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Economia Reforma tributária

Anúncio de reforma do IR foi ‘apressado’ para concorrer com noticiário da CPI da Covid, diz vice da Câmara

Segundo Marcelo Ramos, parlamentares ainda não tiveram acesso ao texto, apesar de pontos da proposta já terem sido oficialmente divulgados pelo Ministério da Economia
Anúncio de reforma do IR foi ‘apressado’ para concorrer com noticiário da CPI da Covid, diz vice da Câmara Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Anúncio de reforma do IR foi ‘apressado’ para concorrer com noticiário da CPI da Covid, diz vice da Câmara Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

BRASÍLIA - O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), criticou nesta sexta-feira a demora do governo em apresentar o texto final do projeto de lei que reformula as regras do Imposto de Renda (IR).

Segundo Ramos, a proposta ainda não foi apresentada formalmente aos parlamentares e a avaliação é que o anúncio foi apressado para concorrer com o noticiário da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que ouve nesta sexta-feira depoimento do servidor do Ministério da Saúde que relatou ter sofrido pressões para agilizar a importação da vacina Covaxin.

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— O que deixa claro para mim é que esse anúncio de hoje foi apressado com único objetivo de concorrer no noticiário com a CPI — afirmou Ramos ao GLOBO, destacando que o texto “não existe”.

A entrega simbólica do projeto de lei foi realizada na manhã desta sexta-feira pelos ministros Paulo Guedes (Economia), Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo) ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Na sequência, técnicos do Ministério da Economia concedeu uma entrevista coletiva para detalhar a proposta. A pasta informou que só divulgará o projeto quando o material fosse protocolado junto à Câmara, o que ainda não havia ocorrido até as 15h desta sexta.

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Na quinta-feira, nos bastidores, integrantes da base do governo trabalhavam para adiar a apresentação da proposta de reforma para segunda-feira, mas a ideia não teria sido aceita pelo ministro Paulo Guedes.

Faixa de isenção pode subir no Congresso

O teor dos pontos principais apresentados pelo governo também já é alvo de críticas. O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (sem partido-RJ), crítico frequente de Guedes e do governo de Jair Bolsonaro, disse que o projeto vai representar aumento de carga tributária para médias e grandes empresas.

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Segundo ele, a proposta precisa ser amplamente discutida no Congresso, que tem adotado rito acelerado de tramitação e em sistema semipresencial dos parlamentares.

— Limitar a isenção (na taxação de dividendos em R$ 20 mil) beneficia só pequena empresa, o que é um erro porque ninguém vai querer crescer. Por mais que o governo negue, vai haver aumento de carga para médias e grandes empresas — disse Maia.

Na avaliação dele, a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda é politicamente positiva e a tendência é que o Congresso aumente o limite de R$ 2,5 mil proposto pelo Executivo.

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O deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) classificou o projeto do governo de remendo tributário e disse que o texto vai resultar em aumento de carga. Segundo ele, diante da complexidade da proposta, há possibilidade de o Congresso aprovar apenas o aumento da faixa de isenção.

— Não vejo condições dessa proposta avançar no Congresso do jeito que está. Quando começarem a se dissecar os impactos por setores, boa parte do projeto deve cair. As empresas que estão no lucro presumido e são muitas, passarão a pagar mais imposto — disse o deputado, que foi relator da reforma tributária engavetada no Congresso.

Segundo ele, somente uma ampla reforma evitaria aumento de carga tributária. O principal problema do Brasil é a tributação sobre o consumo, disse.

Ele mencionou que o governo poderia usar o excesso de arrecadação para corrigir a tabela do IR sem precisar sacrificar setores da economia — uma receita utilizada no passado.

'Sempre há espaço para guerra política', diz líder do governo

O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), admitiu que a matéria é delicada ao abranger as fontes de compensação para o alívio no imposto de renda de pessoas físicas e empresas e considerou natural a repercussão negativa de tributaristas.

Destacou, no entanto, que a maioria dos parlamentares deve votar a favor da proposta que tem apelo popular em ano pré-eleitoral.

— As partes contrariadas vão se posicionar e na primeira fase, sempre há espaço para a guerra política. Mas o governo tem saído vitorioso na votação de reformas importantes para o país — disse Gomes.

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Ele mencionou que os próximos passos são a escolha do relator que deve ter afinidade ao tema e a forma de tramitação da proposta. Será definido se a discussão se dará direto no plenário ou se passará por uma comissão especial.

Segundo ele, a ideia é aprovar a proposta até setembro ou outubro nas duas Casas.