”.

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As mudanças também devem alterar a rotina dos passageiros. Segundo Kakinoff, o viajante tende a valorizar mais as soluções que reduzem o contato pessoal:

— Antes da pandemia, 70% dos passageiros da Gol já faziam check-in pelo celular. Daqui pra frente serão mais de 95% — prevê o executivo, que vê espaço para automação do despacho de bagagem, hoje ainda manual para boa parte dos passageiros.

Hoje, para evitar contágio, muitas companhias aéreas deixaram de vender os assentos do meio dos aviões. Isso não deve durar.

— Um avião desses não sairia do chão porque a conta não fecha — diz ele, que aposta na modernização na ventilação da cabine para eliminar o vírus.

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Por causa da pandemia, a Gol cortou rotas, colocou boa parte dos 16 mil funcionários em férias e implantou medidas para evitar o contato entre passageiros e a tripulação, como a suspensão do serviço de bordo e de telas touch screen para auxiliar o embarque nos aeroportos.

As medidas ajudaram a empresa a enfrentar a turbulência, mas não impediram um tombo de 97% no número de passageiros em abril em relação ao ano passado, segundo a Anac, a agência reguladora do setor.

Kakinoff espera uma retomada dos voos domésticos com uma demanda no nível pré-pandemia já no ano que vem. A previsão, no entanto, dependerá do quanto as autoridades brasileiras conseguirão evitar uma eventual segunda onda de contágio no país.

— Não havendo uma segunda onda de contágio, prevejo crescimento gradual da demanda de voos domésticos a níveis pré-crise até a metade do primeiro semestre de 2021 — diz Kakinoff.

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No balanço do primeiro trimestre de 2020, a Gol diz ter R$ 7 bilhões em fontes de crédito à disposição. É uma situação financeira mais confortável que a da concorrente Latam, que na semana passada pediu recuperação judicial nos EUA e no Chile com dívidas acima de US$ 19 bilhões.

Caixa para a crise

Ainda assim, a queda na demanda assusta investidores. Anteontem, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota da dívida da Gol, de B1 para Caa1, um grau de risco alto. Para a Moody’s, a companhia só recupera o nível pré-crise em 2023.

O executivo acredita que a Gol terá caixa para aguentar a turbulência. Ainda assim, a companhia negocia os termos de  uma linha de crédito do BNDES às aéreas. Inicialmente previsto em R$ 10 bilhões para o setor como um todo, o pacote deve ficar em torno de R$ 2 bilhões por companhia e está na reta final de negociações. Para Kakinoff, o pacote deve estar pronto “em uma ou duas semanas”.

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Pandemia no Brasil

Ao considerar a resposta do Brasil à pandemia, Kakinoff pondera que o país desperdiçou a vantagem de estar numa das últimas regiões do planeta afetadas pelo vírus. O motivo: a dispersão de energias com outras crises, a começar pela política, mas ressalta:

— Os brasileiros deveriam ter empatia aos governantes por causa do desafio inédito que lhes foi imposto pela pandemia. Quando tudo isso passar, seremos especialistas em Covid. Até lá, temos que lidar com a imprevisibilidade da situação.