Exclusivo para Assinantes
Economia

A tempestade perfeita da Meta: fuga de usuários e mudanças na política de privacidade da Apple atingem em cheio o Facebook

Competição com apps como Tik Tok pressiona mercado de publicidade, um das principais fontes de receita do grupo
Facebook trocou seu nome corporativo para Meta ao mudar seu foco para o metaverso Foto: Reuters
Facebook trocou seu nome corporativo para Meta ao mudar seu foco para o metaverso Foto: Reuters

SAN FRANCISCO, CALIFÓRNIA — A perda de mais de US$ 200 bilhões em valor de mercado da Meta, dona do Facebook e Instagram, nesta quinta-feira deriva de uma tempestade perfeita - quando uma combinação de fatores resulta num desastre - que atingiu em cheio a empresa de Mark Zuckerberg, na avaliação do britânico Financial Times.

Uma mescla de perda de relevância da principal rede social do grupo entre os jovens e mudanças na política de privacidade da Apple que afetam a receita de publicidade da companhia.

As ações da Meta despencaram 26% em Nova York.

Com queda de ações: Zuckerberg perde US$ 31 bi e pode sair da lista dos dez maiores bilionários do mundo

“As pessoas têm muitas opções de como querem gastar seu tempo, e aplicativos como o TikTok estão crescendo muito rapidamente”, alertou Mark Zuckerberg, executivo-chefe da Meta, em uma teleconferência com analistas depois que os resultados do grupo no último trimestre do ano passado foram anunciados na quarta-feira.

A competição coloca uma pressão de curto prazo no negócio de publicidade da Meta, acrescentou o executivo. A mais recente evidência de que a Meta estava perdendo a “batalha de atenção” para aplicativos como o TikTok veio um dia depois que sua rival, a Alphabet, empresa controladora do Google, divulgou um aumento inesperado na receita de publicidade.

Enquanto a dona do Google aceitou as recentes mudanças de privacidade da Apple, a Meta disse que ainda estava sofrendo com as novas políticas que dificultam o rastreamento de usuários e publicidade direcionada.

— Há uma tendência clara em que menos dados estão disponíveis para fornecer anúncios personalizados — disse Zuckerberg.

'Big techs' divididas

Os resultados de Meta e Alphabet revelam uma divisão entre as big techs : as empresas que têm ótimos dados e aquelas que não têm, diz a Reuters.

— São dois níveis. O Facebook continua a ver esse impacto do que significa ser construído em cima da Apple — disse Gene Munster, da empresa de investimentos Loup Ventures, que chamou os dispositivos da Apple e os serviços de busca do Google de fundamentos da internet.

Gigantes: Metaverso pode render US$ 1 tri por ano para 'big techs'

A Apple permitiu que os usuários bloqueassem alguns rastreamentos de seu uso da internet, o que tornou mais difícil para as marcas segmentar e medir seus anúncios no Facebook e no Instagram, que também são de propriedade da Meta.

Diretor financeiro da Meta, David Wehner disse em teleconferência com analistas que o impacto das mudanças de privacidade da empresa americana pode ser “da ordem de US$ 10 bilhões” em 2022.

Wehner sugeriu ainda que o relacionamento da Apple com o Google era um problema para o Facebook:

— Devido ao fato de que a Apple continua a receber bilhões de dólares por ano dos anúncios do Google Search, o incentivo existe claramente para que essa discrepância de política continue.

Mudanças: Facebook desiste do projeto de ter uma criptomoeda própria e vai vender ativos na área

Enquanto a Meta afirma que questões macroeconômicas como interrupções na cadeia de suprimentos e inflação contribuíram para a perda de lucros, fatores que podem ter efeitos de longo alcance, analistas e investidores focaram o problema nas mídias sociais.

— Isso realmente depende da tecnologia dentro da empresa — disse o analista Ryan Reith, da IDC, referindo-se à alta concorrência em serviços, hardware e publicidade. — Quando você tem um crescimento tão forte em um punhado de setores de tecnologia, muitos ganharão e muitos perderão, e haverá volatilidade contínua.

Desaceleração do crescimento

Algumas empresas de tecnologia estão sob pressão considerável este ano, à medida que os investidores ficam nervosos com os sinais de desaceleração do crescimento e enquanto o Federal Reserve se prepara para apertar a política de juros.

A Meta disse que espera que as receitas no primeiro trimestre de 2022 fiquem na faixa entre US$ 27 bilhões e US$ 29 bilhões, o equivalente a um crescimento de 3% a 11% ao ano. A previsão ficou abaixo das expectativas de receita de US$ 30,3 bilhões no primeiro trimestre, de acordo com a S&P Capital IQ, e seria essencialmente o período de crescimento mais lento do Facebook em sua história, segundo analistas.

Foco no metaverso

Já os lucros do quarto trimestre foram reduzidos pelo investimento feito por Zuckerberg no metaverso, bem como gastos mais altos em seu braço de tecnologia de realidade virtual e aumentada, o Facebook Reality Labs. A base mensal de usuários ativos do Facebook permaneceu estável em 2,91 bilhões mensais, abaixo das estimativas dos analistas, de 3 bilhões de usuários ativos.

Entenda: O que é o metaverso

Além do “aumento da competição pelo tempo das pessoas”, Meta atribuiu o mau desempenho a “uma mudança de engajamento em nossos aplicativos”. E disse que as pessoas estavam assistindo a mais vídeos curtos que geravam menos dinheiro do que a publicidade que aparece em seu feed.

A empresa de mídia social tem lutado para manter o interesse de adolescentes e usuários mais jovens, enquanto uma série de escândalos de privacidade e moderação prejudicaram sua reputação.

No ano passado,  Zuckerberg anunciou que a empresa estaria “reformulando” os produtos  para fazer do atendimento aos jovens ''a estrela do norte”, com foco no Reels, seu clone do TikTok. Até agora, isso não aconteceu.