Economia

Amazon supera Walmart em vendas e planeja abrir lojas de departamento nos EUA

De acordo com o Wall Street Journal, gigante do e-commerce quer ter uma presença maior no varejo físico para vender roupas e utensílios domésticos e facilitar trocas
Um centro de distribuição da Amazon em Staten Island, em Nova York. Gigante do e-commerce ultrapassou o Walmart em vendas Foto: Dave Sanders/The New York Times
Um centro de distribuição da Amazon em Staten Island, em Nova York. Gigante do e-commerce ultrapassou o Walmart em vendas Foto: Dave Sanders/The New York Times

NOVA YORK — A Amazon está planejando abrir grandes lojas físicas de varejo nos Estados Unidos que irão operar como lojas de departamentos, segundo reportagem do Wall Street Journal publicada nesta quinta-feira.

A mudança de estratégia da gigante do e-commerce, que sempre focou no comércio eletrônico, vem na estreira do seu crescimento: a Amazon acaba de passar o Walmart em vendas, considerando os varejistas que atuam fora da China.

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Citando fontes familiarizadas com os planos, o WSJ informou que algumas das primeiras lojas de departamentos da Amazon deverão ser abertas na Califórnia e em Ohio, terão cerca 2,8 mil metros quadrados e oferecerão produtos de marcas de consumo bem conhecidas.

De acordo com as fontes, os espaços físicos da Amazon terão uma pegada semelhante aos formatos reduzidos que a Bloomingdale's, Nordstrom e outras redes de lojas de departamento começaram a abrir.

Impulso da imunização

Com a pandemia,  gigantes do comércio eletrônico têm se beneficiado de um aumento nas compras on-line. No entanto, as vacinas agora estão encorajando mais consumidores americanos a voltar às lojas físicas para comprar roupas, calçados e eletrônicos.

Nos últimos anos, a Amazon comprou a Whole Foods Market e abriu livrarias físicas, supermercados da marca Amazon e lojas de conveniência com sistema de auto-atendimento, as Amazon Go, em pelo menos 13 estados dos EUA, incluindo Califórnia, Colorado e Washington.

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Apesar de as lojas físicas terem custos fixos mais elevados, podem atrair mais olhos e permitir que os consumidores experimentem as roupas, por exemplo. A Amazon vende muitos produtos, incluindo itens de vestuário, móveis, baterias e dispositivos eletrônicos por meio de muitas de suas próprias marcas.

Loja Amazon Go: numa reviravolta de sua estratégia de negócios, gigante do e-commerce planeja abrir lojas físicas nos EUA Foto: The New York Times
Loja Amazon Go: numa reviravolta de sua estratégia de negócios, gigante do e-commerce planeja abrir lojas físicas nos EUA Foto: The New York Times

A notícia teve um efeito cascata em todo o setor de varejo, atingindo principalmente as ações das grandes rivais. Os papéis da Target, Bed Bath & Beyond e Best Buy caíram cerca de 1,5% no pré-mercado de Nova York, enquanto as ações do Walmart caíram cerca de 1%.

Este ano, as ações da Amazon caíram mais de 1%, dando a ela um valor de mercado de US$ 1,59 trilhão.

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Mudança de estratégia

Os planos da Amazon representam uma reviravolta na estratégia da gigante do comércio eletrônico, que tem feito esforços recentemente para entrar no varejo tradicional, depois de anos conquistando participação de mercado das grandes operadoras.

Impulsionadas em parte pelo aumento da demanda durante a pandemia, as pessoas gastaram mais de US$ 610 bilhões na Amazon nos 12 meses até junho, de acordo com estimativas de Wall Street compiladas pela empresa de pesquisa financeira FactSet.

O Walmart, por sua vez,  divulgou vendas de US$ 566 bilhões no mesmo período.

Um funcionário da Amazon classifica os itens nas prateleiras de um depósito da empresa em Staten Island, em Nova York Foto: Chang W.Lee/ The New York Times
Um funcionário da Amazon classifica os itens nas prateleiras de um depósito da empresa em Staten Island, em Nova York Foto: Chang W.Lee/ The New York Times

De acordo com reportagem do New York Times,  ao ultrapassar o Walmart, a Amazon destronou uma das empresas mais bem-sucedidas das últimas décadas. O Walmart aperfeiçoou um modelo próspero de varejo que extraiu cada centavo possível de seus custos, o que derrubou os preços e derrotou os concorrentes.

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Mas, mesmo assim, a busca para dominar o ambiente de varejo de hoje está sendo conquistada na Internet. E nenhuma empresa tirou melhor vantagem disso do que a Amazon.

Na verdade, a entrega da empresa (muitos itens chegam à sua porta em um ou dois dias) e a ampla seleção atraíram os clientes para as compras on-line, e os manteve comprando mais lá desde então. Isso também fez de Jeff Bezos, o fundador da empresa, uma das pessoas mais ricas do mundo.

— É um momento histórico.  O Walmart existe há muito tempo, e agora a Amazon chega com um modelo diferente e o substitui como número 1 — disse Juozas Kaziukenas, fundador da Marketplace Pulse, uma empresa de pesquisa.

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Com o sucesso da Amazon, veio um maior escrutínio. E a empresa começou a receber muitas das mesmas reclamações que o Walmart enfrentou durante seus maiores períodos de expansão, há mais de uma década: sobre o tratamento que dá aos trabalhadores e o impacto nas economias local e nacional.

— Agora, o Lobo Mau é a Amazon — disse Barbara Kahn, professora de marketing da Wharton School of Business da Universidade da Pensilvânia, que escreveu vários livros sobre varejo.

Outras grandes do varejo

A loja original fundada por Sam Walton na praça em Bentonville, Arkansas, Foto: Terra Fondriest / The New York Times
A loja original fundada por Sam Walton na praça em Bentonville, Arkansas, Foto: Terra Fondriest / The New York Times

Ao longo do último século, muito poucas empresas poderiam reivindicar o direito de ser o maior varejista do mundo. A rede de supermercados A&P foi uma força tão forte que as autoridades antitruste a perseguiram na década de 1940.

A Sears ultrapassou a A&P como a maior varejista no início da década de 1960, visando os consumidores da classe média nos subúrbios e expandindo o modelo de loja de departamentos.

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Então veio o Walmart. Em 1962, Sam Walton fundou o varejista na pequena cidade de Arkansas. Walton tinha “uma verdadeira paixão — alguns diriam obsessão — para vencer”, escreveu ele em sua autobiografia, e vendeu uma enorme variedade de produtos a preços baixos, inclusive alimentos frescos.

Mas sua verdadeira inovação foi construir uma vasta rede de logística que operou com tanta precisão e eficiência que esmagou muitos concorrentes.

Na década de 1990, o Walmart havia ultrapassado a Sears. E então continuou crescendo, abrindo milhares de lojas e adquirindo outros varejistas em todo o mundo.

Assim como Walton fundou o Walmart enquanto a Sears estava em ascensão, Bezos fundou a Amazon no início dos anos 1990 quando o Walmart era o rei do pedaço.