Economia

Aos 81 anos, brasileiro Jorge Paulo Lemann deixará o Conselho da gigante global de alimentos Kraft Heinz

Bilionário ajudou a criar conglomerado com Warren Buffet e alega que 'decidiu reduzir seus compromissos com viagens'. Grupo se recupera de crise desde 2019
Jorge Paulo Lemann Foto: Scott Olson / Getty Images
Jorge Paulo Lemann Foto: Scott Olson / Getty Images

NOVA YORK - Jorge Paulo Lemann está deixando o Conselho de Administração da Kraft Heinz Co., a gigante que ele ajudou a montar com Warren Buffett e que desde então perdeu metade de seu valor.

Lemann deixou o conselho, o último que ocupava, por razões pessoais, para reduzir o número de viagens.

Um dos fatores que contou para a decisão foi a chegada de Miguel Patrício ao cargo de CEO da empresa. Desde março, as ações subiram mais de 50%. A companhia encerrou 2020 com receitas de US$ 26,185 bilhões, uma alta de 4,8% em relação ao ano anterior. O mercado reagiu positivamente ao último balanço da companhia.

O executivo disse que planeja permanecer um investidor de longo prazo na empresa, apesar da saída.

A fortuna de Lemann é avaliada em US$ 22 bilhões, de acordo com o Índice Bloomberg Billionaires, o que o torna a pessoa mais rica do Brasil.

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Como cofundador da empresa de private equity 3G Capital Partners, Lemann, de 81 anos, orquestrou alguns dos maiores negócios da História. Ele tem participações na Anheuser-Busch InBev NV, a maior cervejaria do mundo, e na Restaurant Brands International, empresa por trás do Burger King.

Em 2015, ele se juntou a Buffett e criou a Kraft Heinz por meio de uma fusão. A 3G Capital, que detém participação de 20% na empresa, indicará o substituto de Lemann. A Berkshire Hathaway, de Buffet, tem cerca de 27%.

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Nos últimos anos, porém, a receita clássica de corte de custos, marca da 3G Capital, havia parado de surtir efeito na Kraft. Em 2019, a empresa fez uma baixa contábil de US$ 15 bilhões, que provocou uma mudança na estratégia. O próprio Lemann afirmou, na época, que “o grande sonho” que tinha para a Kraft Heinz não dera certo.

Em um evento em 2019, após nomear Patrício para o cargo de CEO da empresa, ele afirmou que não era mais possível construir algo no negócio de alimentos como havia feito no setor de cervejas e prometeu rever a estratégia.

— Não é mais possível construir algo no negócio de alimentos como fizemos no negócio de cerveja. Tentamos, não deu certo e vamos consertar — ele prometeu em evento em 2019, após nomear o executivo de longa data da AB Inbev, Miguel Patricio, como CEO.

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A empresa, no entanto,  se recuperou recentemente, em parte devido à pandemia Covid-19, quando pessoas em todo o mundo estocaram suas despensas com alimentos embalados. As ações subiram mais de 50% desde março passado.

Quinta do mundo

A Kraft Heinz, multinacional de alimentos sediada em Chicago, EUA é atualmente a 5ª maior empresa de alimentos e bebidas do planeta, resultante da fusão da Kraft Foods com a Heinz. Seus ativos totais são da ordem de US$ 99,8 bilhões, e além das marcas-chave, ela é dona de dezenas de outras, como o cream cheese Philadelphia, a gelatina Jell-O, as bebidas Kool-Aid, e muitas outras.

A Kraft Heinz vendeu recentemente várias marcas que estão sujeitas a flutuações de preços de commodities. Em fevereiro, vendeu a empresa de amendoim e salgadinhos Planters para a Hormel Foods por US$ 3,35 bilhões e no ano passado vendeu parte de seu negócio de queijos para o grupo francês Lactalis por US$ 3,2 bilhões em um esforço para sustentar seu caixa, reduzir sua dívida reinvestir em novas áreas. A estratégia de recuperação foi liderada por Miguel Patricio.

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O empresário suíço-brasileiro tem seis filhos, alguns deles também servindo no conselho de algumas de suas empresas, como a varejista brasileira Lojas Americanas SA.

Em comunicado, Michael Mullen, vice-presidente sênior de Assuntos Corporativos da Kraft Heinz, comentou a saída de Lemann. “A empresa agradece Jorge Paulo Lemann por suas inúmeras contribuições inestimáveis para a Kraft Heinz, que terão um impacto duradouro nos próximos anos”.

No ano passado, Lemann comentou sobre seu estilo de fazer negócios:

— O que eu gosto mais, francamente, é que toda crise é cheia de oportunidades. Todas as crises que eu passei foram duras, eu sofri, não sabia muito bem como iria chegar ao fim, mas alguma oportunidade apareceu — contou Lemann, em conferência organizada pelo Fórum da Liberdade, da qual também participaram os empresários Roberto Setubal (Itaú Unibanco), José Galló (Renner) e David Vélez (Nubank).

Os investimentos do empresário

Setor de alimentos

Kraft-Heinz, a quinta multinacional de alimentos do mundo, é dona de marcas conhecidas como o cream cheese Philadelphia, a gelatina Jell-O, as bebidas Kool-Aid, entre outras.

Fast-food

A rede Burger King, hoje parte da Restaurant Brands International, é um dos principais negócios na área. Há ainda a rede de fast-food americana Popeyes.

Bebidas

AB InBev, responsávei por 630 marcas de cerveja em 150 países, de Budweiser a Brahma e Antarctica.

Varejo

Lojas Americanas, adquiridas nos anos 1980.

Educação

Eleva Educação, que recentemente fechou a compra de 51 escolas operadas pela Cogna, como pH, Pitágoras e Leonardo Da Vinci.

Idiomas

Spot Educação, holding de educação complementar do Gera Venture Capital, em que Lemann investe, fechou a venda da operação da Cultura Inglesa no Rio e em outros quatro estados.

Start-ups

O fundo Innova Capital investe em start-ups e pôs dinheiro na Movile (dona do iFood).

Fundações

A Fundação Estudar busca despertar o potencial de jovens brasileiros através da formação de uma comunidade de líderes.

A Fundação Lemann é uma organização sem fins lucrativos que busca melhorar a qualidade da educação pública no Brasil através de diversos projetos.

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