Fabio Giambiagi
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Fabio Giambiagi

Economista

Por Fabio Giambiagi


Este é o segundo da série de 15 artigos com propostas para o Governo que sair vitorioso das urnas em outubro. Há duas semanas, defendi o princípio de valorizar a competição como base do progresso, mas no sentido amplo da palavra. Quero agora me deter num ponto específico dessa filosofia de funcionamento do sistema: o grau de abertura comercial da economia.

Em 1999 (há 23 anos!),Maurício Mesquita Moreira, escrevendo sobre o modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil depois de 1930, disse que os problemas do mesmo se concentravam “nos [seguintes] pontos principais:

Em 2022, o diagnóstico continua em boa parte atual, o que é revelador de nosso atraso. No Brasil, tudo é lento. Recentemente, em outro livro que organizei (“O futuro do Brasil”, Ed. GEN), Ivan Oliveira, no capítulo sobre abertura, mostrou que, num conjunto de economias selecionadas, o Brasil é o país mais fechado de todos.

Quando, em estatísticas mais amplas, se comparam mais de 150 países com dados nas estatísticas globais, o Brasil está sempre na lista das duas ou três economias mais fechadas do mundo.

Quando se plotam os pontos do cruzamento entre renda per capita e tarifas médias numa reta de regressão, com inclinação negativa (países mais ricos tendem a ser mais competitivos e mais abertos), o Brasil é, entre os países não ricos, um dos que têm os maiores níveis de proteção tarifária, na ilustre companhia de potências tais como Argélia, Gabão, Etiópia e Chade.

Em termos futebolísticos, isso é como o Flamengo disputar eternamente o Campeonato Carioca com Madureira, Olaria e Bangu. Não é preciso ser muito perspicaz para concluir que, exposto a esse baixo grau de exigência, o time nunca conseguirá ser capaz de vencer os Liverpool, Barcelona e Chelsea da vida.

Se Chacrinha determinou que quem não se comunica se trumbica, precisamos entender que quem não compete se atrasa. E quem se atrasa não conseguirá progredir.

Antes de cairmos na tradicional disputa idiotizante do grande Fla-Flu nacional que parece nos paralisar, é preciso estabelecer o óbvio: não há maluquices quando se é pragmático. Não se está advogando aqui uma abertura indiscriminada com tarifa nula em janeiro de 2023 e sim um cronograma razoável de abertura, em moldes análogos ao implementado no começo da década de 1990 pela dupla Collor/Itamar.

Ou seja, algo como uma definição negociada durante 2023 e definida, por exemplo, para vigorar ao longo dos 5 anos seguintes, para que em 2028 tenhamos um grau de exposição à competição maior que o atual.

Isso teria que ser acordado com o Mercosul, mas nossos negociadores precisam deixar claro que se a Argentina se opuser a uma maior abertura, no limite o Brasil defenderia o downgrade do bloco para ser apenas uma área de livre comércio e não uma União Aduaneira.

E, principalmente, isso não deveria ser concebido como parte de uma estratégia negociadora nos acordos com terceiros: tornar o Brasil uma economia competitiva é do interesse direto do Brasil. É o futuro de nossos filhos que está em jogo, para que eles não sejam condenados ao atraso permanente.

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