Economia

Presidente da Eletrobras diz que mudanças em texto podem atrasar privatização da estatal

Companhia tem lucro de R$ 1,6 bi, impulsionado por reajuste de tarifas. Valor é 31% superior ao registrado no mesmo período de 2020
Receita operacional líquida da Eletrobras teve acréscimo de 8%, alcançando R$ 8,2 bilhões entre janeiro e março Foto: Bloomberg
Receita operacional líquida da Eletrobras teve acréscimo de 8%, alcançando R$ 8,2 bilhões entre janeiro e março Foto: Bloomberg

RIO — A Eletrobras registrou lucro líquido de R$ 1,6 bilhão no primeiro trimestre, valor 31% superior ao mesmo período de 2020, apoiada por melhores resultados em seus negócios de transmissão após uma revisão tarifária e com influências dos índices de inflação, como o IGPM, que reajustam contratos.

A divulgação do resultado ocorre após a apresentação do relatório da medida provisória (MP) que trata da privatização da Eletrobras, na terça-feira, pelo deputado federal Elmar Nascimento (DEM-BA).

O relatório desagradou o governo, que tenta agora mudar o texto para avançar com a venda da estatal. Na avaliação de integrantes do Executivo, texto da MP inviabilizaria operação .

Em teleconferência com analistas, o  presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp, disse que, embora, haja  no Congresso uma disposição em avançar com o projeto, algumas mudanças na proposta podem atrasar a privatização.

- Há um clima favorável com o projeto. É  natural a discussão da Medida Provisória (MP) e aprimoramento do texto feito pelo governo, mas ainda não tivemos a apresentação formal do substitutivo pelo relator. São normais as discussões. Você  apresenta a proposta e depois conversa até chegar a uma versão final.

Posse: Novo presidente da Eletrobras  defende privatização da empresa

Ele, no entanto, listou alguns desafios que podem atrasar a capitalização da Eletrobras. Ele citou a permissão para que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) intervenha no mercado, realizando leilões de energia, por exemplo:

-  Em relação à questão da Aneel fazer os leilões de energia, a gente entende que isso geraria um risco grande para o processo de capitalização e de como isso seria tratado no futuro.  Em relação aos empréstimos compulsórios, a mesma forma. A gente entende que a inclusão de um dispotivo que preveja o tratamento  para isso na lei nesse momento pode gerar dificuldade e atraso no processo de capitalização.

Risco de racionamento: Governo aciona termelétricas e importa energia para driblar falta de chuva, mas conta de luz vai subir

Limp se referiu a um trecho do relatório do deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), que coloca na lei a necessidade de a Eletrobras negociar um passivo da ordem de R$ 80 bilhões, referente a processos em tramitação na Justiça que questionam o pagamento pela Eletrobras de empréstimos compulsórios criados na década de 1960 para expansão do setor elétrico.

- A gente não sabe o que vai ser proposto exatamente em relação aos empréstimos compulsórios. Mas achamos que isso vai ser um dificultador. É um volume muito grande de recursos e cálculos complexos que envolvem vários planos econômicos. É um tema complexo para ser inserido nesse momento e seria um obstáculo - complementou Elvira Presta, diretora de Relações com Investidores da Eletrobras em teleconferência.

Eletricidade: Bolsonaro alerta para nível de hidrelétricas e diz que Brasil vive 'maior crise hidrológica da história'

Limp disse que o presidente da Câmara, Arthur Lira, sinalizou que a previsão é que a MP seja votada na semana que vem. E depois terá ainda cerca de um mês para ser analisado no Senado, antes do fim do prazo de validade da MP, que vence no fim de juno.

Os executivos destacaram ainda que só após a aprovação da MP é que será analisado o processo de separação da Eletronuclear e de Itaipu, que não podem ser privatizadas. Isso vai depender ainda do trabalho que está sendo conduzido pelo BNDES.

Receita sobe 8%

Na divulgação de seus resultados, a estatal disse que a receita operacional líquida da companhia teve acréscimo de 8%, alcançando R$ 8,2 bilhões entre janeiro e março, enquanto custos e despesas operacionais totais atingiram R$ 5,2 bilhões, uma elevação de 10%.

A receita de geração da companhia atingiu R$ 5,8 bilhões, perto dos R$ 5,9 bilhões do ano anterior, enquanto em transmissão houve salto de 25% para R$ 3,8 bilhões.

Já os custos com pessoal, material, serviços e outros (PMSO) recuaram 5%, para R$ 2 bilhões. Do lado negativo, a estatal registrou aumentou nas provisões operacionais, para R$ 1,1 bilhão, ante R$ 392 milhões no ano anterior.

IR 2021: Comprou imóvel em 2020? Veja como adicioná-lo na sua declaração deste ano

A Eletrobras, com negócios em geração, transmissão e comercialização de energia, disse que o aumento deve-se a revisões tarifárias de ativos de transmissão de suas subsidiárias, que levaram a aumentos de valores, além dos índices de inflação associados aos contratos no setor.

A estatal, incluindo subsidiárias, encerrou 2020 com déficit total de R$ 6,8 bilhões nos planos de pensão de funcionários, o que pode em algum momento exigir programas de ajuste com eventuais contribuições extras de empregados e da empresa.

Investimentos e dívida

A companhia provisionou R$ 436 milhões devido a processos judiciais referentes ao chamado empréstimo compulsório, enquanto sua controlada Chesf provisionou R$ 363 milhões, sendo R$ 185 milhões devido à situação hidrológica desfavorável.

Ainda houve um impacto negativo de variação cambial líquida de R$ 601 milhões sobre os resultados.

Conta de luz: Aneel propõe aumento de até 21% nas bandeiras tarifárias

A elétrica encerrou o trimestre com dívida líquida de R$ 20,56 bilhões, enquanto caixa e equivalentes somavam R$ 14,65 bilhões.

Os investimentos no período foram de R$ 519 milhões, alta de 58% frente aos R$ 329 milhões do ano anterior, mas bem abaixo dos R$ 1,29 bilhão orçados para o trimestre.

A Eletrobras detém 43% das linhas de transmissão do país, num total de 76.230 km, e é responsável por cerca de 29% da geração do Brasil, com 50.676 MW de capacidade instalada.