Agronegócio publica nota em defesa da democracia criticando 'aventuras radicais'

Setor publica manifesto mais enfático do que texto da Fiesp, que culminou em racha na Febraban. Pede lideranças 'à altura do país' e destaca 'eleições legítimas'
Agronegócio é componente importante do PIB brasileiro Foto: Pablo Jacob

BRASÍLIA - No mesmo dia do impasse em relação à divulgação de um manifesto do setor empresarial , capitaneado pela Fiesp e que gerou um racha na Febraban - com o anúncio da saída de Caixa e Banco do Brasil da associação - entidades do setor agroindustrial divulgaram uma nota mais enfática em defesa da democracia.

O texto cobra de lideranças brasileiras que se mostrem “à altura do Brasil” e critica a “politização ou partidarização nociva”, que tem potencial para agravar os problemas enfrentados pelo país.

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Assinam o texto entidades como Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Brasileira dos Produtores de Óleo de Palma (Abrapalma), Associação Brasileira dos Industriais de Óleos Vegetais (Abiove), Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), CropLife Brasil, Indústria Brasileira de Árvores (Ibá),  Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg).

Em comum, estas entidades congregam principalmente empresas da agroindústria, com grande impacto exportador. Este tipo de empresa tende a sofrer mais com danos à imagem do país que os produtores rurais, que atuam no mercado interno ou vendem sua produção para a agroindústria exportadora.

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Fontes do setor informam, contudo, que a maioria dos produtores não aprovaria um texto com o chancelado pelas associações ligadas à agroindústria, devido ao apoio ainda alto que o presidente Jair Bolsonaro tem no campo.

Plantação de sorgo, usado para alimentação animal e para a rotação de culturas na terras do Oeste da Bahia Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Na foto, plantação de algodão na cidade de São Desidério às margens da BR-020 Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Ana Paula Franciosi inspeciona plantação de uma das propriedades de sua família no Oeste da Bahia: região vive bonança que ela não vê, por exemplo, em Porto Alegre, onde foi estudar Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Processamento de algodão na Fazenda Eliane, em São Desidério, no Oeste da Bahia Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Aeródromo de Barreiras. Tráfego de aviões particulares é intenso com dinheiro circulando entre a nova elite do Oeste da Bahia Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Na foto, Kleber Rebouças Rangel, fundador da Associação Barreirense Aerodesportiva (ABA), no aeródromo de Barreiras Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Cidade de Luiz Eduardo Magalhães cresce, impulsionada pelo agronegócio Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Na Ford da região, a venda de picapes cresceu 21,6% no primeiro semestre Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Luiz Carlos Bergamaschi, um dos fazendeiros que chegou à região nos anos 1980 e progrediu com o cultivo de commodities como o algodão Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Fazenda Dois Irmãos, no Oeste da Bahia: produtores investem em irrigação, maquinário e tecnologia para adaptar a terra do Matopiba e elevar produtividade Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Rápido desenvolvimento do agro na região tem relação com processo de adaptação e investimento em tecnologia para elevar produtividade Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Diretor-presidente do Grupo Sertaneja, Antônio Balbino de Carvalho Neto, diz que a desigualdade está aumentando em meio ao progresso do agronegócio no Oeste da Bahia Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Aviões particulares viraram o meio de transporte preferencial dos produtores rurais para transitar entre uma propriedade e outra: modelo de monocultura favorece concentração de terras e renda Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

 

"É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora, essencial numa economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva que, longe de resolver nossos problemas, certamente os agravará", defendem as entidades no manifesto.

'Eleições legítimas'

O grupo destaca as credenciais do setor, como a geração de milhares de empregos e forte participação na economia, para cobrar que "nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua história".

O texto ainda diz que as mais de três décadas de trajetória democrática do país, ainda que com percalços, são marcadas por conquistas e avanços sob a "alternância de poder em eleições legítimas e frequentes".

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As entidades seguem argumentando que para o desenvolvimendo socioeconômico do país ser efetivo e sustentável é pré-requistio haver tranquilidade na caminhada civilizatória para formação de uma sociedade fraterna, "que reconhece a maioria sem ignorar as minorias, que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos".

 

Aeródromo de Barreiras. Local abriga aproximadamente 120 aeronaves Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Número de voos em aeronaves executivas cresceu 27,3% nos primeiros cinco meses de 2021, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo Abag Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Cerca de 40 pousos e decolagens ocorrem por dia no aeródromo de Barreiras Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Aeródromo de Barreiras. Alta demanda impulsiona escola para pilotos e oficina para manutenção de aeronaves Foto: PABLO JACOB / Agência O Globo
Aeronaves vão de ultraleves a jatinhos, cujos preços chegam a US$ 5,5 milhões. Na foto, Kleber Rebouças Rangel, fundador da Associação Barreirense Aerodesportiva (ABA), responsável pelo condomínio do pequeno aeroporto local de Barreiras Foto: PABLO JACOB / Agência O Globo

Leia a íntegra da nota do agronegócio

"As entidades associativas abaixo assinadas tornam pública sua preocupação com os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como consequência, à estabilidade econômica e social em nosso país.

Somos responsáveis pela geração de milhões de empregos, por forte participação na balança comercial e como base arrecadatória expressiva de tributos públicos. Assim, em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua história agora prestes a celebrar o bicentenário da Independência.

A Constituição de 1988 definiu o Estado Democrático de Direito no âmbito do qual escolhemos viver e construir o Brasil com que sonhamos. Mais de três décadas de trajetória democrática, não sem percalços ou frustrações, porém também repleta de conquistas e avanços dos quais podemos nos orgulhar. Mais de três décadas de liberdade e pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas e frequentes.

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O desenvolvimento econômico e social do Brasil, para ser efetivo e sustentável, requer paz e tranquilidade, condições indispensáveis para seguir avançando na caminhada civilizatória de uma nacionalidade fraterna e solidária, que reconhece a maioria sem ignorar as minorias, que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos. Acima de tudo, uma sociedade que não mais tolere a miséria e a desigualdade que tanto nos envergonham.

As amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim, para poder trabalhar. Em uma palavra, é de liberdade que precisamos — para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e comercializar, no Brasil e no exterior.

É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora essencial numa economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva que, Ionge de resolver nossos problemas, certamente os agravará.

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Somos uma das maiores economias do planeta, um dos países mais importantes do mundo, sob qualquer aspecto, e não nos podemos apresentar à comunidade das Nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais.

O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter.

A moderna agroindústria brasileira tem história de sucesso reconhecida mundo afora, como resultado da inovação e da sustentabilidade que nos tornaram potência agroambiental global.

Somos força do progresso, do avanço, da estabilidade indispensável e não de crises evitáveis. Seguiremos contribuindo para a construção de um futuro de prosperidade e dinamismo para o Brasil, como temos feito ao longo dos últimos anos. O Brasil pode contar com nosso trabalho sério e comprovadamente frutífero."