Economia

Ações da Oi sobem 7,38% com interesse de Vivo e TIM

Rivais pretendem fazer proposta conjunta pela área de telefonia móvel, mas analistas veem dificuldade para aprovação da oferta
Lojas da Oi no Centro do Rio Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo
Lojas da Oi no Centro do Rio Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo

RIO E SÃO PAULO - A grande exceção no caos do mercado acionário brasileiro ontem foram as empresas de telecomunicações . A associação entre TIM e Vivo para fazer proposta conjunta pelo negócio móvel da Oi , divulgada ao mercado na noite de terça-feira, valorizou os papéis de todas as operadoras.

As ações ordinárias (ON, com voto) da empresa carioca subiram 4,49%, para R$ 0,93, e as preferenciais (PN, sem voto) avançaram 7,38%, para R$ 1,31. Já as ações ON da TIM e as PN da Vivo tiveram alta, respectivamente de 1,23% a R$ 15,70 e 0,48% a R$ 54,32.

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O negócio, segundo analistas, pode movimentar entre R$ 8 bilhões a R$ 20 bilhões e solucionar grande parte da reestruturação da operadora carioca. Analistas afirmam ainda que a Oi é a melhor oportunidade para que novas empresas entrem no mercado brasileiro. Em situação financeira delicada, o Grupo Oi teve plano de recuperação judicial aprovado por credores em dezembro de 2018. Com 36,7 milhões de clientes, o negócio móvel da Oi é cobiçado pelas rivais.

No fato relevante da noite de terça-feira, a TIM Participações e a Telefônica Brasil (Vivo) informaram o “interesse em iniciar tratativas com vistas a uma potencial aquisição, em conjunto, do negócio móvel do Grupo Oi, no todo ou em parte”.

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No comunicado conjunto, Vivo e TIM informam que, “no caso de concretização da operação, cada uma das interessadas receberá uma parcela do referido negócio.”<SW>

A compra, dizem as operadoras, agregaria valor a investidores e usuários por meio de aceleração do crescimento, aumento da eficiência operacional e da qualidade do serviço. Além disso, deve gerar benefícios para o “mercado de telecomunicações em geral, reforçando sua competitividade e capacidade de investimentos”.

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A Oi está em recuperação judicial e vive situação delicada, mas a possibilidade de sua venda tem gerado otimismo. Em janeiro deste ano, após longa negociação, a Oi vendeu sua fatia de 25% na angolana Unitel. A operadora carioca informou que o negócio foi de US$ 1 bilhão, dos quais US$ 759,2 milhões já foram pagos, e o restante virá até julho.

— Desde que a Oi conseguiu vender sua parte na Unitel, sua situação melhorou. Ela teve, então, um cenário um pouco mais confortável para negociar a venda de sua rede móvel — avalia Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Concentração de mercado

A Claro, segundo informou o colunista do GLOBO Lauro Jardim, também tem interesse na Oi. De acordo com o colunista, a empresa fez, também na terça-feira, uma proposta pela operação móvel da operadora carioca. Segundo fontes do setor, a Claro chegou a negociar entrar na parceria com TIM e Vivo pela Oi, mas as negociações não avançaram.

Desde agosto do ano passado, a Vivo já vinha conversando com acionistas da Oi, como revelou O GLOBO. Além disso, a venda da operação móvel será importante para definir os critérios finais do leilão 5G, que deve determinar investimentos bilionários no setor.

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Ubiratan Mattos, sócio do Mattos Engelberg Advogados, afirmou que, se o negócio for fechado, ele terá que ser analisado primeiramente pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que avaliará aspectos regulatórios. Em seguida, será tratado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

— A operação, se aprovada, provavelmente estará sujeita a condições impostas pelo Cade — afirmou Mattos, que lembra que a concentração de mercado na área de telefonia é uma tendência global.

Para Paulo Furquim, professor do Insper, em tese a medida pode prejudicar consumidores, reduzindo a concorrência. Ele acredita que há interesses de novas entrantes, como China Telecom, o que não justificaria a venda para as concorrentes, alegando risco de falência da empresa.

— O sinal é muito ruim quando duas concorrentes se unem para comprar uma outra empresa do setor — disse.

Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, afirma que ainda há muitos pontos para serem definidos no negócio.

— Haverá um debate sobre a divisão. O Cade terá que apurar concentração de mercado, então provavelmente não será meio a meio — disse ele.